quinta-feira, 30 de novembro de 2006

Carta ao Amigo Ausente para Sempre

Saudoso Irmão!

Sei bem que estas linhas são razão suficiente para que te ocorram, pelo menos, duas interrogações: se terei perdido o juízo, ou se foi a minha fé positivista que me abandonou.

É a ti que me dirijo, são para ti estas palavras. Não estranhes esta minha atitude. Não é nem a carta, que nunca poderei enviar-te, nem a página do diário que, bem sabes, nunca mantive. Nestes últimos dias tenho pensado muito no que te quero dizer. Se tivesse apontado tudo o que me ocorreu, decerto teria matéria para um longuíssimo texto. Mas tal não é possível. Não tenho todo o tempo do mundo.

Decorreram anos – muitos – desde que nos vimos pela última vez. Custa-me muito a acreditar, agora ainda, que assim é. Depois daquele Natal e daquele Ano Novo, ficámos limitados a uns poucos contactos, não menos importantes por isso. Mas conversas como as que transformavam as noites em dias infindáveis nunca mais pôde haver. Nunca mais tive um interlocutor que se te pudesse comparar. É egoísta da minha parte dizer‑te isto assim, mas é verdade.


As amizades da idade adulta são com frequência enganosas. Não porque haja a intenção deliberada de abandonar o outro ou de o trair. Mas compreendo mal a volubilidade das relações de hoje em dia. De início, as atenções, os cuidados e as preocupações são desproporcionados numa relação que mal começou. Pouco depois, porém, o que se afigurava ser já uma amizade, de repente, redunda num mero conhecimento de circunstância, como se apenas uma curiosidade inconsequente tivesse norteado os passos subsequentes ao primeiro encontro, como quem diz "Conheci-te como quem experimenta uma peça de roupa, mas não gostei muito do efeito". Mas uma amizade da infância ou da adolescência, por força da longa convivência, está ao abrigo dos enganos e das desilusões, e chegar a adulto com uma, uma só que seja, é além do mais uma prova de transparência, de despojamento e de dedicação por parte daqueles que há muito aprenderam a estimar-se. E é por tudo isto – e muito mais – que a tua ausência é tanto mais difícil de suportar.

Neste dia em que a tua ausência é especialmente e dolorosamente pesada, recorro a textos teus, para que o desgosto seja menor. Estou grato a uma eventual força superior por esta minha característica de não me desfazer das coisas com facilidade. Neste caso, é uma virtude. Cartas, postais, bilhetes teus, tudo eu fui guardando, impelido sei lá por que premonição, sem outro propósito que não fosse o de não me desfazer daquilo que fora escrito em minha intenção e que eu por isso muito prezava. Ao ler aquelas cartas, percebo melhor os caminhos que a nossa amizade percorreu e refaço‑os de memória. Sempre que a tua ausência pesa, é maior o consolo que elas me trazem, e sinto também uma serena alegria por conseguir entender melhor o que, de início, me pareceu incompreensível para todo o sempre: a tua partida.

Naquela tarde luminosa, a última, despedimo-nos com um "Até amanhã". Estávamos ambos ausentes de nós próprios pelo peso daquele momento. Nem tu quiseste dizer adeus, nem eu me apercebi de que chegara a hora derradeira. Tudo pareceu parar. Digo bem, pareceu. Nada mais enganoso que ter pensado que o silêncio seria, de então em diante, absoluto. Ao longo de todos estes anos, poucos terão sido os dias em que não me tenha lembrado de um ou outro momento vivido por nós. Em que não me tenha parecido que continua a haver entre nós uma espécie qualquer de comunicação. Em que a saudade não tenha sempre aumentado.

O absurdo do fim ainda hoje me consome. Cheguei a crer que nunca mais voltaria a articular palavra, tão longo e tão profundo foi o mutismo a que me fui remetendo. Habituei-me ao silêncio. A escutá-lo e a vivê-lo. Vezes sem conta tenho ainda tentado desvendar os sinais que, de um ou de outro modo, iluminam os dias, abrem os caminhos e quebram os silêncios. Em vão. Não parece que eu tenha sido dotado daquela capacidade que permite a muitos navegarem à bolina pela vida fora, sem demais preocupações. Tudo o que antes fora força e ânimo, é, ainda hoje, desde então, debilidade e desnorte.

Por muito que isso te admire, tenho pensado na possibilidade de um encontro. Quero acreditar que é possível, que há forma de nos encontrarmos. Que te verei como te via naquelas noites infindas de conversas sem fim. Não consigo deslindar se estou perante um desiderato, se um desígnio. Se esta minha ideia é um desiderato, então, se eu desejar intensamente com todas as forças que possa convocar, o nosso encontro será certo. Dependerá sobretudo da intensidade do meu desejo. E se for um desígnio? Neste caso, a minha ideia será um plano e, a sê‑lo, se for devidamente desenvolvido e aplicado, concretizar-se-á. Esta é a palavra que me agrada e me tranquiliza.

No final daquela tarde luminosa em que conversámos fugazmente pela última vez, estávamos ambos ausentes de nós próprios. Será que esse ínfimo instante marcou o lugar onde um dia o nosso encontro se concretizará? Estou em crer, não sei porquê, que nos encontraremos em breve, ainda que este breve se meça por outro relógio em que não sei ver as horas.

Vale – e muito – esta experiência de me poder dirigir a ti, meu saudoso Irmão. Noutro contexto, o que não diriam deste texto e de quem o escreveu?…

Até amanhã.
Até sempre.

PS - Sei que tens saudades dos dias em que festejávamos o teu aniversário.
Hoje, fazemo‑lo de outra forma: recordamo‑los. E assim estamos contigo.

Faz hoje 48 anos que nasceu o meu melhor amigo Z. L.
Fez 13 anos no passado dia 8 de Abril que o Z. L. morreu.

RIC

quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Just a romantic stroll...







Allow yourself some fantasy and let yourself be guided by your imagination while wandering about a few inviting corners and landscapes of Lisbon, Princess of the Tagus...
It's definitely time for romance. Just let yourself go. I'm sure you'll fall in love...

RIC

terça-feira, 28 de novembro de 2006

Pour faire le portrait d'un oiseau...

A Elsa Henriquez

Peindre d'abord une cage
avec une porte ouverte
peindre ensuite
quelque chose de joli
quelque chose de simple
quelque chose de beau
quelque chose d'utile
pour l'oiseau
placer ensuite la toile contre un arbre
dans un jardin
dans un bois
ou dans une forêt
se cacher derrière l'arbre
sans rien dire
sans bouger…
Parfois l'oiseau arrive vite
mais il peut aussi mettre de longues années
avant de se décider.
Ne pas se décourager
attendre
attendre s'il le faut pendant des années
la vitesse ou la lenteur de l'arrivée de l'oiseau
n'ayant aucun rapport
avec la réussite du tableau.
Quand l'oiseau arrive
s'il arrive
observer le plus profond silence
attendre que l'oiseau entre dans la cage
et quand il est entré
fermer doucement la porte avec le pinceau
puis
effacer un à un tous les barreaux
en ayant soin de ne toucher aucune des plumes de l'oiseau.
Faire ensuite le portrait de l'arbre
en choisissant la plus belle de ses branches
pour l'oiseau
peindre aussi le vert feuillage et la fraîcheur du vent
la poussière du soleil
et le bruit des bêtes de l'herbe dans la chaleur de l'été
et puis attendre que l'oiseau se décide à chanter.
Si l'oiseau ne chante pas
C'est mauvais signe
signe que le tableau est mauvais
mais s'il chante c'est bon signe
signe que vous pouvez signer.
Alors vous arrachez tout doucement
une des plumes de l'oiseau
et vous écrivez votre nom dans un coin du tableau.

Para fazer o retrato de um passarinho

Pintar primeiro uma gaiola / com uma porta aberta / pintar em seguida / algo de bonito / algo de simples / algo de belo / algo de útil / para o passarinho / pendurar a tela numa árvore / num jardim / num bosque / ou numa floresta / esconder-se atrás da árvore / sem nada dizer / sem se mexer… / Às vezes o passarinho chega depressa / mas também pode demorar muitos anos / a decidir‑se / não desanimar / esperar / esperar se preciso for durante anos / a rapidez ou a lentidão da chegada do passarinho / não tem nenhuma relação / com o êxito do quadro / quando o passarinho chegar / se ele chegar / observar o mais profundo silêncio / esperar que o passarinho entre na gaiola / e quando ele entrar / fechar calmamente a porta com o pincel / depois / apagar uma a uma todas as grades / tendo o cuidado de não tocar nenhuma das penas do passarinho / fazer em seguida o retrato da árvore / escolhendo o mais belo de seus galhos / para o passarinho / pintar também a verde folhagem e a frescura do vento / a poalha do sol / e o ruído dos bichos do campo no calor do Verão / e depois esperar que o passarinho se decida a cantar / se o passarinho não cantar / é mau sinal / sinal de que o quadro é mau / mas se ele cantar é bom sinal / sinal de que pode assiná-lo / então arranque muito suavemente / uma das penas do passarinho / e escreva o seu nome num canto do quadro.

