domingo, 12 de agosto de 2007

Centenário de Miguel Torga


Retrato a óleo de Torga por Guilherme Filipe

... Um exímio contista...


«Súplica»

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria…
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

6 comentários:

Special K disse...

Tirando os membros do nosso governo que não quiseram interromper as férias, fico feliz porque o centenário de um dos maiores escritores do século passado não passou despercebido.
Um abraço.

RIC disse...

Olá Paulo!
Obrigado por teres sido o primeiro!
Quanto aos «faits divers» políticos, não poderiam deixar-me mais indiferente: afinal, de todas aquelas aventesmas sobranceiramente incultas quantos lerão poesia na vida?... Pelo péssimo Português que alguns deles balbuceiam, eu diria: NUNCA! Nem mesmo boa prosa, quanto mais poesia...
Confesso aqui que não serei dos maiores amantes da poesia torguiana, mas sou um leitor rendido do excelente contista: se houve «trabalho» que me tenha dado mais prazer foi ler COM o 7.º e o 8.º ano alguns contos de «Bichos» e «Novos Contos da Montanha», respectivamente. Que aulas deliciosas, que tempos de descoberta e aprendizagem com todos aqueles miúdos e miúdas! Fabuloso! Viva Torga!
Um abraço amigo! :-)

João Roque disse...

O meu comentário no blog do André Benjamim, foi escrito antes de ver o teu blog, pois começo a minha "revisão", por ordem alfabética, mas não te atingia, pois estava certo que iria aqui encontrar uma referência a Torga.
Embora a sua faceta de contista seja a mais visível, pois os livros referidos, serão com os "Diários", os mais conhecidos, não se pode esquecer a sua faceta poética, talvez menos rebuscada, mais simples que a de outros poetas contemporâneos, mas bem reveladora da pureza crua do autor.
Abraço.

RIC disse...

Ah meu caro João C., como é bem verdade que se paga pela língua!
Não gostei! «Se fosse Fernando Pessoa»...
Importa-me pouco a ordem pela qual passas revista aos blogues. E certeza certa não poderias nunca ter!
Não acho correcto comparações injustificadas e desnecessárias. Até porque os analfabetos que se estão nas tintas para Miguel Torga também estão para Fernando Pessoa.
Que este para mim seja o maior poeta português não me cega para o facto de haver muitos mais vultos de monta na literatura portuguesa. E não é preciso - de todo! - levantar pó com Saramago, por exemplo: cada um tem o lugar que lhe cabe por inteiro. Nós, enquanto anónimos leitores, o mais que temos a fazer é usufruir do que todos eles de muito bom se têm dignado nos oferecer, e não pactuar com os joguinhos m*rdosos das invejinhas absurdas.
Como disse Pessoa, para sermos grandes, sejamos inteiros!

João Roque disse...

Meu caro Ric
longe de mim entrar em polémicas, principalmente contigo; mas, como se diz, "quem não se sente, não é boa gente", e tu serás o maior defensor desta máxima. Ora parece-me que nalguns dos teus últimos posts, os meus comentários, foram acolhidos por ti de alguma forma um pouco diferente da habitual, pois afinal, teremos que aceitar as opiniões alheias. O facto de seres um defensor acérrimo de Pessoa (que eu também admiro), não me impede de considerar que a memória de Torga está muito mais "empoeirada" que a de Pessoa, e não estou a comparar, apenas a referir; afinal Torga foi retirado do ensino...
Falou-se muito ontem, dia do centenário da sua morte, e depois?
E sinceramente, não percebi bem o que queres dizer com os "joguinhos m...das invejas absurdas".
Quanto a Saramago, não gosto, pronto, e estou no meu direito, e há muita gente a pensar como eu.
Ainda em relação ao que dizes sobre o meu comentário do post seguinte, limitei-me a chamar a atenção para o facto de ser um grande nome da músia latino americana, Agústin Lara, e mandaste-me cer a Wikipédia...sinceramente, não percebi.
Desculpa o desabafo, mas penso que no meu lugar, se algo não te parecesse bem, farias o mesmo.
Abraço.

RIC disse...

... Vamos, então, por partes:

1) Se alguma coisa diferente sentiste, eu também sinto: não posso apreciar, aqui, as constantes remissões para saberes que nós - tu e eu - sabemos já fazerem parte de nós ambos. Quem não sabe, que investigue! É para isso que existe a internet. Eu não quero ser nem aluno nem professor de ninguém.

2) «A memória de Torga está muito mais "empoeirada" que a de Pessoa», dizes tu. Se isto não é uma comparação, é o quê? E, sobretudo, para quê? Confesso que continuo a não perceber. Torga foi «retirado» do ensino? E Camões? E Tolentino? E Antero? E Sá Carneiro? E...?
É a m*rda de ensino que temos, determinado por uma súcia de incultos, que vai ditar o que nós, leitores adultos e formados, temos de valorizar? Não me parece...

3) O centenário de Torga é o do seu nascimento, não da morte.

4) Não gostar de Saramago - o que não é a mesma coisa que não gostar do que ele escreve - não dá a ninguém o direito de o envolver em comparações de fraco gosto. E tal como tu tens o direito de manifestar que não gostas, eu também tenho o direito de afirmar que gosto e de me manifestar contra quem diz não gostar.

5) Quanto a Agustín Lara, limitei-me a dizer o que sinto: diz-me o que sentes/pensas; não o que eu posso encontrar em qualquer referência enciclopédica. Com isto, não TE mandei ler/ver enciclopédia nenhuma, o que obviamente seria afrontoso, disparatado e estúpido da minha parte.

6) Exactamente, meu caro, estamos afinal de acordo: o que me parece menos bem, eu afronto! Tal como tu. Não é desabafo, é afirmação! Agora as coisas terão ficado apenas mais claras entre nós. Só isso. O que é em si é já muito, dado que a clareza é ainda - estou em crer - uma virtude. Espero ter sido o mais claro e óbvio possível.

Um abraço! :-)