sábado, 30 de junho de 2007

«Lisbon Revisited»

Costa Pinheiro, Heterónimos, CAMJAP (FCG)

Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) –
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Ó céu azul – o mesmo da minha infância –
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflecte!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo…
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

Álvaro de Campos
1923

[Obras de Fernando Pessoa (poética e em prosa)
Introduções, organização, biobibliografias e notas de
António Quadros e Dalila Pereira da Costa,
vol. I, pp. 951-3, Lello & Irmãos – Editores, Porto, 1986]

sexta-feira, 29 de junho de 2007

«Maria Lisboa»

After a few tours in Lisbon there's still a lot to discover: so many tiny, hidden wondrous spots, so many unique views from quite especial angles, so many small streets, squares, gardens, parks, churches… These are just for you! Let's go!


Dopo alcuni giri in Lisbona, ne rimane ancora molto da scoprire: altrettanti piccoli luoghi, nascosti e meravigliosi, altrettante viste uniche da angoli così speciali, altrettante piccole vie, piazze, giardini, parchi, chiese… Questi sono solo per voi! Ci andiamo!


Na een paar tochten in Lissabon is er nog een hele boel om te ontdekken: zo vele erg kleine, verborgen wonderbaarlijke vlekken, zo vele unieke uitzichten vanuit vrij speciale blikhoeken, zo vele kleine straten, pleinen, tuinen, parken, kerken... Deze zijn alleen maar voor u! Laat ons gaan!


Après quelques tours à Lisbonne, il reste encore beaucoup à découvrir: autant de minuscules lieux, cachés et merveilleux, autant de vues uniques d'angles aussi spéciaux, autant de petites rues, de places, jardins, parcs, églises... Ceux-ci sont seuls pour vous! Allons-y!


Nach einigen Rundgängen in Lissabon gibt es noch Vieles zu entdecken: so viele kleine, versteckte, erstaunliche Orte, so viele einzigartige Ansichten aus ziemlich besonderen Blickwinkeln, so viele kleine Straßen, Plätze, Gärten, Parks, Kirchen... Diese sind für Sie allein! Lasst uns gehen!


… And now, ladies and gentlemen, I give you the eternal Amália!



Music by Alain Oulman
Lyrics by David Mourão-Ferreira

É varina, usa chinela,
Tem movimentos de gata;
Na canastra, a caravela,
No coração, a fragata.

Em vez de corvos no xaile,
Gaivotas vêm pousar.
Quando o vento a leva ao baile,
Baila no baile com o mar.

É de conchas o vestido,
Tem algas na cabeleira,
E nas velas o latido
Do motor duma traineira.

Vende sonho e maresia,
Tempestades apregoa.
Seu nome próprio: Maria;
Seu apelido: Lisboa.

RIC

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Do Tratado da Reforma... que o não é!...




«Les présidents européens, Sarkozy en tête, ont annoncé samedi 23 juin que la construction européenne était sauvée et qu'un «traité simplifié» allait remplacer la constitution rejetée par référendum.
Pour les divers états européens, il s'agit toujours d'arriver à fabriquer une constitution qui permette à l'Union de fonctionner à 27. Mais les plus puissants d'entre eux, la France, l'Allemagne, la Grande-Bretagne, veulent que les décisions se prennent suivant un procédé qui, tout en donnant un aspect démocratique à la chose, leur permette de dicter leur loi.
C'est pourquoi la discussion achoppe essentiellement sur la façon de voter et sur la valeur obligatoire ou non pour tous les pays des décisions prises. Y aura-t-il un vote par pays ou un nombre de voix proportionnel à la population? Le «traité simplifié», comme le traité constitutionnel avant lui, prévoit un savant dosage calculé de façon à ce que l'alliance des pays les plus riches puisse bloquer toute décision contraire à leurs intérêts, mais imposer leur politique aux pays les plus pauvres… au nom d'un vote démocratique. Ce qui explique en tout cas que la Pologne, pays à la fois pauvre et peuplé de 40 millions d'habitants, ait tenté d'obtenir un mode de fonctionnement qui lui soit plus favorable, et que les réactionnaires et nationalistes frères Kazcynsky qui la dirigent aient pu trouver là un terrain de choix…
Peine perdue, c'est le mode électoral concocté par les pays riches qui s'appliquera… un jour. Car pour l'instant et jusqu'en 2014 (voire 2017) c'est le traité de Nice qui reste en vigueur. Et pour le moment, seuls des «principes» ont été définis. Aucun texte n'est écrit, ni accepté et encore moins ratifié.Les cris de victoire des négociateurs sont donc pour le moins prématurés et surtout à valeur intérieure, permettant à la presse française d'attribuer le «succès» à Sarkozy, la presse allemande à Merkel et la britannique à Blair…
Bien plus que l'opposition des «petits» pays, en particulier de la Pologne chargée de tous les péchés dans cette affaire, ce sont les rivalités toujours actuelles des grandes puissances qui entravent la construction européenne. Même d'une Europe au service des capitalistes.»