RIC com base na tradução (provisória) de Leo Gonçalves, Salamalandro

© José Carlos P. Pereira

To paint the portrait of a bird

Paint first a cage with an open door / then paint inside the cage / something nice / something simple / something beautiful / something useful / to the bird / Place the canvas against a tree / in a garden, / a wood, / or a forest / and hide behind the tree / without speaking or moving. / Maybe the bird will arrive quickly, / but it could take years. / Don't be discouraged. Wait. / Wait all the years if need be: / the bird's quickness or slowness / will not affect the success of the painting. / When the bird arrives, / if it does, / be completely silent and wait / until it enters the cage / then softly close the door / with the paintbrush. / Erase one by one the bars / and, being careful not to touch / the bird's feathers, / paint the tree, choosing / the best of its branches / for the bird to perch on. / Paint also the foliage / and the cool breeze and the rays of the sun; / paint the sounds of the animals, / the plants, the summer warmth. / Then wait until the bird decides / to sing or not to sing: / if not, it is a bad sign / and to sign the portrait is bad, / but singing is a good sign / very softly, pluck a feather / from the bird and write your name / in a corner of the canvas.

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

II. Christmas...? Really?!


«I'm always the first one to say things for the second time».
Jean Cocteau

So am I, I think, but I don't care much about it. As it stands in my so‑called profile, I'm "unique but not original".

Within one month, Christmas will be over. I'm anticipating that day already. And I'll be glad at last. Till then I shall have to put up with the season's nonsense show: crazy hysteria, obscene consumerism, cretin commercials all over and at all times, ugly, ridiculous lights everywhere (some of them on since October!), inappropriate music playing out loud everywhere, and so on, and so forth. Shamelessly.

Only two verbs matter these days: buy and sell, and all their possible, thinkable synonyms. Instead of "to be" you feel compelled to conjugate the verb "to have". "The more you have, the more you are" seems to be the rule. Perhaps. Not for me though, thank you so very much.

My little corner of the world will be my safe refuge, my desert island. Till then I'll seek shelter in my inner world. There's so much to go through, again and again. I don't need more stupid goods. I have plenty as long as I'm at peace with myself and my fellow creatures. I pity today's children. They'll never know what true Christmas is really like.

Where has my childhood's Christmas gone to?
Who stole it from me? From us all?
Who turned it into a carnival, into a cheap porn show?
Lost.
Forever.

"Eight hundred fifty million – 850,000,000 – people, fellow creatures of mine, of us all, hunger everyday." In our 21.st century's world of abundance. Most of them face a death sentence that sooner or later will be mercilessly executed.

Don't talk to me about Christmas. I don't want to hear.


RIC

I. Adeus, Mário Cesariny...

"Na poesia não há rankings, como no futebol.
Cada poeta é uma voz singular, mas Cesariny está, indiscutivelmente, entre os maiores poetas portugueses de sempre.
"Pena Capital" é um livro que marcou a poesia portuguesa do século XX.
Cesariny era um homem livre."

Manuel Alegre

"Il pleure dans mon cœur
Comme il pleut sur la ville."

Paul Verlaine, Romances sans paroles (1874)

domingo, 26 de novembro de 2006

O riso e a inteligência...

É muito antiga a tradição satírica da literatura portuguesa: ela remonta aos cancioneiros medievais, coevos da fundação da nacionalidade, com deliciosas cantigas, umas de escárnio e outras de maldizer.
O século XVIII não descurou esta tradição, e além de Bocage – vulto maior do nosso Pré‑romantismo, popularizado por tantas anedotas que afinal não são da sua autoria –, outros se celebrizaram pelos seus dotes satíricos, ao lançarem um olhar crítico e demolidor sobre hábitos da sociedade portuguesa setecentista.
Há alguns dias, ao ler uma citação de Correia Garção, lembrei‑me de outras figuras das letras portuguesas daqueles tempos, entre as quais está o grande Nicolau Tolentino de Almeida (Lisboa, 10.IX.1740 - 23.VI.1811) e a sua deliciosa poesia satírica. Além de "Deitando um cavalo à margem", o "soneto do colchão" é uma pérola que ninguém pode desconhecer. É já um claro sinal de uma certa modernidade literária que viria a desabrochar, mais tarde, com os românticos.
Leiam, riam e, aqueles que têm jeito para poetar, imitem.
Não há mal nenhum nisso; mal haverá se esta tradição não for cultivada.


O Colchão dentro do Toucado

Chaves na mão, melena desgrenhada,
Batendo o pé na casa a mãe ordena
Que o furtado colchão, fofo e de pena,
A filha o ponha ali, ou a criada.

A filha, moça esbelta e aperaltada,
Lhe diz co'a doce voz que o ar serena:
– Sumiu-se-lhe um colchão, é forte pena;
Olhe não fique a casa arruinada…

– Tu respondes assim? Tu zombas disto?
Tu cuidas que, por ter pai embarcado,
Já a mãe não tem mãos? E, dizendo isto,

Arremete-lhe à cara e ao penteado;
Eis senão quando – caso nunca visto! –
Sai-lhe o colchão de dentro do toucado.

sábado, 25 de novembro de 2006

Da Língua Portuguesa (2)


"Ein jeder, weil er spricht, glaubt, auch über die Sprache sprechen zu können."

Qualquer um, porque fala, julga que também sabe falar sobre a língua.

Johann Wolfgang von Goethe

Da estultícia nacional revelando‑se em torno de uma TLEBS…

Quando há já algum tempo escolhi esta reflexão de Goethe para epígrafe desta rubrica, longe estava eu de imaginar que ela se aplicaria tão certeiramente a mais uma pseudopolémica que rebentou na casa portuguesa. E desta vez, ninguém se retraiu de se atirar ao assunto como gato a bofe. Nem mesmo aqueles que em regra optam pelo perfil discreto por falsa modéstia.

Nunca me dei conta de que alguém "com tempo de antena reservado" ou espaço cativo na imprensa escrita se pusesse a vociferar contra uma qualquer actualização de uma nomenclatura ou terminologia científica. Todos sabemos que elas têm mudado. E quanto. Da História à Biologia, passando pela Geografia, Física e Química, para referir apenas algumas áreas mais comuns do saber.

E aqui está o cerne da questão: as áreas são comuns, vulgares, conhecidas de todos; os saberes que as integram, não. Onde está então o texto de protesto, o abaixo‑assinado, o inflamado artigo de opinião, o comentário despropositado e estulto contra o "horror de agora as criancinhas e os jovens terem de passar a saber o que é o ácido desoxirribonucleico e o ácido ribonucleico, demoníacos palavrões cunhados por mente tarada"? Ou sobre a chatice de se ter de saber o que é uma hipotenusa e um cateto? Ou essa coisa das mitocôndrias? Ou os ecossistemas? Não, pois não?

Ao invés, quando se trata da Língua Portuguesa e áreas afins, todo e qualquer bicho careta analfabeto se julga com o direito inalienável – porque aqui nasceu e aprendeu a falar – de expender as mais descabidas e abjectas considerações e opiniões. Porque sim. Até humoristas de muito duvidoso talento se acham no direito de opinar sobre o que, obviamente, não fazem a mínima ideia do que possa tratar‑se. Não é de todo admissível que, a coberto de se ser humorista, se falte ostensivamente ao respeito – o já omnipresente problema do Portugal democrático – a profissionais, quando olimpicamente se ignora o assunto sobre o qual, todavia, se teima em opinar. E assim é publicada uma coisa intitulada "Metam os epicenos no advérbio disjunto"…

Ser Maria‑vai‑com‑as‑outras é um hábito muito português. Se alguém ocupando uma posição de destaque sai à liça para a useira e vezeira maledicência, logo dois ou três lhe seguem os passos. É tentação bem mais forte do que parar para reflectir, pedir conselho, sondar opiniões, recolher informação, documentar-se, ler, enfim, ser intelectualmente honesto. Pois, é verdade… Neste nosso País, são atitudes e comportamentos muito pouco comuns… Muito pouco epicenos…

De repente, todos conhecem o conteúdo da Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário (TLEBS)! E todos "sabem" que ela não presta! E todos se amofinam muito, apenas porque aquilo que aprenderam in illo tempore de acordo com a Nomenclatura Gramatical Portuguesa de 1967 já não é o que era. E uma corja de velhos do Restelo levanta‑se das tumbas.

A Linguística Geral surge na Europa em 1916, com o Cours de Linguistique Générale, de Ferdinand de Saussure, mas é só depois da II Guerra Mundial que a investigação pura e dura se desenvolve, quase em simultâneo, na Europa e nos Estados Unidos. Em Portugal, são os trabalhos pioneiros do Prof. Luís Filipe Lindley Cintra que lançam as bases da Linguística Portuguesa, num esforço para se emancipar da tradição filológica. É pois muito natural que uma nomenclatura gramatical herdada de duas línguas mortas – o Grego clássico e o Latim –, com características estruturais bem diferentes das reveladas hoje pelas línguas ocidentais entre as quais se conta o Português, se revele obsoleta e desadequada à descrição cabal dos fenómenos e estruturas dos idiomas modernos.

