sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Cyril Collard in memoriam

«Je remonte la rua das Janelas Verdes. J'entre au musée des Arts anciens. C'est sombre et frais. Je reste longtemps devant un polyptyque du quinzième siècle attribué à Nuno Gonçalves où est représentée la vénération de saint Vincent de Fora par des personnages de l'Église, des militaires et des bourgeois.

Dehors, tout a changé. La pluie s'est arrêtée. Je m'assois sur un vieux banc en bois du jardin du 9-Avril. Le soleil frappe mon visage du côté droit. Le port est là, en contrebas, passé les rails du tramway et ceux du train qui longe la côte vers Estoril; ensuite c'est le Tage, vert clair, piqué de moutons; les grues qui cachent presque entièrement le Christ Roi érigé sur l'autre rive; des cheminées, des coques de navires.

Il fait beau comme jamais. Je suis vivant; le monde n'est pas seulement une chose là, extérieure à moi-même: j'y participe. Il m'est offert. Je vais probablement mourir du sida, mais ce n'est plus ma vie: je suis dans la vie.»

Cyril Collard, Les nuits fauves

A adaptação cinematográfica, realizada e protagonizada pelo autor, foi galardoada com o César para o melhor filme de 1993.


Cyril Collard nasceu em Paris, a 19 de Dezembro de 1957. Quando se realizou a cerimónia para a entrega dos Césares, Cyril já não esteve presente. Faleceu em Paris, a 5 de Março de 1993.

Romance e filme são retratos crus de um estilo de vida que condenaria tantos a uma morte prematura. Cyril sabia que estava a caminho do fim e como que ganhou asas para realizar o filme que foi o seu canto do cisne.

O final apresenta cenas de grande beleza rodadas em Lisboa, entre as quais recordo uma travessia da ponte 25 de Abril num descapotável: um lancinante grito de apelo – e um vibrante testemunho de apego – à vida.


«Subo a Rua das Janelas Verdes. Entro no Museu de Arte Antiga. Está sombrio e fresco. Fico bastante tempo em frente de um políptico do século XV atribuído a Nuno Gonçalves que representa a veneração de São Vicente de Fora por personalidades da Igreja, militares e burgueses.

Lá fora tudo mudou. A chuva parou. Sento-me num velho banco de madeira do Jardim 9 de Abril. O sol bate-me no rosto do lado direito. O porto fica ali em baixo, para lá dos carris do eléctrico e do comboio que segue ao longo da costa em direcção ao Estoril. A seguir fica o Tejo, verde-claro, encarneirado; os guindastes que quase por completo escondem o Cristo-Rei erigido na outra margem; chaminés, cascos de navios.

Está mais agradável que nunca. Estou vivo. O mundo não é apenas uma coisa existente, exterior a mim próprio: participo nele e ele é-me dado. Provavelmente vou morrer de sida, mas já não é a minha vida. Eu sou parte da vida.»

As Noites Fulvas

Tradução de RIC

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Ingmar Bergman – efter en månad…

«Till vår bästa vän Ingmar, som jag vill minnas alltid, som den som har i sin blick den nordiska sommarens solljus… Tack så mycket!»


Ingmar Bergman och Liv Ullmann

«Höstsonaten» – Liv Ullmann och Ingrid Bergman

My favourite films

Sommaren med Monika (Mónica e o Desejo)
En lektion i kärlek (Uma Lição de Amor)
Det sjunde inseglet (O Sétimo Selo)
Smultronstället (Morangos Silvestres)
Persona (A Máscara)
Viskningar och rop (Lágrimas e Suspiros)
Trollflöjten (A Flauta Mágica)
Ormens ägg / Das Schlangenei (O Ovo da Serpente)
Höstsonaten (Sonata de Outono)
Ur marionetternas liv / Aus dem Leben der Marionetten (Da Vida das Marionetas)
Fanny och Alexander (Fanny e Alexandre)

You'll find a most exhaustive register of Bergman's wide-ranging work
here.

This is only my humblest tribute to a great man and an even greater artist.

RIC

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Um recado – muito – importante!


Recentemente, Bill Gates fez uma alocução numa escola secundária sobre onze factos que os alunos não aprenderiam – nem aprenderão! – na escola.

Referiu como as pedagogias lúdicas, politicamente correctas, criaram uma geração de indivíduos sem nenhum conceito da realidade, e como essa falácia os armadilhou para o falhanço no mundo real.

Regra 1: A vida não é justa: habituem-se à ideia!

Regra 2: O mundo não quer saber da vossa auto-estima. O mundo espera que vocês realizem algo ANTES de se sentirem bem convosco próprios.

Regra 3: Não vão ganhar mil euros por mês (*) mal saiam da escola secundária; nem serão vice-presidentes com telefone no carro enquanto não tiverem merecido ambos.

Regra 4: Se pensam que o vosso professor é duro e exigente, esperem até terem um patrão!

Regra 5: Servir hambúrgueres não belisca a vossa dignidade. Os vossos avós tinham uma palavra diferente para servir hambúrgueres: chamavam-lhe oportunidade.

Regra 6: Se fizerem asneira, a culpa não é dos vossos pais; portanto, nada de lamúrias sobre os vossos erros; aprendam com eles!

Regra 7: Antes de vocês nascerem, os vossos pais não eram tão chatos como são agora. Começaram a sê-lo por pagarem as vossas despesas, por limparem a vossa roupa e por vos ouvirem dizer que vocês é que são fixes. Assim, antes de quererem salvar a floresta equatorial de parasitas da geração dos vossos pais, tentem desparasitar os roupeiros dos vossos quartos.

Regra 8: A vossa escola pode ter abolido vencedores e vencidos, mas a vida NÃO. Em alguns casos, até as reprovações foram abolidas, e vocês têm TANTAS VEZES quantas quiserem para dar a resposta certa. Isto não tem a mínima semelhança com QUALQUER COISA na vida real.