Paul Galois


Os presidentes europeus, Sarkozy à cabeça, anunciaram sábado 23 de Junho que a construção europeia estava salva e que um "tratado simplificado" substituiria a constituição rejeitada por referendo [França e Países Baixos].
Para os diversos estados europeus, trata-se sempre de conseguir fabricar uma constituição que permita à União funcionar a 27. Mas os mais poderosos – França, Alemanha e Grã-Bretanha – querem que as decisões se tomem de acordo com um método que, dando ao mesmo tempo um aspecto democrático à coisa, lhes permita ditar a sua lei.
É por isso que a discussão tropeça essencialmente na maneira de votar e no valor obrigatório ou não para todos os países das decisões tomadas. Haverá um voto por país ou um número de votos proporcional à população? O "tratado simplificado", como o tratado constitucional antes dele, prevê uma sábia dosagem calculada de modo que a aliança dos países mais ricos possa bloquear qualquer decisão contrária aos seus interesses, mas impor a sua política aos países mais pobres… em nome de um voto democrático. O que explica em todo caso que a Polónia, país ao mesmo tempo pobre e com 40 milhões de habitantes, tenha tentado obter um modo de funcionamento que lhe seja mais favorável, e que os reaccionários e nacionalistas irmãos Kazcynsky que a governam tenham aí podido encontrar um terreno de eleição…
Em vão, pois é o modo eleitoral engendrado pelos países ricos que será aplicado… um dia. De momento, e até 2014 (ou mesmo 2017), é o tratado de Nice que continua a estar em vigor. E por agora, apenas os "princípios" foram definidos. Nenhum texto está escrito, nem aceite e ainda menos ratificado.
Os gritos de vitória dos negociadores são por conseguinte pelo menos prematuros e sobretudo com valor interno, permitindo à imprensa francesa atribuir o "sucesso" à Sarkozy, à imprensa alemã a Merkel e à britânica a Blair…
Bem mais do que a oposição dos "pequenos" países, em especial da Polónia ajoujada com a carga de todos os pecados neste assunto, são as rivalidades actuais das grandes potências que obstruem a construção europeia. Mesmo de uma Europa ao serviço dos capitalistas.


E assim se vai titubeando em direcção a uma Europa que de unida tem muito pouco. Do meu ponto de vista, parece até que já esteve mais unida no tempo de Jacques Delors. De então para cá, é o que se tem visto…
Quanto à obsessão referendária, considero que a classe política – que se pavoneia pelos areópagos internacionais e se auto-intitula "actores políticos" (esta também Freud explicaria…) – pretende descartar-se das responsabilidades que lhe incumbem por inteiro e jogam com o facto de a maior parte dos europeus não só estar pouco informada dos verdadeiros e últimos desígnios da construção de uma Europa unida, como também pouco convicta da qualidade do trabalho feito em Bruxelas, digamos, nos últimos dez anos. Isto permite-lhes ganhar tempo e deixar ficar tudo mais ou menos na mesma… Em última instância, se a construção europeia falhar não será por culpa deles; serão os europeus que "não querem"…
A verdade é que, porém, o resto do mundo não pára, e a Europa vai ficando irremediavelmente para trás...

RIC

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Half a dozen is the right amount…


Paternus affectus non sustinet moram.
O sentimento paterno não suporta espera.
Father's affection bears no delay.


Filius est pars patris.
O filho é uma parte do pai.
The son is a part of his father.


Fili, suscipe senectam patris tui.
Filho, ampara a velhice de teu pai.
Son, uphold your father in his old age.


Filium strabonem appellat pætum pater.
Do filho vesgo, o pai diz que ele olha de lado.
The father says of his strabismic son he looks sideways.


Filius, ergo heres.
É filho, logo é herdeiro.
Son, thus heir.


Haud canit paternas cantilenas.
Não canta as cantigas paternas.
He doesn't sing his father's songs.



Who wouldn't be incredibly happy with (his) six children around?
I know I would… Absolutely!
(The English translation may not be the best one at all. My sincere excuses! Please feel free to correct whatever you consider to be wrong!)


RIC

terça-feira, 26 de junho de 2007

Eu e tu…

Sou sempre o primeiro a dizer as coisas pela segunda vez.
Jean Cocteau

Encontrámo-nos numa destas minhas viagens na esplêndida Amesterdão, uma das Venezas setentrionais. Outras há, como a nórdica Estocolmo ou a imperial S. Petersburgo, que lhe disputam o título no eterno convívio íntimo com as prístinas águas fundadoras. De início, todo o tempo foi pouco para lançarmos os nossos passados um sobre o outro, na ilusão de que assim nos conheceríamos melhor e mais depressa. Como se cada um arrastasse um atrelado, trazíamos a reboque uma carga, um fardo acumulado pelos anos. Na encruzilhada do encontro, acreditando que conciliaríamos as nossas histórias como quem sabe atrelar as carruagens do comboio da vida, tentámos juntar os fardos em apressadas conversas aos solavancos. Goraram-se as intenções, e as atitudes foram tão insensatas como levianas. Ao leres estas palavras, talvez compreendas melhor uma parte do que eu trazia comigo quando os nossos caminhos se cruzaram. Talvez isso nos reaproxime. Ou nos afaste de vez. O futuro ditará para que lado a balança há-de pender. Com ou sem justiça.

Um dia perguntaste-me se tinha o hábito de escrever cartas ou postais enquanto viajava. Não me lembro exactamente da resposta, mas devo ter dito que já não o fazia há muitos anos e que raramente tinha tempo para essas gentilezas. Não deves ter gostado e quase me obrigaste a prometer que da próxima vez haveria de te escrever. Achei que se fizesse a promessa estaria a comprometer-me à toa. Ou pior, estaria a mentir. Nada prometi e quase esqueci a conversa. Quando a contragosto soubeste desta viagem voltaste a insistir. Ainda me ocorreu negar-te o capricho, mas como não podia prever que disposição me reservaria a quadra natalícia que se aproximava, deixei a resposta em suspenso. Logo se veria. E uma vez mais não terás gostado, sem que isso, ainda assim, te tenha incomodado por aí além. Não voltaste a dizer palavra sobre a viagem, então ainda apenas uma hipótese. Às vezes pergunto-me o que é que têm para dar um ao outro dois egoístas ou egotistas, egocêntricos ou individualistas, que nunca se sabe muito bem quando e como se é o quê. Terão pouco, é certo, mas o pouco que dão não é regateado. Isso, ao menos, é garantido.