Qual é então a razão de tanto espanto e de tanto torcer de narizes àquilo que todos nós deveríamos – e devemos – esperar e exigir da actividade científica? Que investigue, que estude, que descreva e que explique. "Na Natureza, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma." E, no entanto, a lei de Lavoisier tal como inicialmente foi proposta não se verifica. Será que os nossos velhos do Restelo marchariam de bom grado sobre França para redecapitarem o malogrado cientista?

A primeira razão de tudo isto é simples: a ignorância. A segunda: a presunção. A terceira: o imobilismo atávico. Que mal virá às crianças portuguesas se aprenderem o que é um conector e um quantificador? Julgamo-las assim tão ignorantes e desinteressadas que não compreendam o que significa o verbo "ligar" ou o substantivo "quantidade"? Ou já virão do berço a saber o que é uma multiplicação? Ignorantes e desinteressados são os adultos, que nesta pseudopolémica deram, mais uma vez, provas de não quererem evoluir. Aliás, não foi a OCDE que revelou que 60% dos portugueses activos consideram desnecessária a formação contínua por acharem que já sabem tudo o que têm de saber para o seu desempenho profissional?

Toda a obra humana é mutável. E ainda bem, porque, se assim não fosse, seríamos todos ainda hoje pré‑históricos trogloditas (aqui, no sentido denotativo do lexema). É porque temos questionado os saberes adquiridos que estamos hoje onde estamos. Para o bem e para o mal.

RIC

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Rainer Maria Rilke (2)

Herbsttag

Herr: es ist Zeit. Der Sommer war sehr groß.
Leg deinen Schatten auf die Sonnenuhren,
und auf den Fluren laß die Winde los.

Befiehl den letzten Früchten voll zu sein;
gib ihnen noch zwei südlichere Tage,
dränge sie zur Vollendung hin und jage
die letzte Süße in den schweren Wein.

Wer jetzt kein Haus hat, baut sich keines mehr.
Wer jetzt allein ist, wird es lange bleiben,
wird wachen, lesen, lange Briefe schreiben
und wird in den Alleen hin und her
unruhig wandern, wenn die Blätter treiben.


© Peter DaSilva, NY

Dia de Outono

Senhor, já é tempo. Foi tão longo o Verão.
Estende as tuas sombras sobre as horas solares
E solta os ventos sobre os campos.

Ordena aos últimos frutos que se completem;
dá-lhes ainda dois dias de sul,
condu-los à plenitude e encaminha
as últimas doçuras para o vinho pesado.

Aquele que agora não tem casa, já não a construirá.
Aquele que agora está só, assim por muito tempo ficará.
Vigilará. Irá ler, escrever longas cartas
e caminhará pelas áleas, inquieto,
de cá para lá, quando as folhas esvoaçam.

Autumn Day

Lord: it is time. The summer was immense.
Let thine shadows upon the sundials fall,
and unleash the winds upon the open fields.

Command the last fruits into fullness;
give them just two more ripe, southern days,
urge them into completion and press
the last bit of sweetness into the heavy wine.

He, who has no house now, will no longer build.
He who is alone now, will remain alone,
will awake in the night, read, write long letters,
and will wander restlessly along the avenues,
back and forth, as the leaves begin to blow.

Jour d’Automne

Seigneur, il est maintenant temps. L’été fut très grand.
Repose ton ombre sur les cadrans solaires
et détache les vents sur les plaines.

Ordonne aux derniers fruits d’être pleins,
accorde-leur encore deux jours du sud.
Force-les à la plénitude et chasse
les dernières douceurs dans le vin lourd.

Qui maintenant n’a point de maison, n’en bâtira plus.
Qui maintenant est seul, le restera longtemps;
il veillera, lira, écrira de longues lettres
et inquiet, fera les cent pas dans les allées
quand les feuilles tournent en rond.

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

II. The right place for the curious…

The Celcus Library, Ephesus, Turkey

Βίβλιος, βίβλος

liber

livro, libro, livre, carte

book, boek, Buch, bok, bog, bók

leabhar, llyfr

grāmata

kirja, könyv, raamat

kitap

księgować, knjiga, kniha, книга

pustaka

buku

ספר

الكتاب


冊 册

The Alexandria Library, Egypt

I. Dúvidas acerca da construção europeia? – Pois…

Um argentino radicado em Berlim – Linkillo (cosas mías) – escrevia há tempos:

"Na Europa já não existem Estados nacionais, mas os europeus parecem não notar tal facto. Atónitos, resistem à inexistência das nações em que – vá‑se lá saber porquê… – tanto apostaram; e fazem‑no através de complicadas operações imaginárias que os revelam um pouco mais tontos do que simplesmente parecem. Por exemplo, a resistência ao euro."

Não poderia estar mais de acordo. Uma aposta que, desde o dealbar do século XIX, já custou uns largos milhões de vidas. E que ainda continua a fazer vítimas…

"Em Espanha realizam‑se operações imobiliárias em pesetas; em França, os bilhetes de comboio indicam, sob a importância em euros, o equivalente em francos; na Alemanha, professores universitários calculam em marcos o preço de um copo de cerveja…"

Em Portugal, continuam a afixar-se preços em euros (algarismos grandes) e em escudos (algarismos pequenos)…

"Só desse modo, dizem, podem saber se algo é caro ou barato, porque a moeda nacional continua a ser a referência. Mas que moeda nacional, se há cerca de cinco anos que já não há moedas nacionais?"

… Logo, uma referência que já não o é: cinco anos retiraram‑lhe qualquer valor referencial que pudesse ainda ter…

"É que, precisamente, com o euro houve inflação, e agora tudo está muito mais caro, dizem. E insistem em referir tudo a um passado já mítico, insistem nas suas contas sem sentido. Expressam, deste modo, uma resistência à União Europeia e uma saudade de um passado que já não voltará."


Em Portugal, o escudo ia a caminho do centenário. Muitos portugueses mais idosos ainda se referiam à moeda anterior, a que vigorara até ao final da monarquia. E hoje, para eles, um euro equivale a duzentos mil réis, uma autêntica fortuna! Os mais novos são, a seu ver, esbanjadores natos: como é que dão cem mil réis por um dedal de café?!

"Como as populações envelhecidas são dominantes na cena urbana europeia (pelo menos nas cidades do norte), é difícil que o hábito de conversão para moedas mortas desapareça, ainda que essas moedas mortas, por isso mesmo, sejam incapazes de dar conta da inflação."

Os verdadeiros problemas decorrentes do envelhecimento da população europeia vêm ainda a caminho e reflectir-se-ão em todos os sectores da vida: sociais, económicos, políticos, culturais, etc.
E a conversão em si poderá até constituir um entrave ao consumo…

"Obviamente teimosos, eurocêntricos (ou seja, provincianos) e de imaginação limitada como são os europeus, não entendem o raciocínio."

Apesar de todos os cosmopolitismos, a verdade é que, no seio das populações mais afastadas das brilhantes e radiosas metrópoles europeias – os habitantes da Europa profunda –, é uma mentalidade provinciana que impera. E qualquer tentativa de comparação com as mentalidades expeditas da América Latina – a necessidade aguça o engenho… – é exercício à partida condenado ao fracasso.
Que todos estes "pequenos" problemas constituem uma forma de atrito consentido a uma construção europeia mais célere parece ser evidente, conquanto as instâncias do poder bruxelense não pareçam muito preocupadas…

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

II. A thought for today

After a humble homage to Quebecois cinema in the person of its director Denys Arcand specially dedicated to our blogger friend Joel in Montreal, Canada, here comes on an unbelievable storm in the person of one of the most hilarious, versatile British female comedians – Catherine Tate.

If by misfortune – I dare say – you haven't watched yet this breathtaking example of what we "down here" call British humour, please do yourselves a favour – and a treat – and watch it.
Man! She is really great! We have been watching it for a while now on channel 2: every Sunday evening. It is indeed a fresh air blow over the sad, grey landscape of our public television, as far as good quality humour is concerned.
So please, help yourselves of…


"I don't kiss and tell. I shag and shout!"

To our blogger friends in the United Kingdom – Minge and Kapitano!
With all my friendship.

RIC

I. Le Cinéma Québécois de Denys Arcand


Deux films du Québec de qualité supérieur, tout les deux réalisés par Denys Arcand

L'un, plus ancien, "Le Déclin de l'empire américain" (1986)
Et l'autre, plus récent, "Les Invasions barbares" (2003)

Denys Arcand est marqué par sa formation d'historien ainsi que par une conscience exceptionnelle des règles de la dramaturgie. Il aborde à travers ses documentaires le présent comme histoire en devenir:

"On est au coton" (1970)
"Québec: Duplessis et après…" (1972)
"Le Confort et l'Indifférence" (1981).

Sur le plan dramaturgique, ses films de fiction renvoient à la tragédie et à l'opéra ("Réjeanne Padovani", 1973) tout comme ils puisent certains procédés dans la théorie brechtienne ("La Maudite Galette", 1971, et "Gina", 1975).