Regra 9: A vida não se divide em períodos. Não há Verões inteiros de férias, e muito poucos empregadores estarão interessados em ajudar-vos a ENCONTRAREM-SE. Façam isso no vosso tempo livre.

Regra 10: A televisão NÃO é a vida real. Na vida real, as pessoas têm realmente de sair do café e ir para os seus trabalhos.

Regra 11: Sejam simpáticos para com os marrões. É altamente provável que acabem por trabalhar para um deles…

(*) Adaptação à realidade portuguesa.

Se concordar, faça circular este recado.
Se tiver filhos em idade escolar, faça-os lê-lo.
… E, já agora, por ter podido lê-lo, agradeça ao seu professor...

Encontrará o texto original
aqui.

Thank you so very much, dear M.!

Traduzido por RIC

terça-feira, 28 de agosto de 2007

João Domingos Bomtempo


Nasce em Lisboa a 28 de Dezembro de 1775, filho de um oboísta italiano, Francesco Saverio Bomtempo, e de uma portuguesa. Realiza os primeiros estudos musicais com o pai, oboísta da orquestra real de D. José, continuando-os mais tarde no Seminário Patriarcal de Lisboa. Aos 14 anos torna-se cantor na capela real da Bemposta e, aos 20, por falecimento do pai, substitui-o no cargo de oboísta da Real Câmara.

Em 1801, com 26 anos, parte para Paris para aprofundar os seus estudos musicais, nomeadamente do piano, tendo-se aí tornado amigo de Clementi, Cramer, Field e Dussek, entre outros.

Inicia-se um período de grande notoriedade para Bomtempo, quer como pianista, quer como compositor e, mais tarde, como professor. Surgem as primeiras publicações de composições suas (Grande Sonata para piano, op. 1, e os primeiros dois concertos para piano, op. 2 e 3 respectivamente), e afirma-se a sua popularidade em Paris, onde brilha nos salões como solista.

Contudo, as invasões napoleónicas da península Ibérica comprometem a sua estada em França, pelo que abandona Paris em 1810.

O período de 1810 a 1814, em que permanece ininterruptamente em Londres, é fértil em produções, entre as quais, por exemplo, as 3 Grandes Sonatas, op. 9, o Hino Lusitano, op. 10, a I Grande Sinfonia, op. 11, a Marcha de Lord Wellington, bem como outras sonatas e concertos.

Com o afastamento do perigo napoleónico e a reorganização da Europa saída do Congresso de Viena de 1815, a mobilidade de Bomtempo é muito maior, passando a circular sem constrangimentos entre Londres, Paris e Lisboa. Compõe a cantata A Paz da Europa e, paralelamente, desenvolve a sua actividade pedagógica publicando em Londres uma obra didáctica "Elementos de Música e Método de Tocar Pianoforte", a qual é, segundo afirma na dedicatória, "oferecida à Nação Portuguesa".

De regresso a Portugal, dedica-se à composição da que é considerada a sua obra-prima, o Requiem em Memória de Camões, integrada no mesmo espírito de revivalismo que tinha originado a publicação da famosa edição de «Os Lusíadas» pelo Morgado de Mateus em França.

Em 1820, e na sequência do movimento liberal em Portugal, Bomtempo regressa a Lisboa, desde logo mostrando-se simpatizante da causa e compondo diversas obras evocativas desses novos tempos.

É o caso, por exemplo, da Missa "composta em obséquio da Regeneração Portuguesa" que será executada, juntamente com o Te Deum, na festa do juramento das Bases da Constituição, na Igreja de São Domingos, a 29 Março de 1821. No mesmo ano dirige o Requiem em primeira audição lisboeta, na mesma igreja, em memória dos supliciados de 1817 e do General Gomes Freire de Andrade. Compõe ainda uma Serenata que inclui várias variações sobre o Hino da Carta.

Bomtempo torna-se o compositor solicitado para a celebração de diversos actos oficiais e/ou litúrgicos da Corte. Ao mesmo tempo, tenta implantar em Portugal o gosto pela música instrumental, que estava a desenvolver-se na Europa, através da criação de uma Sociedade Filarmónica de concertos, segundo o modelo da sua congénere londrina, em cujos concertos pretendia dar a conhecer não apenas a sua música, mas igualmente a dos clássicos vienenses.

Durante o conturbado período que culminou com a vitória dos liberais em 1833, Bomtempo viu as suas actividades francamente restringidas, tendo-se alegadamente refugiado no consulado da Rússia e escapado de ser preso durante as amotinações populares em que participou – as célebres "archotadas".

Com a tomada do poder por D. Pedro IV, Bomtempo é nomeado professor de D. Maria II e agraciado com a Comenda da Ordem de Cristo.


Em Junho de 1834 retoma o projecto de criação de um estabelecimento de ensino da música, que ficara adiado em 1822, apresentando o respectivo plano, o qual teve por despacho "guarde-se para se tomar em consideração em tempo oportuno". Finalmente, a 5 de Maio de 1835, é criado por decreto o "Conservatório de Música" que ficou anexo à Casa Pia e do qual Bomtempo foi nomeado director.

A 18 de Agosto de 1842 morre com 66 anos, vítima de uma "apoplexia".

Alguns esforços têm sido feitos para divulgar a música de João Domingos Bomtempo, nomeadamente algumas gravações, mas a grande parte mantém-se desconhecida e inédita. Conhecem-se duas sinfonias, embora se admita a existência de mais cinco (!), que transmitem de um modo mais flagrante a sua personalidade musical e as suas influências invulgares para compositor ibérico da época, nomeadamente as germânicas clássicas.