No Verão passado tive de adiar as férias. Tentei falar contigo, mas não me deste qualquer atenção. Liminarmente, «cortaste-me as vasas», para usar a expressão que te é habitual. No teu primeiro dia de férias, na mais excitada azáfama, fizeste as malas em grande euforia e, no dia seguinte, ias a caminho de um desses destinos da moda, nas Caraíbas dos pacotes turísticos promocionais. E nem sequer tiveste a amabilidade de uma palavra de consolo por eu ficar sozinho em Lisboa, mergulhado em trabalho. Nem antes, nem durante, nem depois. Em Outubro, eu estava arrasado, com muito pouco ânimo para prosseguir, e já não distinguia se era um profissional que começava a sentir-se frustrado, se um frustrado quase profissional. Tenho combatido conforme posso o cansaço causado por alguma inevitável monotonia, já que sei ser esta a última oportunidade, antes do próximo Verão, de me afastar da rotina e gozar de algum descanso. Mas nem nisso terás querido atentar, e eu não te falei de mais nada. Os afazeres profissionais têm-nos sugado as energias, as poucas que sobram nunca são demais para enfrentar dissabores e embates, os comezinhos, e não tem sido fácil desfazer mal-entendidos. Só os ínfimos, os do dia-a-dia, é que ainda vamos conseguindo ultrapassar, ainda que mal e com grande dificuldade. Tudo isto temos ambos pensado, decerto, mas não no-lo temos conseguido dizer. E o silêncio, que umas vezes é de ouro, outras veneno, tem asfixiado as palavras que forçam o caminho até à garganta, para aí as abandonar à mercê de uma muda indiferença, que as suprime.

Ainda cheguei a dizer-te que, se tivesse férias no fim do ano, me afastaria de Lisboa, caso pudesses e quisesses acompanhar-me, mas ignoraste as minhas razões. Ou melhor, nem as quiseste ouvir. Acusaste-me depois de que era de ti que me queria afastar. Claro, atendendo a quem se tem em nímia conta, não seriam de esperar outras palavras. Entretanto, já esqueceras o teu Verão nas Caraíbas e o meu, cheio de trabalho, sozinho em Lisboa. Calei-me para evitar mais uma discussão absurda. Há uns dias limitaste-te a anunciar que, caso eu fosse para fora, quando voltasse, tu não estarias em Lisboa. Que decidiras viajar a seguir ao Natal e só estarias de volta em meados de Janeiro. Que esperasse por um telefonema teu no segundo sábado do mês. Não quiseste dizer para onde irias, e eu também nada perguntei.



Villa Adriana, Tivoli, Roma


Neuer Potsdamer Platz, Berlin


Station Musée du Louvre - rue de Rivoli, Paris


E hesitei entre três destinos possíveis. Roma, la Città Eterna, Berlim, die Kulturmetropole mit vielen Gesichtern (1), e Paris, la Ville Lumière. Apesar de tudo, e com muita mágoa, foi-me relativamente fácil eliminar Roma. Queria gozar uma semana tão tranquila quanto possível, e a Cidade Eterna não se presta muito a desejos bucólicos. Berlim seduzia-me bastante, até porque já lá não vou há uns bons anos, mas não o suficiente para me fazer esquecer o frio intenso com que este Inverno parece querer pôr toda a Europa a tiritar. Os Invernos parisienses também não são amenos, é certo, mas suporto-os bem. Fui-me assim habituando à ideia de que Paris seria, mais uma vez, o destino ideal e, quando pensei no tempo de viagem, a decisão ficou tomada. Duas horas são o lapso de tempo ideal que se pode passar sem complicações dentro de um avião. Mais tempo torna-se cansativo, e menos tempo não compensa as deslocações entre as cidades e os aeroportos. Propus-me então telefonar à Madame Rivier, a proprietária e gerente do hotel onde há anos costumo hospedar-me, na esperança meio desolada de ainda conseguir reservar um quarto. E uma providencial desistência horas antes permitir-me-ia ocupar o meu quarto preferido. Era o sinal.

Paris é metrópole que ainda atrai, fascina e seduz quer turistas quer viajantes, mas há muito deixou de ser aquele lugar mítico a que se acorria ansiosamente em busca de tudo o que faltava, mesmo do pão para a boca. Ia-se a salto adensar subúrbios de bidonvilles. Abandonava-se este espaço de sombras, onde a noite tremenda se mantinha dona e senhora de um estéril estado de irreal hibernação. Um imenso vácuo de tudo repelia os muitos que se aventuravam a orbitar os autênticos astros de luz e de vida. Cada um que se lançava à aventura reiterava a ascensão da sombra à luz. E «o dia livre e claro» surgiu, e de fontes ressequidas jorraram utopias e sonhos que várias gerações juntas fizeram seus, perseguiram e concretizaram como sabiam e podiam. Ou não souberam e não puderam. Não sei rememorar este tempo de outro modo. Que se tenha chamado Revolução e assim o tenha vivido é agora mais motivo de dorido esgar de resignação que de lamento por uma oportunidade rechaçada. «A revolução já acabou. Naquele país só há ódio», terá desabafado então Jorge de Sena… Hoje, que o sol já vai bem alto sobre esse horizonte, sobejam migalhas do pão farto avidamente devorado, restam escorropichos do vinho generoso sofregamente engolido e tudo está amorfamente reconduzido a uma nova ordem de mitos avulsos e baços, iguais a coelhos saltando para fora das cartolas de uma ubíqua tecnologia, de que muitos têm pressa de usufruir sem pensar, mas de que só alguns gozam plenamente. Acaso só aqueles que nunca souberam o que significa ter de ansiar pelo «dia livre e claro» e para quem a noite era, é e será sempre luz bastante.