Arcand est fondamentalement un intellectuel et la plupart de ses films reposent sur des dispositifs précis et complexes, comme "Jésus de Montréal" (1989), qui actualise les principaux événements de la vie du Christ pour confronter morale religieuse et morale artistique. Le thème de la décadence domine nettement. Le plus grand succès de sa carrière s'intitule, simplement, "Le Déclin de l'empire américain"…

Observateur attentif de la société québécoise, Denys Arcand a préféré montrer le présent à la lueur des déterminations historiques. Il est remarquable de constater que dès ses premiers essais réalisés alors qu'il était dans la jeune vingtaine ("Champlain", 1964, et "Les Montréalistes", 1965), Arcand posait déjà sur le Québec ce même regard rigoureux teinté d'un humour aux allures de désespoir poli.



"L'Âge des Ténèbres" sera présenté en 2007.
Attendons et espérons qu'il soit un succès d'avantage. On le lui souhaite, bien sûr! Denys Arcand le mérite entièrement!


Pour Joël avec toute mon amitié!
RIC

terça-feira, 21 de novembro de 2006

II. Do you like limericks?

A limerick is a five-line poem written with one couplet and one triplet. If a couplet is a two-line rhymed poem, then a triplet would be a three-line rhymed poem. The rhyme pattern is AABBA with lines 1, 2 and 5 containing 3 beats and rhyming, and lines 3 and 4 having two beats and rhyming.

Some people say that the limerick was invented by soldiers returning from France to the Irish town of Limerick in the 18.th century.

Limericks are meant to be funny. They often contain hyperbole, onomatopoeia, idioms, puns, and other figurative devices. The last line of a good limerick contains the "punch line" or "heart of the joke." An example – a rather old one, I believe:

There was once a priest from Liberia,
Whose morals were really inferior.
Once did to a nun
What he shouldn't have done,
And now she's a Mother Superior.

Does any of you, dear blogger friends, collect limericks? I mean those "spicy" ones that make you laugh as a fool.
I find limericks particularly refined as far as sane, good humour is concerned.

Friendly greetings to Ireland/Eire and to the Irish!

UPDATE
Here's a jewel two blogger friends just presented me with (I couldn't help posting it):

There once was a blogger named Ric,
Who posted a rude limerick.
Once with Kapitano,
They went mano a mano,
And both had a handful of dick!

Kapitano + Gray

Thanks a lot!

I. Da Língua Portuguesa (1)


"Ein jeder, weil er spricht, glaubt, auch über die Sprache sprechen zu können."

Qualquer um, porque fala, julga que também sabe falar sobre a língua.

Johann Wolfgang von Goethe

I. Pois julga. Mas engana‑se redondamente. E nos dias de hoje, ainda mais.
Ter formação em área científica específica e dominar com competência a língua materna nada tem de extraordinário. É a obrigação de todo aquele que é trabalhador intelectual e que, ao mesmo tempo, é intelectualmente honesto. Se não há pensamento sem linguagem, como expor cabalmente o pensamento sem usar a língua com propriedade?

II. Inicio hoje uma série de éditos sobre questões de proveniência vária atinentes à língua portuguesa. Não pretendo seguir o caminho da mera opinião (δόξα = doxa), mas antes colocar‑me sob o signo do conhecimento fundamentado.
A língua portuguesa tem‑me merecido sempre a máxima atenção e respeito; é ela que em grande medida é a minha Pátria.
Não pretendo corrigir nada nem ninguém, pelo menos não directamente; cada um é responsável pelos seus actos, inclusive pelo modo como trata a língua através da qual viu e entendeu o mundo pela primeira vez.

III. Desde sempre quezílias e querelas, polémicas e picardias têm assinalado as relações enviesadas entre as sacrossantas Letras e Ciências. E, diga‑se em abono da verdade, bem mais entre nós que alhures, como se de uma idiossincrasia muito nossa, muito portuguesa se tratasse, a pedir que a desmistifiquem de vez.
Os actuais saberes específicos das áreas ditas de Letras, ou Humanidades, são ainda encarados por muitos (quero acreditar que por mero desconhecimento), sobretudo das áreas ditas de Ciências, como diletantismos de acesso e domínio fáceis por parte de qualquer um, i.e., como curiosidades acessórias e secundárias quando comparadas com a infinda gravidade e dignidade das matérias "efectivamente" científicas.
Quem está de fora e por fora vê o que pode e como pode.

IV. Só em Português se procura distinguir entre "crítica positiva" e "crítica negativa". Conceptualmente, tal distinção, além de bizantina, não faz qualquer sentido. Ainda que não seja uma questão de natureza estritamente linguística, ela reflecte‑se no uso que fazemos da língua: conquanto muitos não o admitam facilmente, "crítica negativa" é, pura e simplesmente, maledicência. Crítica só pode haver uma, a positiva, pois que é sua meta elevar a qualidade do seu objecto.

V. Discorrer ex cathedra sobre a língua e seus usos também tem sido sempre coisa muito comum entre nós, mesmo que para tal não se tenha qualquer formação específica, o que entre nós parece interessar ainda menos. Atente‑se em alguma programação televisiva, a título de exemplo. Como disse Goethe, qualquer um se acha habilitado para tal, não estando. E nos dias de hoje, ainda menos. Não basta ter essa fantasia nebulosa chamada à colação a toda a hora por muitos na mira de se defenderem de eventuais "argoladas": a muito prezada "sensibilidade literária". Que nexo é que se pode estabelecer entre uma intuição sensível e um saber explícito?

VI. Fala‑se da língua portuguesa muito mais do coração (de cor, portanto) do que da cabeça. Mesmo entidades com responsabilidades são capazes de apresentar opiniões sobre usos e abusos com base tão‑só no que lhes "soa melhor". E assim prescrevem que um "de" seja aqui omitido, mas ali seja obrigatório; que um "a" em certa locução é galicismo, pelo que deve ser substituído por um "que" que, recomenda por sua vez a estilística, deve ser evitado a todo o custo por enxamear a língua com as suas 18 ou 19 diferentes acepções… E daqui não passaríamos, a desfiar um rosário infindo de exemplos semelhantes. E chegando à conclusão de que onde ainda não houver investigação científica qualitativa e quantitativamente suficientes em termos de explicação de fenómenos que se verificam no Português, a porta permanecerá aberta a quem queira continuar a falar de cor.

VII. "Chama‑se António" e
"Não se chama António"
são ambas frases correctas do Português, e isto será admitido pela maioria, espero. Porém, explicar cabalmente por que razão o "se" se move na passagem da afirmativa para a negativa não será tarefa fácil para essa maioria. "É assim, porque assim é que está certo." Pois é. E 2+2=4 também, porque assim é que está certo…

VIII. Vem algum mal ao Português se, a par de "critiqueiro" e "criticastro", por exemplo, houver também "filópsogo"? Em todas as épocas se criaram eruditismos, e não há qualquer razão plausível para se prescindir agora do manancial lexicográfico greco‑latino. Até porque é este mesmo manancial que é hoje a base comum a um número considerável de línguas de cultura do Ocidente, a começar pelo Inglês.

Estas primeiras observações pretendem‑se exactamente assim – avulsas, dispersas, incompletas. A intenção é a de provocar a reflexão, com vista a um saber escorado e não apenas a uma mera opinião.
Voltarei a alguns destes assuntos, por agora apenas aflorados.

RIC

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Rainer Maria Rilke (1)


R. M. Rilke by B. Pasternak

Einsamkeit

Die Einsamkeit ist wie ein Regen.
Sie steigt vom Meer den Abenden entgegen;
von Ebenen, die fern sind und entlegen,
geht sie zum Himmel, der sie immer hat.
Und erst vom Himmel fällt sie auf die Stadt.

Regnet hernieder in den Zwitterstunden,
wenn sich nach Morgen wenden alle Gassen
und wenn die Leiber, welche nichts gefunden,
enttäuscht und traurig von einander lassen;
und wenn die Menschen, die einander hassen,
in einem Bett zusammen schlafen müssen:

dann geht die Einsamkeit mit den Flüssen…

Paris, den 21. September 1902

Solidão

A solidão é como a chuva.
Sobe do mar nas tardes em declínio,
das planícies perdidas na saudade;
eleva‑se ao céu, que é seu domínio,
para então cair sobre a cidade.

Chove às horas dúbias, quando os becos
anseiam longamente pela aurora;
quando os corpos se abandonam tristes
com a desilusão que a carne chora;
quando as gentes, os seus ódios sufocando,
num mesmo leito se vão deitar: é quando

a solidão com os rios vai passando…

Paris, 21 de Setembro de 1902

(Tradução de RIC com base noutras versões)

Solitude

Solitude is like a rain.
It rises from the sea to meet the evening;
it rises from the dim, far distant plain
toward the sky, as by an old birthright.
And thence falls on the city from the height.

It falls like rain in that gray doubtful hour
when all the streets are turning toward the dawn,
and when those bodies, with all hope foregone
of what they sought, are sorrowfully alone;
and when all men, who hate each other, creep
together in one common bed for sleep;

then solitude flows onward with the rivers…

Solitude

La solitude est comme la pluie.
Elle naît de la mer pour rencontrer les crépuscules,
s'élevant des plaines lointaines et dispersées
vers les cieux qui la dominent
pour en retomber sur la ville.

Elle tombe comme la pluie sur cette heure douteuse,
lorsque les rues se retournent vers l'aube.
Et lorsque les corps déchus de leur idée
fixe se retrouvent seuls.
Et quand tous les hommes qui se haïssent
montent ensemble dans un seul et même lit pour dormir.