RIC (a partir de texto biográfico de Maria José Borges)


English summary

João Domingos Bomtempo was a Portuguese classical pianist, composer and pedagogue. He was son of an Italian musician of the Portuguese court orchestra, and studied at the Music Seminary of the Patriarchal See in Lisbon.
Unlike most of his contemporaries, he was not interested in opera and, in 1801, instead of going to Italy, he travelled to Paris, starting a virtuoso pianist career. He moved to London in 1810 and got acquainted with the liberal circles. In 1822 he returned to Lisbon and tried to found a Philharmonic Society to promote public concerts of contemporary music.
After the Portuguese civil war between liberals and absolutists, Bomtempo became a music teacher of Queen Maria II and first director of the National Conservatory, created in 1835.
As a composer, Bomtempo produced a vast amount of concertos, sonatas, variations and fantasias for the piano. His two known symphonies are the first to be composed by a Portuguese musician.
His masterpiece is his Requiem to the Memory of Luís de Camões.

Wikipedia

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

«Sous le signe du… cygne»

Charles Baudelaire

«Le Cygne»

À Victor Hugo

I

Andromaque, je pense à vous ! Ce petit fleuve,
Pauvre et triste miroir où jadis resplendit
L'immense majesté de vos douleurs de veuve,
Ce Simoïs menteur qui par vos pleurs grandit,

A fécondé soudain ma mémoire fertile,
Comme je traversais le nouveau Carrousel.
Le vieux Paris n'est plus (la forme d'une ville
Change plus vite, hélas! que le cœur d'un mortel) ;

Je ne vois qu'en esprit tout ce camp de baraques,
Ces tas de chapiteaux ébauchés et de fûts,
Les herbes, les gros blocs verdis par l'eau des flaques,
Et, brillant aux carreaux, le bric-à-brac confus.

Là s'étalait jadis une ménagerie ;
Là je vis, un matin, à l'heure où sous les cieux
Froids et clairs le Travail s'éveille, où la voirie
Pousse un sombre ouragan dans l'air silencieux,

Un cygne qui s'était évadé de sa cage,
Et, de ses pieds palmés frottant le pavé sec,
Sur le sol raboteux traînait son blanc plumage.
Près d'un ruisseau sans eau la bête ouvrant le bec

Baignait nerveusement ses ailes dans la poudre,
Et disait, le cœur plein de son beau lac natal :
« Eau, quand donc pleuvras-tu? quand tonneras-tu, foudre ? »
Je vois ce malheureux, mythe étrange et fatal,

Vers le ciel quelquefois, comme l'homme d'Ovide,
Vers le ciel ironique et cruellement bleu,
Sur son cou convulsif tendant sa tête avide,
Comme s'il adressait des reproches à Dieu !

II

Paris change ! mais rien dans ma mélancolie
N'a bougé ! palais neufs, échafaudages, blocs,
Vieux faubourgs, tout pour moi devient allégorie,
Et mes chers souvenirs sont plus lourds que des rocs.

Aussi devant ce Louvre une image m'opprime :
Je pense à mon grand cygne, avec ses gestes fous,
Comme les exilés, ridicule et sublime,
Et rongé d'un désir sans trêve ! et puis à vous,

Andromaque, des bras d'un grand époux tombée,
Vil bétail, sous la main du superbe Pyrrhus,
Auprès d'un tombeau vide en extase courbée ;
Veuve d'Hector, hélas ! et femme d'Hélénus !

Je pense à la négresse, amaigrie et phtisique,
Piétinant dans la boue, et cherchant, l'œil hagard,
Les cocotiers absents de la superbe Afrique
Derrière la muraille immense du brouillard ;

A quiconque a perdu ce qui ne se retrouve
Jamais, jamais ! à ceux qui s'abreuvent de pleurs
Et tettent la Douleur comme une bonne louve !
Aux maigres orphelins séchant comme des fleurs !

Ainsi dans la forêt où mon esprit s'exile
Un vieux Souvenir sonne à plein souffle du cor!
Je pense aux matelots oubliés dans une île,
Aux captifs, aux vaincus !… à bien d'autres encor !

Les Fleurs du Mal (1857)



«O Cisne»

A Victor Hugo

I

Andrómaca, penso em ti! O pequeno rio,
Pobre e triste espelho onde outrora brilhou tanto
A imensa majestade do teu desvario,
O falso Simóis regado pelo teu pranto,

Fecundou num clarão minha fértil saudade,
Quando eu andava pelo novo Carrousel.
Foi-se a velha Paris (a forma da cidade
Muda mais rápido que o coração, infiel);

Só na memória revejo os velhos sobrados,
Pedaços de colunas, montes de argamassa,
As ervas, o limo nos muros esverdeados
E o bricabraque reluzindo nas vidraças.

Ali havia noutros tempos um viveiro;
Lá eu vi, certa manhã, quando sob o céu
Frio e claro o Trabalho acorda e o nevoeiro
De pó sobe das ruas como negro véu,

Um cisne, que da gaiola havia escapado,
E, esfregando os pés no calçamento incerto,
Arrastava as plumas brancas no chão crestado.
Perto de um rego sem água, o bico aberto,

Banhava as asas na poeira, com aflição,
E dizia, sonhando com o lago natal:
"Água, quando choverás? Onde estás, trovão?"
Vejo a ave infeliz, mito estranho e fatal,

Apontar para o céu como o homem de Ovídio,
Para o céu irónico de um azul maldoso,
Torcendo a cabeça sobre o pescoço ofídio,
Como amaldiçoando o Todo-poderoso!

II

Paris muda! Mas na minha melancolia
Nada mudou! Velhas ruas, nova cidade,
Palácios, para mim tudo é alegoria
E nada pesa mais do que a minha saudade.