Como tudo o que reflui a um estado imposto de repouso e esquecimento apenas aparentes, também os autênticos astros de luz e de vida permanecem expectantes, na certeza de que o sol destes dias é um sol virtual deste Inverno planetário e que hão-de resistir e renascer nos vislumbres dos novos caminhos para outros lugares míticos, que haveremos de percorrer logo que a coragem seja bastante para desligar este sol enganoso e doentio. Como em muitos actos da vida, há que carregar no botão certo no momento certo, e para várias gerações esta espera é já a eternidade. Mas, entretanto, paira no ar um aliciante aroma a futuro novo. Talvez Paris não volte a ser o nosso lugar mítico, mas outro «dia livre e claro» há-de enfim nascer. Tudo o que chega parte. Voltará decerto a haver pão farto e vinho generoso.

Sem saber bem porquê, dispus-me a reservar algum tempo, todos os dias, para te escrever umas linhas. Não me incomoda que esteja a ceder a um capricho. Quem sabe se não será esta a forma ideal e subtil de contrariar o meu egoísmo sem que isso me perturbe. Mas não as receberás em cartinhas ou postaizinhos, que a cedência não será tão benévola. Ao regressar a Lisboa, tenciono meter tudo o que tiver escrito num envelope e enviar-to dos correios do aeroporto. Aqui fica a promessa solene, mesmo que entretanto nada venhas a saber desta minha intenção. Quando eu voltar, nada terás ainda recebido e hás-de ficar à espera até dares com o envelope na caixa de correio. Talvez a atitude seja castigadora, mas tomo-a sem quaisquer intenções obscuras. E, para ti, não deixará de ser uma surpresa. O que pensares do seu conteúdo é pouco relevante, pelo menos por agora. Foste tu quem me desafiou, não te esqueças, e vou apenas realizar o teu desejo. Em circunstâncias semelhantes, é sabido que não raras vezes se vira o feitiço contra o feiticeiro, ainda que tão-pouco seja essa a minha intenção. É provável que te surpreendas com alguns textos ou mesmo que te irrites com um ou outro apontamento. Não posso antedizê-lo. Estes primeiros, escrevo-os ainda em Lisboa, e talvez os junte aos que vier a escrever em viagem. Não penses, por meios ínvios como se tornou teu hábito, que almejo alguma vingança. Tratarei de ser apenas o cronista dos factos quotidianos. E lembrei-me de uma máxima do Génio de Weimar: «Eine Chronik schreibt nur derjenige, dem die Gegenwart wichtig ist.» (2) É o que sinto agora, que o presente é cada vez mais importante, ao invés de outros momentos em que me preocupei, talvez em excesso, com o passado ou me virei, com exagero expectante, para o futuro. É no presente que tudo está e tudo se decide. O passado narra-me e o futuro imagina-me.

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(1) A metrópole cultural de muitos rostos.
(2) "Uma crónica só escreve aquele, para quem o presente é importante."

RIC

segunda-feira, 25 de junho de 2007

II. Ce soir, sur la RTP2...






Les Thibault est une télésuite française en quatre épisodes de 90 minutes, adaptée par Jean-Claude Carrière, Joëlle Goron et Jean-Daniel Verhaeghe du roman éponyme de Roger Martin du Gard et diffusée à partir du 25 juin 2007 sur la RTP2, en quatre soirées de suite (de lundi à jeudi), vers 0:30.

Les épisodes:
«Le Cahier Gris», «La Belle Saison», «La Mort du Père» et «L'Été 1914».



Les Thibault est un vaste cycle romanesque écrit entre 1920 et 1937.
Il se compose des parties suivantes:

Le Cahier Gris (1922), Le Pénitencier (1922), La Belle Saison (1923), La Consultation (1928), La Sorellina [petite sœur] (1928), La Mort du Père (1929), L'Été 1914 (1935-1936), Épilogue (1937).

Ce roman se déroulant du début du XXe siècle jusqu'à la fin de la Grande Guerre raconte l'histoire de deux familles de la bourgeoisie française.

■ Les Thibault sont le principal sujet du roman. Le père Oscar Thibault est un despote qui traite ses enfants durement, mais qui les aime. Antoine et Jacques Thibault (photo) sont ses fils, les frères «que tout oppose», dont les âges sont différents de neuf ans. Antoine est médecin, Jacques est un militant socialiste. Cette famille est catholique.

■ Les Fontanin sont les membres d'une famille protestante – Jérôme de Fontanin, qui a quitté le domicile conjugal, est le mari de Thérèse de Fontanin qui s'occupe seule de ses deux enfants Daniel et Jenny.
Le roman débute lors d'une fugue de Jacques et de Daniel.