Alors la solitude s'écoule dans les fleuves…

(Version améliorée par Joël. Merci beaucoup!)

domingo, 19 de novembro de 2006

«The Benevolent» by Jonathan Littell



Mit den Augen eines SS-Offiziers

«Les Bienveillantes, der Debüt-Roman des Amerikaners Jonathan Littell sorgt in Frankreich für Furore: Der jüdische Schriftsteller schreibt aus der Perspektive eines SS-Offiziers über den Holocaust und die NS-Zeit. Jetzt ist das Werk mit dem renommierten Prix Goncourt ausgezeichnet worden.

Paris – Ein jüdischer Amerikaner schreibt auf Französisch ein Buch über den Holocaust – und das aus der Sicht eines gebildeten SS-Offiziers, der von seinen Morden an Juden berichtet, aber keineswegs ein reuiger Sünder ist. In Frankreich wurde Jonathan Littell mit seinem 912 Seiten starken Debüt-Roman über Nacht zum Literaturstar: 200.000 Exemplare des Buches wurden in Frankreich bereits verkauft, es stand wochenlang auf der französischen Bestsellerliste und wurde von der französischen Presse als Meisterwerk gefeiert. Gelobt wurde Littells Mut, den Holocaust mit den Augen eines Täters zu schildern. Um die Übersetzungsrechte entstand ein regelrechtes Gerangel: Der Berlin Verlag soll sich die Rechte für die deutsche Ausgabe für 400.000 Euro gesichert haben, ein britischer Verlag habe sogar eine Million Dollar gezahlt, heißt es.
Doch der Erfolg des Romans stößt auch auf Unverständnis: Der französische Regisseur Claude Lanzmann ("Shoah") kritisierte, die Geschichte sei unrealistisch. Er wisse aus eigener Erfahrung, dass die Täter des Nationalsozialismus nicht so auskunftsfreudig seien, wie Littells Protagonist Dr. Max(imilian) Aue, Doktor der Jurisprudenz. In der Regel verdrängten sie ihre Taten und wollten sich nicht erinnern.
Littells Roman beginnt mit den Worten: "Liebe Mitbrüder, lasst mich euch schildern, wie alles geschah." Wie das Wochenblatt "Die Zeit" berichtete, nehme der Autor die Kontroverse um sein Debüt durchaus wahr: Er freue sich über die positive Resonanz, doch das Urteil von Lanzmann sei ihm besonders wichtig.
Auch der Chefredakteur des französischen Kulturmagazins "Les Inrockuptibles" konnte sich der allgemeinen Begeisterung der Franzosen nicht anschließen. In der "Frankfurter Allgemeinen Sonntagszeitung" diagnostizierte er dem Buch "etwas Spätpubertierendes", von dem "bloß eine Ahnung von Fusel im Abgang" übrigbleibe. Die Zeitung "Libération" schrieb, das Buch erwecke den Eindruck, als spiele der Autor mit Zinnsoldaten, wenn auch auf sehr intelligente Weise. Andere Stimmen kritisierten, die Psychologie der Geschichte sei übertrieben. Allerdings ist die Persönlichkeit des Protagonisten recht vielseitig: Aue beginnt ein inzestuöses Verhältnis mit seiner Schwester, entdeckt daraufhin sein Interesse am gleichen Geschlecht und tötet schließlich die eigene Mutter und den Stiefvater. All dies wird begleitet von ausführlichen Erläuterungen seiner Magen- und Darmprobleme.
Dennoch dürfte die Kritik Littell nicht allzu sehr betrüben, denn der "Prix Goncourt" ist die renommierteste französische Literaturauszeichnung. Die Ehrung, die zwar nur mit symbolischen 10 Euro dotiert ist, ist gleichbedeutend mit einem Ritterschlag.
Jegliche Vorwürfe, der Autor verbrüdere sich mit einem Nationalsozialisten werden indes bereits im Keim erstickt: Littell stammt aus einer jüdischen Familie mit osteuropäischen Wurzeln. Außerdem arbeitet er für humanitäre Hilfsorganisationen an Kriegsschauplätzen wie Ruanda, Bosnien oder Tschetschenien. Der Sohn eines Autors von Spionageromanen wurde in New York geboren und kam als Kind nach Frankreich. Seine Bücher schreibt Littell, der in Yale Literaturwissenschaft studierte und derzeit in Barcelona lebt, auf Französisch. Er begründet dies mit seiner Achtung vor den französischen Literatur-Granden Stendhal und Flaubert.
Ende Oktober wurde Les Bienveillantes ("Die Gnädigen" oder "Die Wohlwollenden") bereits mit dem Romanpreis der Académie Française geehrt. Die deutsche Übersetzung erscheint im kommenden Jahr. Die Verleihung des Prix Goncourt wird den Verkauf des Romans wohl noch weiter vorantreiben.»




Through the eyes of an SS officer

Les Bienveillantes, the debut novel of the American Jonathan Littell provides for sensation in France: the Jewish author writes from the perspective of an SS officer over the Holocaust and the Nazi time. Now the work has been distinguished with the renowned "Prix Goncourt".

Paris – A Jewish American writes a book about the Holocaust in French – and from the point of view of an educated SS officer, who reports of his murders on Jews, but is by no means a repentant sinner. With his 912 pages thick first novel, Jonathan Littell became overnight the literature star in France: 200,000 copies of the book have already been sold; it was on the French best-seller list for weeks, and was celebrated by the French press as a masterpiece. Littell's courage was praised for describing the Holocaust through the eyes of a perpetrator. A real wrangling developed around the translation rights: the "Berlin Verlag" is supposed to have secured the German edition rights for 400.000 euros, and it is said a British publishing house has even paid one million dollars.
But the success of the novel encounters also lack of understanding: the French director Claude Lanzmann ("Shoah") criticized the story as being unrealistic. He knows by his own experience that National-Socialist perpetrators were not so eager to inform as Littell's protagonist Dr. Max(imilian) Aue, doctor of the jurisprudence. Usually they hid their acts and did not want to remember.
Littell's novel begins with the words: "Beloved brothers, let me describe to you how everything happened." As the weekly paper "Die Zeit" reported, the author is quite aware of the controversy about his debut: he is pleased by the positive resonance, but Lanzmann's judgement is particularly important to him.
Also the editor-in-chief of the French culture magazine "Les Inrockuptibles" could not follow the general enthusiasm of the Frenchmen. In the "Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung" he diagnosed the book as "something from late puberty", of which remains "only a confused notion in the outlet". The newspaper "Libération" wrote that the book arouses the impression as if the author were playing with tin soldiers, even if in a very intelligent way. Other voices criticized the psychology of the story as being exaggerated. However, the protagonist's personality is quite versatile: Aue begins an incestuous relationship with his sister, discovers thereupon his interest on the same sex, and finally kills his own mother and stepfather. All this accompanied by detailed explanations of his stomach and intestine problems.
Nevertheless, criticism doesn't seem to disturb Littell too much, since the "Prix Goncourt" is the most renowned French literary distinction. The honour, which is endowed with some symbolic 10 euros only, is equivalent to a knight induction.
Any reproaches about the author fraternizing with a National-Socialist are to be silenced from the very beginning: Littell originates from a Jewish family with Eastern European roots. In addition he works for humanitarian relief organizations on theatres of war such as Rwanda, Bosnia or Chechnya. The son of an author of espionage novels was born in New York City and came to France as a child. Littell, who studied literature science in Yale and lives currently in Barcelona, writes his books in French. He justifies this fact with his reverence for the French literature's famous figures Stendhal and Flaubert.
At the end of October Les Bienveillantes had already been honoured with the novel price of the Académie Française. The German translation will be published in the coming year. The award of the Prix Goncourt will probably continue to increase the sales of the novel even more.

RIC's translation… I'm really sorry for any serious fault.
Et pour ceux qui sont versés dans la langue de Molière, voilà une courte présentation du livre et une critique affidée.

«En fait, j'aurais tout aussi bien pu ne pas écrire. Après tout, ce n'est pas une obligation. Depuis la guerre, je suis resté un homme discret ; grâce à Dieu, je n'ai jamais eu besoin, comme certains de mes collègues, d'écrire mes mémoires à fin de justification, car je n'ai rien à justifier, ni dans un but lucratif, car je gagne assez bien ma vie comme ça. Je ne regrette rien : j'ai fait mon travail, voilà tout ; quant à mes histoires de famille, que je raconterai peut-être aussi, elles ne concernent que moi ; et pour le reste, vers la fin, j'ai sans doute forcé la limite, mais là je n'étais plus tout à fait moi-même, je vacillais, le monde entier basculait, je ne fus pas le seul à perdre la tête, reconnaissez-le. Malgré mes travers, et ils ont été nombreux, je suis resté de ceux qui pensent que les seules choses indispensables à la vie humaine sont l'air, le manger, le boire et l'excrétion, et la recherche de la vérité. Le reste est facultatif.»