Diante do Louvre, uma imagem me oprime.
Penso no meu grande cisne, fora de si,
Como os exilados, ridículo e sublime,
Roído pelo desejo! E penso em ti,

Andrómaca, esposa de um herói bravio,
Escrava que Pirro tratou como um feitor,
Curvada em pranto sobre um túmulo vazio;
Mulher de Heleno, a viúva de Heitor!

Eu penso na negra, esquálida e doente,
Os pés na lama, o olhar perdido a buscar
Um coqueiral da África, inexistente,
Atrás do muro de névoa de um boulevard;

Penso em quem perdeu o que não se recupera
Jamais, jamais! Em quem mata a sede chorando
E mama na Dor como numa boa fera!
Nos órfãos famintos, como flores murchando!

Na floresta onde o meu espírito se esconde
Estas lembranças soam por todos os cantos!
Penso nos náufragos, largados não sei onde,
Nos presos, nos vencidos!… E noutros, tantos!

Tradução de Jorge Pontual, em «New York on Time»



Tive decerto a inaudita sorte de encontrar esta magnífica tradução portuguesa que me deixou completamente rendido e extasiado…
A tal ponto que já não sei exactamente de que poema gosto mais – se do francês, se do português…
Há tradutores que, porventura, estarão na posse da divina chave secreta…
Uma excelente semana para todos!

RIC

domingo, 26 de agosto de 2007

Regalo para os olhos e a fantasia...

O prometido é devido, e neste caso é bem verdade que o prazer é todo meu e a honra também!
Mostro, hoje e aqui, a arte pictórica de um amigo bloguista que, pelo que pude verificar, é mais conhecido – e mais premiado também – como cartoonista, mas a sua pintura, a meu ver, ombreia facilmente com a de nomes nacionais consagrados. Nicknames à parte, apresento António Ferreira dos Santos.


Ascensão

Barroco

Devaneio

Outono 2

Paisagem

Vitral

Muito obrigado, António, por esta oportunidade e pela tua arte!

Para um contacto in loco com o pintor e o cartoonista, aqui fica o elo para o seu blogue «Cartoonices – Retalhos da arte de um cartoonista». Vão lá ver e deliciem-se!

Dedico este édito – para mim, muito especial – à memória já saudosa do professor, intelectual, escritor e figura cimeira da cultura portuguesa, Eduardo Prado Coelho.

RIC

sábado, 25 de agosto de 2007

Georges Bataille e o Erotismo

«Bataille démontre en quoi l'érotisme est une expérience de nature divine, sacrée, que l'Église s'est efforcée de dévaloriser.
Les termes de tabou et de transgression sont également analysés.
Entré au séminaire à l'âge de vingt ans, Georges Bataille admet rapidement la faillite de sa vocation religieuse. Il se rend dès lors à l'école des Chartes pour y suivre une formation d'archiviste, enrichie d'une initiation à la psychanalyse et à la philosophie.
La lecture des œuvres de Nietzsche, la fréquentation des surréalistes et la rencontre de Laure le convainquent d'échapper à la médiocrité du monde par l'excès, la transgression et l'érotisme.
Ces résolutions lui inspirent récits (L'abbé C.) et essais (L'expérience intérieure) qu'il rédige tout en poursuivant sa carrière de conservateur de bibliothèque. Grâce à l'aide de Roger Caillois et Michel Leiris, il a également fondé un collège de sociologie sacrée, ainsi que la revue philosophique "Acéphale", militant pour une lecture non fasciste de Nietzsche.
Ses œuvres complètes, "somme athéologique", témoignent de son érudition et de la diversité de ses engagements: littérature, théologie, économie, politique, histoire de l'art, érotisme…
Écrivain longtemps maudit, Bataille a été encensé à sa mort par une nouvelle génération d'auteurs et de philosophes, dont Philippe Sollers ou Michel Foucault.»



O erotismo de um rosto e de um olhar

Bataille demonstra como o erotismo é uma experiência de natureza divina, sagrada, que a Igreja se tem esforçado por desvalorizar.
Os termos de tabu e de transgressão são igualmente analisados.
Tendo entrado para o seminário aos vinte anos, Georges Bataille admite rapidamente o insucesso da sua vocação religiosa. Entra então para a escola des Chartes para seguir uma formação de arquivista, enriquecida por uma iniciação à psicanálise e à filosofia.
A leitura das obras de Nietzsche, o convívio com os surrealistas e o encontro com Laure convencem-no a escapar à mediocridade do mundo pelo excesso, transgressão e erotismo.
Estas decisões inspiram-lhe narrativas ("O Abade C.") e ensaios ("A Experiência Interior") que redige ao mesmo tempo que prossegue a sua carreira de conservador de biblioteca. Graças à ajuda de Roger Caillois e Michel Leiris, fundou igualmente um colégio de sociologia sacra, bem como a revista filosófica "Acéphale", que milita por uma leitura não fascista de Nietzsche.
As suas obras completas, "suma ateológica", testemunham da sua erudição e da diversidade dos seus compromissos: literatura, teologia, economia, política, história da arte, erotismo…
Escritor muito tempo maldito, Bataille foi incensado ao morrer por uma nova geração de autores e filósofos, entre os quais Philippe Sollers e Michel Foucault.

Tradução de RIC


O erotismo de um olhar e de um sorriso

… E até a própria música não é alheia ao erotismo que decorre da feliz combinação dos sons e dos silêncios.
Gozem um feliz fim-de-semana!…

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Ted and Sylvia

Edward James Hughes (August 17th, 1930 - October 28th, 1998) is the English poet and children's writer known as Ted Hughes.

Critics routinely rank him as one of the best poets of his generation. He was British Poet Laureate from 1984 until his death.