Pour les amants de la tradition à la française (quoi que ce soit encore…), ravissez-vous pendant ces quatre soirées!
Quant à moi, je serai devant la télé, j'en suis sûr!

RIC (et Wikipédia)

Mise à jour
Superbe, ce premier épisode!
Je n'avais pas vu une œuvre littéraire française tellement bien adaptée pour la télévision depuis longtemps. Mes félicitations! Vraiment, ça m'a enchanté!

I. Meaningless weightlessness…

I've decided I should rate my blog just as other blogger friends recently did, and this is what I've found out, to my great astonishment:

What's My Blog Rated? From Mingle2 - Online Dating


Mingle2 - Online Dating


«This rating was determined based on the presence of the following words:
- 'gay' (5×), 'dangerous' (3×), and 'queer' (1×).
»

Yeah, as if I would care about that for a single second!

Well, as a matter of fact, that would be a favour someone would be doing to me! I just hate kids messing up everything around… But I don't want their parents around either! Lol!!! So please stay away, both kids and parents!

… And I was sooo convinced there were sooo many more naughty, dirty words on my blog… I'm really disappointed with myself… I should have run a discourse analysis computer program a lot sooner…
From this moment on, I'll do my best to write f*ck and sh*t and assh*le as often as I can. That much I can promise you!

And since the topic is 'bad language', why not take a political test for a change?
At least, it's just a little bit more serious, although you can easily predict results as you're going through all the most obvious questions…
Even so though, it's quite reassuring not to have anything in common with retarded neocons…

My Political Profile:

Overall: 10% Conservative, 90% Liberal

Social Issues: 0% Conservative, 100% Liberal

Personal Responsibility: 25% Conservative, 75% Liberal

Fiscal Issues: 0% Conservative, 100% Liberal

Ethics: 20% Conservative, 80% Liberal

Defense and Crime: 15% Conservative, 85% Liberal


Take the test, if you will! Only if you will...

RIC

domingo, 24 de junho de 2007

... What now?...


«Semina arenæ mandare.»
Semear na areia...
Seeding on sand...

RIC

sábado, 23 de junho de 2007

II. documenta 12: Kassel, Hessen, Deutschland.

The documenta is one of the world's most important exhibitions of contemporary art which takes place every five years in Kassel, Germany.
It was founded by artist, teacher and curator Arnold Bode in 1955 as part of the Bundesgartenschau (Federal Horticultural Show) which took place in Kassel at that time. This first documenta was – in contrast to most expectations – a considerable success as it featured most of the artists which are generally considered to have had a significant influence on modern art, e.g. Picasso or Kandinsky.
The more recent documentas feature art from all continents; nonetheless most of it is site-specific.
The documenta is perceived to be one of the world's most important art exhibitions, only comparable to the "Biennale di Venezia".

Can the masses appreciate modern art? The documenta art extravaganza in Kassel is betting they can.
For the first time ever, organizers are doing everything they can to help locals to understand the art – and art-lovers to understand the locals.

Can art be explained? documenta thinks it can.

■ A ship made out of gas canisters.
■ Rows of wooden chairs.
■ Three orange computer screens.
■ Self-strumming guitars.

What do these things mean?
And why are they all housed in a giant, corrugated-plastic shack?

Many contemporary art exhibitions are perplexing.
And this year's documenta, which runs from June 16.th to September 23.rd, doesn't break the mould. Except for one major exception: unlike the others that have preceded it, documenta 12 has a deliberate educational component.
The event is determined to allow non-experts entry into the hermetic realm of contemporary art.
Through educational programming, guided tours, community outreach programs, three magazines, and, they claim, the art itself, organizers of this year's documenta aim to enlighten rather than confuse.
"Education at this documenta is not a service or tool," Ruth Noack, documenta 12's curator, told Spiegel Online. "It is, instead, an integral part of the exhibition."
This is a radical move for documenta, which has often been seen by Kasselers in its 52-year history as an elitist ship that docks in the city every five years for 100 days and then departs – leaving little in its wake aside from millions in city-wide income.

The next 100 days, though, are supposed to be different.
In order to achieve its educational, egalitarian ends, documenta 12 has enlisted the help of a multitude of tour guides (or "mediators") – an idea from the show's artistic director, Roger M. Buergel, Noack's moustachioed, articulate husband. And they're not solely in the form of starving German college students. High school students will be a part of it, as will younger children. Additionally, people from across the globe, including from South Africa and Australia, will take part thanks to help from the Goethe Institute.




First impressions about documenta 12
(German & English)

"For me it's been a great experience," says Till Maciejewski, an athletic-built 10.th-grader who has been working on his tour since October. "It's more about discussions with people than about art questions," he says, "and I get to talk about the art that I think is interesting, like Juan Davila," a Chilean artist whose work from the 1970s features pornography, bestiality, and other social taboos. "Because my aunt and uncle are also artists, there's family pride to be helping out at documenta."

Indeed. documenta, at a total cost of €19 million, includes over 500 works of art by 113 artists and occupies five buildings, one of which, the Aue-Pavillion, was constructed solely for the exhibit over a sprawling 10,000 square meters/107,640 square feet. As students became increasingly involved in tackling this behemoth, their status in school – and self-confidence – changed, too.