«Avec Les Bienveillantes, Jonathan Littell nous offre le prototype du roman parfait, concurrent idéal aux prix littéraires. Le style, d'abord, est élégant, il impose un récit rythmé et accrocheur qui progresse avec une égale constance dans l'ouvrage. Le travail préparatoire ensuite constitue une véritable mine de détails concernant aussi bien l'administration nazie que les réalités sociologiques de l'époque. De même encore, l'angle sous lequel le sujet est abordé ne peut que fédérer ; traitant l'un des drames les plus singuliers de l'Histoire, Littell le tire à lui, en mettant en scène l'incapacité existentielle des hommes à s'en défendre. L'habileté de l'écrivain réussit ainsi à transmuer ce sujet en un témoignage d'une universalité troublante. Alors, dans cette perfection, que penser d'un tel roman qui, à peine édité, fait déjà figure de "classique" ?
Si l'on ne peut en effet n'être qu'admiratif devant cette capacité à dépeindre "l'irresponsabilité" des personnages, si l'on ne peut que sentir ce souffle russe se déverser sur cette succession de personnages bruts, suivant les ordres de l'Autorité comme Sisyphe traîne son rocher, sa qualité révèle l'ambiguïté d'une telle entreprise.
Bien qu'intimement relié à un moment précis de l'Histoire, le récit semble déjà s'en extraire et s'impose comme hors du temps, toujours d'actualité. Reste qu'une telle qualité devient presque frustrante, et rares sont les moments où l'on sent l'auteur au bord de l'abîme, où l'on perçoit une véritable prise de risque sinon dans cette justification un peu lourde à laquelle se livre son héros dans les premières pages pour légitimer le récit de l'horreur, comme s'il découvrait, étonné, que l'indicible, l'inimaginable, peut s'écrire, peut s'étaler et se dire à nouveau.»


(Guillaume Benoît)

sábado, 18 de novembro de 2006

«Auschwitz: The Nazis & the 'Final Solution'»


A BBC survey has suggested that almost half the adult population – 45% – claim to have never heard of Auschwitz.
Amongst women and people aged under 35 the figure is even higher – 60%. Among those who have heard of Auschwitz, 70% felt that they did not know a great deal about the subject.
Most of them – 76% – were unaware of its roots as a concentration camp for Polish political prisoners.
The majority – 74% – did not know that people other than Jews – Gypsies, homosexuals, Soviet war prisoners – were killed there and only a few recognised the name of the camp commandant – Rudolf Höß – or knew who finally liberated the camp at the end of the war – the Red Army.

Written and produced by Bafta Award-winning producer Laurence Rees and to mark the 60.th anniversary of the liberation of Auschwitz in January 2005, «Auschwitz: The Nazis and the 'Final Solution'» offers a unique perspective on the camp in which more than 1,100,000 people were ruthlessly murdered.

"The research reinforced the importance of making this series and trying to ensure the atrocities that unfolded at Auschwitz are never forgotten," says series producer Laurence Rees.

The series is the result of three years of in-depth research, drawing on the close involvement of world experts on the period, including Professors Sir Ian Kershaw and David Cesarani.

It is based on nearly 100 interviews with survivors and perpetrators, many of whom are speaking in detail for the first time.
Sensitively shot drama sequences, filmed on location using German and Polish actors, bring recently discovered documents to life on screen, while specially commissioned computer images give a historically accurate view of Auschwitz-Birkenau (Polish: Oświęcim-Brzezinka) at all its many stages of development.

"The name Auschwitz is quite rightly a byword for horror," says Laurence Rees. "Our series is not only about the shocking, almost unimaginable pain of those who died, or survived, Auschwitz. It's about how the Nazis came to do what they did. I feel passionately that being horrified is not enough. We need to make an attempt to understand how and why such horrors happened if we are ever to be able to stop them occurring again."

As I said, I had already watched this magnificent series when it was first released in January 2005. Watching it a second time – one episode a day – only made me realise better how such a tremendous catastrophe occurred by human hands. If I say I realise it better now it doesn't mean, however, I understand it. Because I don't and I believe I never will.
How can one cope with the fact that "normal people" turn into monsters, act as monsters, send about 200,000 children to death according to a spectral plan, and in the end, when they know they're reaching death themselves, claim the righteousness of their acts without a blink?


"After Auschwitz poetry is no longer possible," a poet said.

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Journal of an Absence

Or "Ric Unplugged"…
You choose the version you prefer. I couldn't. It's quite apparent to me now that my kind of net connection – though quite satisfying in the city – doesn't work at all in some parts of the country. There simply is no network yet, so I've been told. This means I'll be absent for a week, which leaves me close to despair.

Monday, 13, Segunda

After doing what I was supposed to do today, the very first question on my mind was: What now? What shall I do? And all I was thinking about was blogging. Well, I guess I'll just have to get used to live without blogging for the next days… Is it so hard? As if it were an addiction? I was living before July 14.th, wasn't I? So? It is hard indeed!
Besides reading, there's a great 6-episode BBC series about Auschwitz on channel 2: starting this evening. I believe I've watched it last year when it was first released to celebrate the 60.th anniversary of the camp liberation by the Red Army. But there's so much to it! I'm sure it will be my late evening company all through this week. Oh yes, the series' name's
"Auschwitz. The Nazis and the 'Final Solution'."

Tuesday, 14, Terça

It was hard today to realise once again I'm out of the bloggosphere. Just like that. Today I would be celebrating online my fourth month on a row as a blogger… Oh well! What can I do? No candles to blow, no cake to share, no champagne to sip, no "many happy returns of the day" to thank for…
Even if all the rest is virtual, the exchange of feelings between bloggers isn't at all. And I miss that. So I guess I'm having the blues this evening. And TV won't help much either. Maybe a book will be my consolation…

Wednesday, 15, Quarta

Just to keep my mind off this unexpected absence I decided to do some wiping and cleaning… as far as my computer is concerned. So many files completely obsolete and useless. So much trash archived for no explainable reason or foreseeable purpose. It took me quite a while to go through all the stuff in store, but I did manage in the end, even if I've made some mistakes here and there, as usual… I didn't lose anything important though. I guess that's just me, that's just the way I am. And another day seems to be over and done with… I just can't wait until I'm back to the cosiness of my small big world… "See" you all back soon! Hopefully…

Thursday, 16, Quinta

Today all of you were with me. Names came to my mind as those of long missed friends: Portuguese, Brazilian, Argentinean, British, Canadian, American, New Zealand's… My work is almost done here, about 300 km away from home. Tomorrow will be my last day here. I can't believe that a week has almost gone by.

Friday, 17, Sexta

I had no idea of what a deaf-mute computer might be… Well, I guess I know now: my words will be stuck inside this computer until I get back online, and your posts are all beyond an invisible wall that will come down this weekend, I hope. This is quite an odd feeling…

And I'm back again! At last! Wow!!! Mwaaahhh for you all!!!

domingo, 12 de novembro de 2006

Viri pulchri...


Pulchritudo corporis apta compositione membrorum movet oculos et delectat.
Cícero, De Officiis
A beleza do corpo, pela justa disposição dos membros, atrai e deleita os olhos.

The beauty of the body, by the apt disposition of its limbs, attracts and delights the eyes.

Pulchrorum etiam autumnus pulcher est.
Eurípides & Apostólio, Παροιμιαι/Paroimiai (Provérbios)
Dos belos até o Outono é belo.

Of the beautiful even autumn is beautiful.


Vir pilosus, aut fortis aut luxuriosus.
Homem peludo, ou forte ou amorudo.
Hairy man, either strong or lascivious.

Vir cum viris facile conveniunt.
Floro, Epitoma
Homem entende-se com homens facilmente.
Man gathers easily with men.

É fim-de-semana.
É tempo de lavar a vista!
Divirtam‑se!…

© Photos: I Would!
À toi, Joël, tous mes remerciements!

sábado, 11 de novembro de 2006

On world doctrines...

George W. Bush has been listening both to the nationalists in his immediate circle and to the neocons within and outside the government. His doctrine was developed from both currents, and can be reduced to three central points:

i) There is no way 9/11 can repeat itself, and therefore terrorists must be hunted down wherever they are – even if preventive impacts not sanctioned by international legal rules should be necessary.

ii) The nightmare comes from those states, which protect terrorists like the Qaeda network, and can possibly put nuclear weapons in their hands – they are to be attacked with all means.

iii) The USA must secure the endangered energy supply from the oil-richest region in the world; for that purpose the country needs a strategic bridgehead in the Middle East.
How fragile for instance pro-American Saudi Arabia could become as a supplier is shown by the counterflows against the corrupt Royal Family – 15 among the 19 9/11 assassins were Saudi Arabian citizens.

Comments on


i) The methods used to hunt terrorists down have not only discredited the USA government abroad, but also mean a harsh blow to democracy itself. (CIA flights in Europe and Guantanamo).

ii) The rhetoric involving "evil axes" works no longer. The common citizen is now aware of this administration's intentions: attacking some states and not others is decided by the economic/energetic agenda, not by moral or ethic principles and values.

iii) That strategic bridgehead in the Middle East is now – and will be in the long term – Iraq. USA armed forces won't leave the country for as long as it is submerged in civil war. A foreseeable carnage is already occurring between Sunnites and Shiites. And it won't be over so soon. Meanwhile, many American corporations will be taking advantage of the situation.