Ted Hughes was married from 1956 to 1963 to the American poet Sylvia Plath, who committed suicide in 1963 at the age of 30. His part in the relationship became controversial, particularly to some feminists and American admirers of Plath.

Hughes himself never publicly entered the debate, but his last poetic work – "Birthday Letters", 1998 – explored their complex relationship, and to many, put him in a significantly better light.

Hughes studied English, anthropology and archaeology at Pembroke College, Cambridge. At a party to launch the poetry magazine "St. Botolph's Review" he met Sylvia Plath, and they married just four months thereafter.

The couple moved to the United States, settling in western Massachusetts. After spending time in Boston, they returned to England. They had two children, but separated in the autumn of 1962. Ted continued to live at Court Green, Devon, on and off, with Assia Wevill, after Plath's death on February 11th, 1963.

As Plath's widower, Hughes became the executor of her personal and literary estates. He oversaw the publication of her manuscripts, including "Ariel" in 1966. He also claims to have destroyed the final volume of Plath's journal, detailing their last few months together. In his foreword to "The Journals of Sylvia Plath", he defends his action as a consideration for the couple's young children.

Ted Hughes continued to live at the house in Devon until his death by heart attack on October 28th, 1998, while undergoing treatment for colon cancer.

He received the Order of Merit from Queen Elizabeth II just before his death.

In 2003 he was portrayed by British actor Daniel Craig in Sylvia, a biographical film of Sylvia Plath, portrayed by Gwyneth Paltrow.

Wikipedia (abridged and adapted)


Lovesong

He loved her and she loved him.
His kisses sucked out her whole past and future or tried to
He had no other appetite
She bit him she gnawed him she sucked
She wanted him complete inside her
Safe and sure forever and ever
Their little cries fluttered into the curtains

Her eyes wanted nothing to get away
Her looks nailed down his hands his wrists his elbows
He gripped her hard so that life
Should not drag her from that moment
He wanted all future to cease
He wanted to topple with his arms round her
Off that moment's brink and into nothing
Or everlasting or whatever there was

Her embrace was an immense press
To print him into her bones
His smiles were the garrets of a fairy palace
Where the real world would never come
Her smiles were spider bites
So he would lie still till she felt hungry
His words were occupying armies
Her laughs were an assassin's attempts
His looks were bullets daggers of revenge
His glances were ghosts in the corner with horrible secrets
His whispers were whips and jackboots
Her kisses were lawyers steadily writing
His caresses were the last hooks of a castaway
Her love-tricks were the grinding of locks
And their deep cries crawled over the floors
Like an animal dragging a great trap
His promises were the surgeon's gag
Her promises took the top off his skull
She would get a brooch made of it
His vows pulled out all her sinews
He showed her how to make a love-knot
Her vows put his eyes in formalin
At the back of her secret drawer
Their screams stuck in the wall

Their heads fell apart into sleep like the two halves
Of a lopped melon, but love is hard to stop

In their entwined sleep they exchanged arms and legs
In their dreams their brains took each other hostage

In the morning they wore each other's face.

Ted Hughes

RIC

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Da vil mesquinhez nacional

«Os bens supérfluos tornam a vida supérflua.»

Pier Paolo Pasolini (1922-75)

«Não mais, Musa, não mais, que a Lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não o dá a Pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Duma austera, apagada e vil tristeza.»

Luís Vaz de Camões, Os Lusíadas, X-145

Eu estou – e estaremos muitos, decerto, e felizmente! – cansadíssimos e fartíssimos da mediocridade mesquinha, pacóvia, provinciana, pirosa e bacoca que, dia a dia, vai proliferando neste cantinho peninsular. Mas é sabido que ela é endémica entre nós, como Camões bem no-lo fez notar.

Ainda que de uma forma intensa e ácida, chamando as coisas pelos nomes e pegando o touro pelos cornos, adjectivando e adverbializando, polemizar não cai nunca no insulto gratuito, na boca rasca ou no paleio acintoso.

Polemizar implica argumentar. E argumentar implica a organização lógica do discurso. E porque é por escrito, não pode haver lugar para subentendidos, alusões bacocas ou insinuações grotescas que a comunicação presencial «aguenta» por força da gestualidade. E ainda porque é por escrito, não se compadece com conversas de café sobre futebol e gajas boas, ou trapos e gajos bons – entre outros «temas»…

Há que manter o nível, mesmo no calor mais intenso da refrega mais desapiedada. E para saber fazê-lo é necessário não perder nunca de vista um valor primordial que, nos dias de hoje e de igual modo por todo o mundo, está cada vez mais arredado das relações humanas – com seriíssimos prejuízos para as nossas vidas – o respeito.

Portugal envolto em fumos mentais

Recuso-me a aceitar quaisquer «campanhas» destinadas à promoção da toleranciazinha, com a mensagem subliminar de «olhar para o lado para não insultar ou mesmo para não chegar a vias de facto». Desconfio da tolerância.

Exijo para mim, outrossim, o respeito; aquele mesmo que devo – e dou – aos outros. Nada mais. Promove-se a toleranciazinha tal como nos idos de sessenta se apregoava a caridadezinha: atitude abjecta e abominável!

Com o que é que somos confrontados a todos os níveis, sempre que se trata de qualquer polémica? Com meras picardias de baixo nível, com insultos e bengaladas à mistura, porrada verbal, banditismo e terrorismo argumentativo, discursos ornados dos useiros e vezeiros palavrões e obscenidades e sujeitos a lógicas fortuitas e aleatórias, sem qualquer intenção de convencer o adversário ou sequer de derrotá-lo inteligentemente. O que triunfa é a repugnante esperteza saloia, maledicente, que prevalece sobre tudo e sobre todos, alastrando até a níveis e a áreas onde ainda há pouco era impensável – quanto mais admissível… – que tais práticas se verificassem.