"The notion that art can never entirely be explained," documenta's artistic director writes, "is exactly where art's power lies." It's a powerful sentiment, and the educators and activists involved are anxious to see what occurs in the next 100 days, to see if art's power can truly conquer modernity's load-bearing walls of economic, cultural, and social segregation.
After those 100 days, however, who knows?
Asked if she thought documenta's efforts at inclusion, outreach, and education would succeed in future renditions of the show, civic leader Güleç leaned forward and smirked, "What do you think?"




I've spent one of the most wonderful months of my life in this medium-sized German town.
One of its main attractions is an 18.th century palace/castle called "Wilhelmshöhe" and its surrounding beautiful park, where for the first time ever documenta 12 will also be housed.
Besides other promotional videos (cf. YouTube, of course), I think you'd like to take a look at the exhibition's official website (German & English) – just click
here.

Enjoy!

RIC

I. Saturday Eye Candy…

For your eyes only…


Beauty has always been in the eyes of the one who sees, right?…


Beauty has always been in the eyes. Period.

I'd quite easily melt down being looked at by eyes like these... Then again, who wouldn't?

Help yourself! Gaze lavishly! They'll love it, I'm sure!

RIC

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Philadelphia | Φιλαδέλφεια | Filadélfia

«An Academy Award-winning 1993 drama film revolving around the HIV/AIDS epidemic, written by Ron Nyswaner and directed by Jonathan Demme.

Tom Hanks, Denzel Washington, Joanne Woodward, Jason Robards, Antonio Banderas, Lisa Summerour, Chandra Wilson, and Mary Steenburgen.


It was partly inspired by the story of Geoffrey Bowers, an attorney who in 1987 sued a law firm for unfair dismissal in one of the first AIDS discrimination cases.

Twenty-seven year old Andrew Beckett (Hanks) is a University of Pennsylvania graduate who works for the largest corporate law firm in Philadelphia. Andy is successful, easy-going, handsome, secretly gay, and a sufferer of AIDS. Because his boss (Robards) has a strong prejudice against gay people, he hides the truth about his sexuality along with his partner, Miguel (Antonio Banderas) from the members of the firm.
His condition has reached the stage when he has developed Kaposi's sarcoma. His work is sabotaged and he is promptly fired.
Andrew tries to hire a lawyer to take his case and sue the firm for illegal dismissal, but nobody will take an AIDS sufferer as a client. One of the attorneys he attempts to hire is Joe Miller (Washington), a family man and injury lawyer who is secretly homophobic himself. Joe must show that Andrew is a good man, not a threat, and he begins to realize that gays are human beings.
Andrew has a blackout in court and dies soon after. He does, however, succeed in court and the firm is ordered by the jury to make a large payout plus four million dollars in punitive damages.




The Boss on the streets of Philly

The film was the second Hollywood big-budget, big-star film to tackle the issue of AIDS in America and also signalled a shift in the early 1990s for Hollywood films to have more realistic depictions of homosexuals.
However, the fact that Hanks' and Banderas' characters do not display normal relationship affections such as kissing, and the absence of gay women drew criticism from some gay film critics.
In an interview for the 1996 documentary The Celluloid Closet, Hanks remarked that some scenes showing more affection between him and Banderas were cut, including a scene showing him and Banderas in bed together.»

Wikipedia (abridged)

Another summer has just started.
Another summer I'll be spending without you.
Just like the last fourteen.
We didn't get to watch Philadelphia together.
There was no more time left for you.
You know how I felt when I watched it.
Just a few months later.
Alone.

I shed a tear for you now,
Dearest friend,
I cherish your memory,
And I feel so much better.
I miss you terribly.
You'll be in my heart forever.

This post is for you, dear Z. L.
And for all of those who left this life as prematurely as you did, so absurdly.

RIC

quinta-feira, 21 de junho de 2007

«Viajar, perder países…»

«Depois da iniciação, o gosto de viajar sobrepôs-se ao desejo de me imaginar deambulando pelos quatro cantos do mundo, fitando páginas de atlas ou efabulando destinos a partir de imagens sugestivas. Bastava um fim-de-semana para reavivar velhas fantasias, e aproveitava tanto quanto podia o bem-estar oferecido por qualquer deslocação em torno do local onde assentasse arraiais.

É o puro prazer da exploração do desconhecido. Ainda hoje continua a não haver nada que se compare a ser andarilho por espaços que exaltam o desejo de querer estar sempre alhures. Não é só a vontade de conhecer e de saber mais sobre o mundo, mas sobretudo a insatisfação insuprível de nunca estar bem onde estou e de querer ir sempre mais além. É isto que me tem guiado e dado a conhecer raros sítios, bravas gentes e afamadas maravilhas.

Das viagens de comboio ficaram alguns sonhos por realizar, e ainda me ressinto dos muitos obstáculos em que fui tropeçando e que me impediram de concretizar a mirífica aventura por excelência, idealizada desde a juventude, de uma grande travessia transcontinental que me levaria à orla do Pacífico. Partindo de Lisboa, a viagem seguiria por Paris, Berlim, Varsóvia, Minsk e Moscovo, onde a magia do Transiberiano me faria antever, de olhos esbugalhados, as primeiras extensões asiáticas nas vastas paisagens da estepe e da taiga. Dali, a viagem prosseguiria por nomes de fábula e fantasia, como Nijni-Novgorode, os Montes Urais, Ecaterimburgo, Omsk, a infinita Sibéria, Krasnoiarsk, Novosibirsk, Irkutsk, no extremo sul do Lago Baical, e por fim Vladivostok. Muitos e muitos dias sobre infinitos carris. Chegado à beira do Pacífico, regressaria como calhasse, de Seul, Pequim ou Tóquio, donde quer que as contingências políticas do momento o permitissem. Seria indiferente. O importante seria ter concretizado o sonho da aventura e ter atingido a meta. Mas todos os planos fracassaram. E grandes desilusões também as houve, porém nunca a ponto de causarem danos irreparáveis. A face oculta do maravilhoso também existe e raramente é brilhante.