RIC

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Paris, perfumes, & plots...


O Perfume: História de um Assassino

Perfume: The Story of a Murderer

Adaptação do romance/Adapted from the novel
"Das Parfum", Patrick Süsskind

Alemanha, França e Espanha, 2006
Germany, France and Spain

(Most expensive German movie ever made)

Realizado por/Directed by Tom Tykwer
Argumento de/Screenplay by Andrew Birkin & Bernd Eichinger

Drama/Thriller

Jean-Baptiste Grenouille nasce em circunstâncias pouco dignas, em 1738, no mercado de peixe de Paris.
Em tenra idade, apercebe‑se de que é dotado de um olfacto bastante refinado.
Na adolescência, e após conseguir sobreviver às criminosas condições de trabalho de uma tinturaria local, Grenouille inicia-se como aprendiz na perfumaria de Baldini.
Rapidamente ultrapassa o mestre na arte de misturar essências, e estas tornam-se a sua obsessão, que o leva a afastar-se da companhia de outros seres humanos…

Jean-Baptiste Grenouille, born with no smell, develops a superior olfactory sense, which he uses to create the world's finest perfumes.
His work, however, takes a dark turn as he searches for the ultimate scent…

Elenco/Cast:

Ben Whishaw - Jean-Baptiste Grenouille
Dustin Hoffman - Giuseppe Baldini
Alan Rickman - Richis
Rachel Hurd-Wood - Laura
Andrés Herrera - Door Guard
Simon Chandler - Mayor of Grasse
David Calder - Bishop of Grasse
Richard Felix - Chief Magistrate
Birgit Minichmayr - Grenouille's Mother
Reg Wilson - Customer, Fish market
Carlos Gramaje - Police Lieutenant - Fish market
Sian Thomas - Madame Gaillard
Michael Smiley - Porter
Perry Millward - Marcel
Alvaro Roque - Grenouille at the age of 5

Vão ao cinema!
Go to the movies!

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Ana Sousa Dias e Vasco Graça Moura
















Anteontem senti‑me ufanamente Português!
Com um "P" maiusculíssimo!
Não me sentia assim há muito tempo, tão feliz e orgulhoso por me rever neste povo que somos e nas belas formas em que ele sabe dar frutos.


Tanta mediocridade por todo o lado tem‑me levado a pensar que "isto" não tem melhoras possíveis: fulano insulta beltrano que vilipendia sicrano que calunia fulano…

"Et tout est à recommencer!"…

Porquê esta minha mudança?

Simplesmente porque alguém me fez acreditar em tudo outra vez.
Obra de génio, sem dúvida, atendendo a que estou sempre de pé atrás…
Que sejamos um povo de mesquinhos invejosos é coisa que, apesar das evidências, me custa muito a engolir, confesso.
Porque gosto de ser Português.

Acredito que podemos ser muito bons e que podemos reconhecer que há entre nós gente de muitíssima qualidade e, sobretudo, que isso nos pode – e deve – fazer muito felizes.
O raciocínio – e o sentimento que o acompanha – são muito simples: se ele/a é muito bom/boa, se ele/a é muito melhor do que eu, só posso sentir-me muito bem com isso, porque ele/a é também um/a Português/Portuguesa.

E onde um/a brilha, brilhamos todos nós também.

Não confundir, por favor, com quaisquer tipos de nacionalismo bacoco ou patrioteirismo de arruaça!

Pois anteontem, inesperadamente, quando aguardava outro convidado anunciado na programação da 2: surge Vasco Graça Moura em frente de Ana Sousa Dias.
Dois Portugueses de quem muito gosto. Por razões bem diversas, entenda‑se.

Ana Sousa Dias é a profissional doce por excelência.

Mesmo desconsiderada por algum convidado (como, infelizmente, já aconteceu), ela é igual a si própria. Quanto mais a venho conhecendo através dos muitos "Por Outro Lado" que acompanho e que tento sempre não perder, mais a minha admiração cresce por esta Portuguesa que me prova com o seu trabalho que nem tudo entre nós é a mediocridade abjecta que nos pretendem fazer crer ser mais um fado a suportar.
Bem-haja, Ana!

Quanto a Vasco Graça Moura, que poderia eu "dizer"? Nada.
Exceptuando o facto de, politicamente, muito nos afastar, tenho hoje a certeza de que um inquestionável homem de cultura como ele é só pode ser razão de inegável regozijo para todos nós.

Para mim é!
E não apenas pela sua vastíssima e valiosíssima obra, que muitíssimo nos dignifica como Portugueses no seio da vasta comunidade cultural internacional, bem entendido. Mas sobretudo pela sensatez, pela sobriedade, pelo discernimento, pela franqueza com que falou de si, do seu trabalho, dos seus projectos, da sua vida de intelectual. Sem humildades imbecis nem arrogâncias idiotas, eis a prova provada de que se pode ser um Português de craveira superior sem qualquer necessidade de dardejar sobre quem quer que seja. Bem pelo contrário! Interrogado sobre os "novíssimos" da nossa literatura, não teve qualquer pejo em citar um () nome: o de Frederico Lourenço.
(Agora dardejo eu: cuidem-se os invejosos!)

Quem acompanhou a entrevista sabe do que estou a "falar". Quem não o fez, tente arranjar meio de a ver, de modo a não perder um excelente e raro momento de Cultura Portuguesa. Do melhor!


RIC

"Honni soit qui mal y pense!"
Ou seja, "Mal haja quem bem não cuida!"

Muito obrigado a ambos, Ana Sousa Dias e Vasco Graça Moura!

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Cabrilho's "discovery" of California


Strange as it may seem, Portuguese navigators were also involved in the exploration of the west coast of North America.

"In 1542-3, Portuguese-born João Rodrigues Cabrilho and his chief pilot Bartolomé (Bartolomeu) Ferrelo, who may have been Portuguese, were the first Europeans to explore the coast of the present state of California.

Sailing for the King of Spain Charles I – better known as Emperor Charles V – as Columbus and Fernão de Magalhães (Magellan) had sailed before, Cabrilho left in June of 1542 from Navidad on the west coast of Mexico and proceeded north. He reached San Diego Bay in September, becoming the first European to set foot in what is today the state of California. He continued north along the California coast but died in January 1543 from an infection resulting from a broken arm. Ferrelo continued north, possibly reaching the Oregon coast in March 1543.

Curiously enough, Magalhães had suffered a similar fate twenty years before: on the first successful attempt to sail around the entire Earth – the first circumnavigation ever – he was killed during the battle of Mactan on Cebu Island (one of the Maluku or Moluccas Islands) in the Philippines, in April 1521, taking over command of the expedition the Spaniard Juan Sebastián Elcano, who reached Spain the following year.

Little is known about Cabrilho's early years. Even his nationality is uncertain; most biographies describe him as Portuguese, but in his exhaustive 1986 biography "João Rodrigues Cabrilho", historian Harry Kelsey writes that Cabrilho appears to have been born in Spain, "probably in Seville, but perhaps in Cuellar." His date of birth and parentage are also unknown, but events in Cabrilho's life lead Kelsey to believe he was born of poor parents "around 1498 or 1500," and then worked for his keep in the home of a prominent Seville merchant."

However, if his name is João Rodrigues Cabrilho, as it seems to be the case, and not Juan Rodriguez Cabrillo, then the Portuguese hypothesis is a quite plausible one.

terça-feira, 7 de novembro de 2006

II. Curiosíssima destrinça conceptual!...

Esta "novidade" chegou‑me do Brasil. É provável que esteja a fazer carreira também noutras paragens. Trata‑se de uma genial divisão entre homossexuais… superiores e inferiores.


"Um pastor evangélico falava em aceitar os homossexuais que não gostam de ser homossexuais, mas ele também dava a entender um certo preconceito contra os homossexuais que aceitam ser homossexuais. Ou seja, a igreja desse pastor acolhe um tipo específico de homossexual, mas persegue o outro tipo." [Carioca]


Os superiores não se aceitam e vivem infelizes. Debatem‑se com a sua natureza, carregam uma cruz, tendem para a autoflagelação e o martírio. O seu fado é a homossexualidade.

Os inferiores, pelo contrário, aceitam‑se e tendem a ser felizes. Entendem e aprofundam a sua natureza, batem‑se pelos seus direitos, não têm qualquer propensão para o sofrimento gratuito ou o martírio. O seu "pecado" é o homossexualismo.

Eis mais um exemplo da provecta estratégia de dividir para reinar e explorar até ao limite do possível e do impossível o também provecto sentimento de culpa judaico‑cristão.

Tempos houve em que, em matéria de sexo, a Igreja era bem mais assertiva. Hoje, tem muito mais cuidado com os maniqueísmos, mas guarda uma considerável reserva desta forma fanática de pensar precisamente contra aqueles e aquelas ainda expostos/as aos desmandos, arbítrios e hipocrisias sociais. Que ela, aliás, sempre soube fomentar tão bem...

Assim, e de acordo com geniais mentes, que em nome de Deus "desencantam" estas inteligentíssimas dicotomias, enquanto a homossexualidade é um estado (quase) beatífico (como o da meretriz arrependida), o homossexualismo é um movimento subversivo, uma ideologia revolucionária (logo, liminarmente condenável) que ousa reclamar algo que os iluminados pela divina luz "sabem" não poder ser de todo permitido: ser‑se feliz.