Aborreço as questiúnculas ocas e os despiques infantis que conduzem a nada vezes nada. Tenho para mim que todo o tempo é pouco para viver cada vez melhor: conviver, aprender, trocar ideias e opiniões, construir, sempre numa base insofismável de verdade e boa-fé. Tudo o que se afasta deste cânone remete-me invariavelmente para a indiferença e o silêncio.

Seremos cada vez mais terceiro-mundistas em termos de princípios e valores, e o nosso «primeiro mundo» será cada vez mais tão-só uma mera miragem, um arrebique de fachada, fruto sobretudo de mirabolantes manipulações estatísticas.

É uma casa portuguesa, com certeza!

RIC

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

«No sé tú»…


Cisne Negro (cygnus atratus)

No sé tú
pero yo no dejo de pensar
ni un minuto me logro despojar
de tus besos, tus abrazos
de lo bien que la pasamos la otra vez.


No sé tú
pero yo quisiera repetir
el cansancio que me hiciste sentir
con la noche que me diste
y el momento que con besos construiste.


No sé tú
pero yo te he comenzado a extrañar
en mi almohada no te dejo de pensar
con las gentes mis amigos y las calles,
sin testigos.


No sé tú
pero yo te busco en cada amanecer
mis deseos no los puedo contener
en las noches cuando duermo
sin insomnio yo me enfermo.
Me haces falta, mucha falta,
no sé tú…


… O poente nosso de cada dia…

Muitas vezes, um livro; outras, algumas canções e respectivas letras…
É o bastante para seguir pelo areal fora em busca de mais um pedaço de mim…
Caída a noite, chego-me ao belo fogo na areia, aninho-me na manta de sempre, olho o céu e conto as estrelas…
Amanhã é outro dia…

RIC

terça-feira, 21 de agosto de 2007

For Lisbon lovers...

«Greater Lisbon» seen from far up in outer space
(The red square shows the place I call home)

Here's my little «red square»

No longer Tagus, not yet Atlantic…


From the black leaning tower on the left to the Discoveries Monument on the right – the waterfront of a lifetime

… «And the night begins to be real»…


Under full moon's spell...


RIC

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Franz Peter Schubert


Desenho de Leopold Kupelwieser, 1813

O compositor austríaco do Romantismo nasceu a 31 de Janeiro de 1797 em Himmelpfortgrund – hoje parte do município distrital vienense de Alsergrund – e faleceu a 19 de Novembro de 1828, em Viena.

Em audição:

Trio para piano, violino e violoncelo n.º 2 em Mi bemol maior, op. 100, Deutsch 929, 2.º Movimento, andante con moto

Trata-se de uma canção folclórica sueca do género marcha, cujo tema atravessa todo o movimento.
Segundo o manuscrito original pertencente à família Wittgenstein, este trio foi escrito em Viena, em Novembro de 1827.
A sua primeira execução pública decorreu no mês seguinte, na imponente sala vienense do Musikverein. Uma segunda execução, organizada pelo próprio compositor, teve lugar na mesma sala em Março de 1828.

A banda sonora de Barry Lyndon (1975) de Stanley Kubrick (com Ryan O'Neal e Marisa Berenson) contribuiu para a divulgação junto do grande público não melómano de várias composições e compositores ditos eruditos, como aliás outros realizadores e outros filmes o haviam já feito, faziam e continuaram a fazer, como por exemplo:

• Luchino Visconti, Morte a Venezia (1971), Adagietto da 5.ª sinfonia de Gustav Mahler;
• Claude Lelouch, Les Uns et les autres (1981), Bolero de Maurice Ravel;
• Sydney Pollack, Out Of Africa (1985), Adagio do concerto para clarinete e orquestra em Lá maior de Wolfgang Mozart.

A versão que se ouve é a adaptação feita para o filme por Leonard Rosenman, e tocam:

• Ralph Holmes, piano;
• Moray Welsh, violino;
• Anthony Goldstone, violoncelo.

Para os muitos mais pormenores envolvendo a vida e a obra de Schubert é só começar pela Wikipédia, por exemplo. O texto alemão é, a meu ver, muitíssimo completo, mas o inglês não lhe ficará muito atrás.
Quanto ao desenho que abre este édito, escusado será dizer que é muito controverso: poucos acreditam tratar-se do verdadeiro Schubert aos 16 anos, atendendo a toda a iconografia posterior existente que nos mostra o músico bem menos favorecido pela beleza física. A da alma é para sempre incontestável. Mas aqueles tempos eram românticos por excelência…

Espero que gostem e apreciem!

RIC

domingo, 19 de agosto de 2007

Rangiroa? Definitely!










Rangiroa, which means "Far Sky" in Tuamotuan, is an atoll of the archipelago of Tuamotu in French Polynesia and one of the largest in the world.
It is located at approximately 350 km in the North-East of Tahiti, in the Palliser group. In its high limits of size the lagoon is 80 km long and 32 km wide, and its maximum depth is only 35 meters. It is so large that it has its own horizon…
The atoll consists of about 250 islands, islets and sandbars comprising a total land area of about 170 square km, and there are approximately 100 narrow passages, called «hoa», in the reef.

Paradise on earth, wouldn't you say?…
This is what I call true evasion!
Enjoy it lavishly!
I wish I were on Rangiroa right now!…

RIC (with a little help of Wikipedia)

sábado, 18 de agosto de 2007

«Não lamentes, oh Nise, o teu estado»...























Não lamentes, oh Nise, o teu estado;
Puta tem sido muita gente boa;
Putíssimas fidalgas tem Lisboa,
Milhões de vezes putas têm reinado:

Dido foi puta, e puta dum soldado;
Cleópatra por puta alcança a coroa;
Tu, Lucrécia, com toda a tua proa,
O teu cono não passa por honrado;

Essa da Rússia imperatriz famosa,
Que inda há pouco morreu (diz a Gazeta),
Entre mil porras expirou vaidosa.