Ao fim de três ou quatro viagens sem companhia, deixei de sentir tanto a solidão. Sentia-a, sim, mas de uma forma mitigada. Foram viagens de formação que me fizeram conhecer gentes de muitos cantos da Europa que viajavam então como eu, graças a abençoadas bolsas de estudo. Éramos estudantes para quem o mundo se ia entreabrindo um pouco mais. Para alguns, como eu, chegava mesmo a escancarar-se de par em par. Passava uma boa parte do tempo livre sentado em cafés e esplanadas, a escrever minuciosos relatos quase diários do que me acontecia, do que ia aprendendo e a descrever tudo o que via e mais me impressionava. Receava que pudessem escapar para sempre pormenores mínimos mas preciosos que queria partilhar com aqueles de quem gostava e que não haviam tido a sorte ou a oportunidade de estar ali comigo. Lamentava que não pudessem usufruir daquelas maravilhas que, bem o sabia, apreciariam tanto ou mais do que eu.

Quando passei a custear do próprio bolso os meus gostos de viandante, por força de hábito continuei a partir sozinho. Salvo duas ou três viagens com amigos, que me agradaram pelo muito que descobrimos juntos e aprendemos uns com os outros, quase sem dar por isso fui continuando a seguir caminho sem me incomodar por aí além com a solidão. Sentia – e ainda sinto – essa ausência como uma severa restrição ao leque de possibilidades que qualquer viagem abre, mas não havia alternativa, e hoje, muitas vezes, continua a não haver. O hábito impôs-se e eu aceitei-o quase como apenas mais uma faceta de um destino inquestionado. Tenho dado comigo em Paris, Berlim ou Nova Iorque a imaginar o que este ou aquele amigo consideraria imprescindível visitar ou conhecer. E não raras vezes altero de cima a baixo os planos sempre maleáveis que, por isso mesmo, nunca chegam a ser planos mas apenas simples intenções mais ou menos esboçadas. Sei que aqueles lugares seriam outros e me diriam muito mais, se caminhasse por aquelas ruas com alguém ao lado trocando opiniões e comentários galhofeiros ao abrigo da incompreensão da língua, tirando disso o máximo partido, fazendo da viagem uma festa, uma paródia e atravessando os dias ao sabor dos impulsos do instante, que tornam o ofício de viandante muito mais misterioso, enriquecedor e empolgante. Não me vejo integrado em grupos de desconhecidos a calcorrear contra o relógio avenidas e praças, monumentos e museus, lojas e miradouros. Posso fazê-lo, se estiver nessa disposição ou se for condição necessária para uma visita que me interesse especialmente, mas quase sempre sigo ao sabor do momento e conforme os desejos me vão traçando o rumo. Umas vezes e nuns sítios, sou viajante; outras e noutros, sou turista, sem nunca me preocupar demais com o estatuto, embora prefira o de viajante pela maior liberdade que assegura.


Nestas andanças nunca me consegui reconciliar com os barcos. O desconforto marítimo mostrou-me, logo na primeira estadia a bordo, que nunca seria marinheiro. Para minha derrota indesmentível e definitiva, a constante talassia aliou-se a um terror irracional e irreprimível de saber haver sob os meus pés um imenso abismo de águas negras, que até então desconhecia me pudesse afectar. Sei nadar desde a infância, pelo que as razões de tanto pavor sempre me escaparam. Durante os poucos dias de navegação, não tive como dominar aquela obsessão nem como gozar de um só instante de sossego. Entre mim e o mar como caminho para o mundo surgiu uma insuperável fobia, qual barreira sólida que se ergueu firme e não tive meio de transpor ou derrubar. Foi um rude golpe no imaginário de um português nado e criado à beira-mar que, desde que se conhecia, sempre sonhara com a lonjura dos mares e aventuras vividas sobre as ondas. Foi breve e perturbadora a visão do horizonte rectilíneo entre céu e mar que – sempre assim pensara – viria culminar tantos anos de expectativas congeminadas a explorar um dos filões mais fecundos da cultura que se foi tornando a minha. Bastava ir à janela para tê-lo ali, diante dos meus olhos, e poder dar largas a fantasias de partidas para navegações prodigiosas e de regressos ao porto de abrigo com a alma lavada e repleta de mundo.

O maior desgosto, o mais difícil de superar, foi a descoberta de que a profunda paz de espírito, a tranquilidade, as sensações de liberdade absoluta, de infinito e de plenitude, que ao contemplá-lo sempre me haviam inundado, se ficavam por aí. A minha relação com o mar estava para sempre confinada ao sentido da visão que, ainda por cima, não era das melhores. Estava-me vedado o que tanto ansiara. Viver o mar. Doloroso foi também ter percebido que era o próprio mar que me rejeitava e não eu a ele, embora soubesse que o mal estava em mim, ao não conseguir abstrair-me daquelas insondáveis profundezas. Debaixo de qualquer coisa há sempre outra coisa qualquer, mas esta pode ser tão inacessível, medonha, escusa e escura que nos povoe o espírito dos pavores mais aflitivos que nenhum intelecto, racional e sereno, é capaz de expurgar. As lendas do mar tenebroso, de que o meu altaneiro positivismo se rira lautamente, já não eram lendas e haviam-se vingado. Eram uma realidade irracional que tive de aceitar com humildade.»