E uns quantos homens pretendem que determinam o que pode – e o que não pode – ser a felicidade dos seus semelhantes.

Se isto não fosse estultícia máxima – e imensa ignorância – seria apenas ridículo…

RIC

"El homosexual y la lesbiana nacen en el siglo XIX, entre la medicina y la criminología, como categorías a corregir, a curar y a perseguir y eventualmente eliminar."
(O homossexual e a lésbica nascem no século XIX entre a medicina e a criminologia, como categorias a corrigir, a curar e a perseguir; eventualmente, a eliminar.)

in Gabriel GIORGI - Sueños de exterminio. Homosexualidad y representación en la literatura argentina contemporánea. Rosario, Beatriz Viterbo, 2004.

I. Honouring Truman Capote

A tragedy. An investigation. A writer. A novel. A destiny. A movie (or two).


Truman Capote


Uma tragédia. Uma investigação. Um escritor. Um romance. Um destino. Um filme (ou dois).

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Art & Political Commitment


El Árbol de Muerte de Bush
Bush's Tree of Death
(Acrylic on canvas. 24"×30"/60cm ×76cm)

Tony de Carlo's own words on his work:

"The centerpiece – the Tree itself – is based on and intertwined with the most infamous photograph the Bush regime has given the world: the "State of Liberty" photograph of the prisoner from the Abu Ghraib prison in Iraq.
There were a lot of things Dubya gave the USA that I simply could not figure a way to simply portray. The lost jobs, the millions without health insurance, the attack on a woman's right to choose, the hypocrisy, all of the children left behind, the fear mongering, the lobbyists, the Saudis, his DUI (driving under the influence) convictions, his secrecy, his creepy cabinet, his Stepford wife and her manslaughter conviction, his AWOL (Absent Without Official Leave), his stuttering clumsiness and misspeaks, his record deficits, his pandering to the lowest common denominator, his "just keep shopping" advice to Americans during war, his total failure at diplomacy which led to war, the world's resentment of us, his hillbilly dirt ranch and his ugly ass parents.
I can only wonder how many more symbols of death and destruction Bush will leave us with after another four more years in office: too many to fit on one painting.
Peace! – A word not in the Bush administration's vocabulary…"

The canvas is itself a powerful dysphemistic manifesto and Tony de Carlo made a list of the symbols depicted in the painting. Here's part of it.

· "A Tombstone simply marked "M+" for the more than 2,000 dead Americans so far in Iraq.
· A gushing oil well. I should have made it dry, since Dubya's companies all went broke, just like his country is doing.
· His Yale megaphone from his days as a male cheerleader – how gay!
· That beautiful fake plastic turkey he flew across the world to deliver to the troops on Thanksgiving 2005, to pose for a laughable photo op.
· A burning cross – the eternal symbol for using the love of Jesus to justify hating others.
· An army tank, one of several military bully symbols I used.
· A falling bomb.
· A burning civilian home.
· That laughable rainbow-colored Terrorist Warning Level chart. Gays are getting married: raise the Terrorist Warning Level to red!
· The now-classic "My Pet Goat" book he continued to read for seven minutes after being told America was under attack on 9/11.
· Below the "My Pet Goat" book is my made up book, titled "My Gay Scape Goat", for Bush's shameful scape-goating of gay Americans. He'll go to war to bring "freedom" to Iraqis, but if you're a gay American, he'll work hard to remove your freedoms, deny you equal protection under the law and change the Constitution to do it.
· More militaristic symbols – a machine gun, an attack helicopter, a bomber plane – and domestically – an Uzi we can all go out and buy now since the ban on assault weapons was allowed to expire.
· A split USA (on left in green), symbol of Bush's pledge to be a "uniter, not a divider"…
· Below that symbol is the Halliburton logo, symbol of corporate greed.
· The World Trade Center.
· An oil well – the real reason we're in Iraq.
· Bush's alter ego/counterpart/personal symbol – a chimp that resembles Dubya more than Jeb does.
· The pentagon on fire.
· The stacks of gold and money, symbols of greed, excess, and materialism.
· The burning/trashing of the Bill of Rights.
· A record with "Debt", symbolizing the record debt he's given future generations to pay off for him.
· A dunce cap/hat. He ain't the brightest bulb in the drawer – "Don't misunderestimate me".
· The epitome of corporate greed and scandal – Enron's logo.
· The burning bush – last time someone listened to a burning bush, they wandered the desert for 40 years, which is what the USA may end up doing in Iraq.
· The trashed Constitution, which Bush wants amended seven times. He must really hate this country's founding fathers…
· The trashed earth and water, littered with oil wells.
· And finally, the government censored portrayal of reality – an American flag-draped coffin coming home."

domingo, 5 de novembro de 2006

Polish government continues to spew homo-hate

Doug Ireland, in Direland

(This article was written for Gay City News, NYC)

"[…] On October 14, the Polish vice minister of education, Miroslaw Orzechowski, was asked by an interviewer for the daily Wyborcza Gazeta about the firing of Miroslaw Sielatycki, director of the Polish National Teacher Training Centre, dismissed in June for having distributed to schools a manual on how to teach tolerance, prepared by the Council of Europe, of which Poland is a member country. The manual included material on non-discrimination against homosexuals and the rights of same-sex couples.

“This is the most drastic form of lies – that two individuals of the same sex can have a relationship,” Orzechowski told the newspaper. “I mean, it does happen, but you cannot legalize it because it ruins our civilization.”

Asked by the interviewer, “Where is the space, then, for tolerance of difference?” the vice minister replied, “Oh, the world used to manage without tolerance and it will keep on going without it. We cannot have a couple of maniacs deciding the fate of our civilization.”

The manuals, which included teaching tolerance of homosexuality, he said, “have been locked up, and will not be distributed any further.”

In a separate interview four days earlier, the new head of the National Teacher Training Centre, Teresa Lecka, had told Wyborcza Gazeta, “The school’s role is to teach the distinction between good and evil, between beauty and ugliness… The school must show the drama, the emptiness, and the degeneration that homosexual practices lead to… Active homosexuality is a practice that is contrary to human nature. Polish schools should prefer good patterns of behaviour that lead to family relationships.” Teaching about homosexuality, she said, must show “the limits of freedom for young people.”

Both these senior Polish officials were appointed by the Kaczynzskis’ ultra-homophobic minister of education, Roman Giertych, head of the Catholic nationalist, gay-baiting, anti-Semitic League of Polish Families party, the third member of the Kaczynskis’ right-wing governing coalition. […]"

Is the Polish government considering the possibility of reactivating all the many concentration camps the Nazis established in the country?
Because, if tolerance may not be taught – "it ruins our civilization" – and freedom is available only for some – "the limits of freedom [must be shown to] young people", large thousands, even millions, of Poles will definitely have to be re-educated…

Do you know when exactly George Orwell published "Animal Farm" and "1984"?

Is this the Europe we all want to build and be an integral part of?
What is going on – or not going at all – in Brussels, Strasburg, Luxemburg?
Why haven't we, European citizens, heard a single word yet from the Council of Europe about this serious matter?
How is it possible that people like these are responsible for cultural and educational policies in a country as Poland? Or is this somehow admissible in Poland and other member states but not in, say, France, UK, Germany and others?
Once again, George Orwell: "Some are more equal than others."
With this Europe I have nothing whatsoever to do.

sábado, 4 de novembro de 2006

New7Wonders: have you voted yet?

This is part of a Newsletter I just received.
I have already voted for the New Seven Wonders of the Modern World!
And you, dear blogger friends, have you voted too? Or are you willing to? So go ahead! Find out all about it.

"European World Tour Ends With a Bang after Visiting Eight Finalists

World Tour Launches in Athens
Declaration in Lisbon, Portugal


After successful visits to the Acropolis in Athens, the Hagia Sophia (photo) in Istanbul, the Kremlin and St Basil's Cathedral in Moscow, the Colosseum in Rome, Neuschwanstein Castle in Bavaria, and Stonehenge in England, the European leg of the World Tour ended at the Alhambra, in Spain, on October 24.th. From the launch on, as the New7Wonders hot-air balloon rose in the pale light of an Athenian dawn to mark the start of the Tour at the ancient Acropolis, there were many incredible moments and meetings with fascinating people. We met historians, politicians, actors, museum curators, Bavarian dancers and singers and, in Stonehenge, real druids with long beards and flowing, white robes!

Watching the New7Wonders airship soaring through the European sky one last time as it gracefully flew above and around the Alhambra, the N7W team reflected on how well it had all gone. For one, despite bad forecasts and lots of rain the days before our events, we always had great weather!

See the exciting photos and read all about the World Tour online at www.new7wonders.com/worldtour.

We head to Asia next, with the first stop being the Great Wall of China on November 7.th.
Next year, we will be in Africa, the Middle East and South and North America.
As you know, the finale will be the Official Declaration of Modern World's New Seven Wonders on

July 7.th 2007 – 07.07.07 in Lisbon!"


… And that will happen at the Benfica Football Club's brand-new Luz Stadium!