Todas no mundo dão a sua greta;
Não fiques, pois, oh Nise, duvidosa,
Que isto de virgo e honra é tudo peta.

Manuel Maria Barbosa du Bocage

Mas…

Não lamentes, Alcino, o teu estado,
Corno tem sido muita gente boa;
Corníssimos fidalgos tem Lisboa,
Milhões de vezes cornos têm reinado.

Siqueu foi corno, e corno de um soldado:
Marco António por corno perdeu a coroa;
Anfitrião, com toda a sua proa,
Na Fábula não passa por honrado;

Um rei Fernando foi cabrão famoso
(Segundo a antiga letra da gazeta)
E entre mil cornos expirou vaidoso;

Tudo no mundo é sujeito à greta:
Não fiques mais, Alcino, duvidoso
Que isto de ser corno é tudo peta.

José Anselmo Correa Henriques

Então, em que é que ficamos?!
É delas o mundo, porque delas é a matriz?…
Ou deles, porque com o membro o comandam?…

Apraz-me muitíssimo reler o soneto de Bocage – o tal que «devorei» num intervalo de galhofa entre duas aulas, nos «muito idos» de setenta… Coisa proibidíssima!
Ainda hoje solto fartas gargalhadas ao chegar ao 11.º verso, que é primoroso!
Riam muito e tenham, já agora, um excelente fim-de-semana!

RIC

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

«Are we succumbing to sex?»...

GAAN WE AAN SEKS TEN ONDER?
Seks: de lasten van de lust


Nederland is de meest geseksualiseerde samenleving ooit.
De bezorgdheid neemt toe, toch lijkt een moreel verval uit te blijven.
Feministen, conservatieven, moslims en sociaal- en christen-democraten spannen samen.
Zij keren zich tegen overdadige erotiek die de moderne mens zou doen ontsporen.
Maar is de vermindering van seksuele repressie niet vooral een zegen?
En moet onze seksshop niet verdedigd worden tegen de boerkaliefhebbers?
Jeroen Dijsselbloem heeft het niet makkelijk. Het spraakmakende Kamerlid van de PvdA beziet met permanente verontrusting de zedelijke ontwikkelingen in Nederland. Bijvoorbeeld de groeiende populariteit van porno op mobiele telefoons.
Scholieren zouden tegenwoordig 'massaal' naar blote mensen op hun gsm kijken. 'Dat is weer een voorbeeld van de huidige verslapte seksuele moraal,' vertelde Dijsselbloem vorige maand aan "Het Parool". 'Ik maak me daar grote zorgen over.'
Eerder sprak hij al in vermanende bewoordingen TMF en MTV toe.
De muziekzenders laten in de ogen van Dijsselbloem te veel blote (negerinnen) billen zien.
Het seksisme in de videoclips geeft een volstrekt verkeerd voorbeeld van de manier waarop mannen met vrouwen omgaan.
Het beschavingsoffensief van Dijsselbloem is opmerkelijk.
De laatste decennia liet de PvdA het ethisch reveil graag aan de confessionele partijen over.
In hun zorgen staan de sociaal-democraten zeker…

ELSEVIER - Omslagartikel

ARE WE SUCCUMBING TO SEX?
Sex: the burdens of lust


The Netherlands is the most sexualised society ever.
Concern increases, but a moral decline seems to stay away.
Feminists, conservatives, Moslems, and Social and Christian democrats conspire.
They turn themselves against excessive erotic which would do modern people go off the rails.

But isn't the reduction of sexual repression especially a blessing?
And don't our sex shops have to be defended against burkha lovers?

Jeroen Dijsselbloem doesn't have it easy. The talked-about Member of Parliament of the 'Partei van de Arbeid – PvdA' (Dutch Labour Party) considers the moral developments in the Netherlands with permanent distrust. For example, the growing popularity of porno on mobile phones.
Schoolboys nowadays look 'massively' at naked people on their GSM. 'That is an example of current slackened sexual morality,' told Dijsselbloem previous month to "Het Parool". 'I am deeply concerned about that.' Earlier he had already addressed TMF and MTV with admonishing words.
In the eyes of Dijsselbloem, the music senders show too much naked (black) buttocks.
Sexism in the videoclips gives a totally twisted example of the way men relate to women.
The civilising offensive of Dijsselbloem is remarkable.
In the last decades the PvdA gladly left the ethical awakening to the confessional parties.
In their cares the social democrats stand certain…

ELSEVIER - Cover article

Translated by RIC

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Happy birthday, Madonna!


Take A Bow

Take a bow, the night is over
This masquerade is getting older
Lights are low, the curtains down
There's no one here
[There's no one here, there's no one in the crowd]
Say your lines but do you feel them
Do you mean what you say when there's no one around
[no one around]
Watching you, watching me, one lonely star
[One lonely star you don't know who you are]

I've always been in love with you
[always with you]
I guess you've always known it's true
[you know it's true]
You took my love for granted, why oh why
The show is over, say good-bye
Say good-bye [bye bye], say good-bye

Make them laugh, it comes so easy
When you get to the part
Where you're breaking my heart
[breaking my heart]
Hide behind your smile, all the world loves a clown
[Just make them smile the whole world loves a clown]
Wish you well, I cannot stay
You deserve an award for the role that you played
[role that you played]
No more masquerade, you're one lonely star
[One lonely star and you don't know who you are]

I've always been in love with you [always with you]

Say good-bye [bye bye], say good-bye

All the world is a stage [world is a stage]
And everyone has their part [has their part]
But how was I to know which way the story'd go
How was I to know you'd break
[You'd break, you'd break, you'd break]
You'd break my heart

I've always been in love with you
[I've always been in love with you]
Guess you've always known
You took my love for granted, why oh why
The show is over, say good-bye

Say good-bye [bye bye], say good-bye
Say good-bye.















Kenneth 'Babyface' Edmonds

© 1994. Produced by Babyface and Madonna; background vocals by Babyface.


Here's my humble tribute to the great singer, performer, and woman!
Many happy returns of the day!

RIC

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

«E por vezes»…

Τα πάντα ρει, ουδέν μένει.
Tudo flui, nada permanece.
- Heraclito de Éfeso













E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos.














David Mourão-Ferreira


A caminho –
pelas vagas de silêncio
nesta praia.

Ante o mar
– mar pretérito,
mar presente,
mar sem tempo –
repouso o olhar
ao de leve
sobre a verde serenidade
deste secreto
entendimento.

Intensa
a Luz de sempre
refulge na vívida certeza
– Amizade.

RIC

terça-feira, 14 de agosto de 2007

«It Always Comes As A Surprise»…


«I can't be cool, or nonchalant
Call me an impulsive fool, you're all I want
You may be right, it's too much too soon
To talk of love all night in your bedroom

I don't know why it always comes as a surprise
To find I'm here with you
You smile, and I am rubbing my eyes
At a dream come true

I won't play games or waste your time
But I won't feel ashamed to speak my mind
So just relax, don't question why
For calculated facts will not apply

I don't know why it always comes as a surprise
To find I'm here with you
You smile, and I am rubbing my eyes
At a dream come true

In my life, there've been few
Who've affected me the way you do, you do
You do, you do

I'll tell no lies, I won't pretend
But if you've a broken heart, I'll help it mend

I don't know why it always comes as a surprise
To find I'm here with you
You smile, and I am rubbing my eyes
At a dream come true

Smile, and I am rubbing my eyes
At a dream come true.»

… Some great words I wish I could be telling someone right now…
But no, you just cannot have it all, can you?… Life isn't fair, and you just have to go on wishing for the best and living with what you've got. And sometimes that's just nothing at all.

RIC

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

II. Apenas uma vez?...


… E passado mais um dia morno entre os já muitos mornos que tenho atravessado, pelo fim da tarde saio para comprar cigarros.
O sol põe-se já por trás da torre de Belém, e eu caminho ao longo da Marginal, rumo à estação da BP de Pedrouços.
Que tempo sereno! Quanta calma no ar, neste lânguido fim de tarde de uma raríssima suavidade. Ninguém à vista. Apenas alguns carros passam por mim, a caminho do Estoril e de Cascais.
Quanta nostalgia ao recordar as vezes que contemplei o pôr-do-sol neste recanto único da foz do Tejo, onde a beleza me fez e faz esquecer tanta coisa… Se toda esta beleza fosse o que me bastasse para ser inteiro, seria decerto muito feliz. Oh se seria!… Mas…
De súbito, como já é habitual em mim há décadas, uma pequena frase musical salta-me ao caminho, acompanhada por três palavras furtivas – solamente una vez
Olho para o sol que vai caindo na linha do horizonte e tolda-se-me a vista. Duas incompreensíveis lágrimas pesadas alagam-me os olhos, e quase perco o equilíbrio por não conseguir ver onde pôr os pés.
Terá sido uma só vez? Ou poucas? Ou nenhuma? Que sei eu que me deixe afirmá-lo como mais uma verdade que me acompanha nesta caminhada que é a vida? Que vez? Que verdade? Que vida?
Ponho-me então a contar os carros que vão passando, a ver se me convenço de que há um número para lá da minha dúvida. Um plural.
E se acaso não sei de todo o que é amar?… E mais duas pesadas lágrimas caem. Quanta ausência de mim próprio… Olho para o horizonte de mar e sinto-me à deriva. Que vazio tão cheio de nada!… Por onde tenho eu andado?
A estação da BP chega entretanto ao pé de mim. Mesmo agora, eu estava ainda ali… Agora, estou aqui sem saber como chegou ela a mim. Solamente una vez...
Não tenho de encarar quem me atende. Ainda bem. Peço o que quero, pago e saio. Ninguém sabe da tempestade que está a abater-se sobre mim. A luz escoa-se, e a melancolia de mais um dia fugaz que passou sem história faz-me companhia no regresso a casa. Mais uma vez...
Ao chegar, ligo o computador e vou à procura de «Solamente Una Vez». Leio o poema, ouço o bolero, olho nos olhos do intérprete e… Pois, mais duas lágrimas pesadas caem.
Dia sem história?…

Escrever este texto soube-me bem, mas custou-me muito mais do que estaria disposto a pagar por ele…
A prosa confessional é dura e cara; custa, literalmente, os olhos da cara…

RIC

I. «Solamente Una Vez»

Solamente una vez
Amé en la vida,
Solamente una vez
Y nada más.

Una vez nada más en mi huerto
Brilló la esperanza,
La esperanza que alumbra el camino
De mi soledad.

Una vez, nada más,
Se entrega el alma,
Con la dulce y total
Renunciación.

Y cuando ese milagro
Realiza el prodigio de amarse,
Hay campanas de fiesta
Que cantan en el corazón.

Agustín Lara

… ¿Palabras para qué?…
Es un bellísimo bolero más que me hace amar a Luis Miguel, aunque no lo conozca… No lo he visto nunca. ¿Él es este?…


A mí, me basta su bella voz llena de sentimiento.
¡No quiero nada más!
¡Hay ya campanas de fiesta cantando en mi corazón!

RIC

domingo, 12 de agosto de 2007

Centenário de Miguel Torga


Retrato a óleo de Torga por Guilherme Filipe

... Um exímio contista...


«Súplica»

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria…
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.