RIC

quarta-feira, 20 de junho de 2007

II. Moody...





Palavras para quê? Apenas um estado de espírito... Aproveitem.

No words needed. Just a moody state of mind... Enjoy the swing.

RIC

I. The Mediterranean: end of a temperate climate

«Ever more glow furnace days on the Mediterranean

Rome 43°C, Athens 45°C – so could soon summer everyday life look like in the Mediterranean regions: according to a new study, a climatic projection, the number of lethal hot days will strongly increase there – if the greenhouse gas output should rise further. A new study by several scientists confirms the fear that it might shortly become unpleasant in southern Europe: towards end of this century, extreme heat days could occur two to five times as frequently per season as on average in the past decades, the researchers write in the US specialized magazine "Geophysical Research Letters":

"Heat stress intensification in the Mediterranean climate change hotspot (Abstract)

(Noah S. Diffenbaugh, Jeremy S. Pal, Filippo Giorgi, and Xuejie Gao
West Lafayette, Indiana, USA and Trieste, Italy)

We find that elevated greenhouse gas concentrations dramatically increase heat stress risk in the Mediterranean region, with the occurrence of hot extremes increasing by 200 to 500% throughout the region.
This heat stress intensification is due to preferential warming of the hot tail of the daily temperature distribution, with 95.th percentile maximum and minimum temperature magnitude increasing more than 75.th percentile magnitude.
This preferential warming of the hot tail is dictated in large part by a surface moisture feedback, with areas of greatest warm-season drying showing the greatest increases in hot temperature extremes.
Fine-scale topographic and humidity effects help to further dictate the spatial variability of the heat stress response, with increases in dangerous Heat Index (cf. graphic) magnified in coastal areas.
Further, emissions deceleration substantially mitigates heat stress intensification throughout the Mediterranean region, implying that emissions reductions could reduce the risk of increased heat stress in the coming decades."
(Published June 15.th 2007)

"Rare events like the heat wave in 2003 will become the standard", says Noah Diffenbaugh, earth and atmosphere researcher at the Purdue University in West Lafayette (Indiana) and main author of the study. "The extreme events of the future will be without example in their consequences." What today are the hottest summer days, by the end of the 21.st century will become the coolest ones, according to simulations.

Summer days with "dangerous heat stress"

For their view into the future the researchers used the supercomputer of the national Chinese climatic centre in Beijing and fed it with two different, internationally common global scenarios: a pessimistic and a rather optimistic. In one case the output of carbon dioxide and other greenhouse gases rises exponentially, their content in the atmosphere doubles compared to today (A2 scenario); in the other one the world-wide emissions increase less strongly due to larger efforts of climatic protection, but even so by approximately 50% (B2 scenario).

These data were put into a regional climatic computer model. In the end it supplied a picture of the temperature extremes that can be expected on the Mediterranean up to the year 2099, and with a rather high spatial resolution of 20 × 20 km. Finally, Diffenbaugh and his colleagues determined the number of summer days with "dangerous heat stress" for groups of risk like older people and infants, derived from formulas used by weather forecast services. On the Mediterranean those are generally days with temperatures beyond 40.5ºC.

The results should bring sweat pearls to some people's foreheads already: The daily maximum temperature on the hottest days rises accordingly for instance in Paris from 27º to 35ºC, if greenhouse gas emissions will follow the A2 path without brakes. Also summer nights on the Seine would then be by the end of the century around full 4ºC warmer than today. In Rome and Tel Aviv heat periods could become the standard, when the thermometer would show only just 43ºC and more during the day. In Athens it might be even 45ºC and in Algiers 46ºC – with nocturnal maximum values of 28ºC and 29ºC. In the more optimistic B2 scenario temperatures would lie around 1.2ºC to 2ºC lower.»





… What are we all still waiting for?
For us to open our outside doors and dive into a sand dune?
For us to drink water from the Atlantic?
For us to die instantly from a heat stroke?
Tell me all about political summits and more… I just love being fooled!

RIC - Translation and editing

terça-feira, 19 de junho de 2007

New Kids on the Block…

From Rome Cum lætitia.



Simon Woods - Gaius Octavius

«Pulchrum eminere est inter illustres viros.»

É belo destacar-se entre homens ilustres.
It is beautiful to distinguish oneself among illustrious men.


Allen Leech - Marcus Vipsanius Agrippa

«Pulchrum, sed vitiosum.»

Belo, mas vicioso.
Handsome, but vicious.

Please go on enjoying both the series and the views…

RIC

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Homossexualidade e Igreja Católica

O que pretendo aqui tratar pouco ou nada tem que ver com a realidade portuguesa no que concerne o estrito facto de se ser homossexual e católico. Tenho lido e conversado o suficiente sobre o assunto, tenho deparado com posições muito diversas – das mais extremadas às mais conciliatórias –, e para quase todas elas consigo encontrar no meu íntimo as plausíveis explicações e as cabais justificações.

Neste espaço da blogosfera já fui acusado de não querer encarar a evidência de que muitos homossexuais são católicos.
Nada menos correcto.
Que eu diga de mim próprio que abandonei há longos anos o catolicismo, que deixei de ser praticante e que não me revejo em dogmas e preceitos da Igreja não implica necessariamente que seja obtuso ao ponto de não aceitar e de não compreender que um homossexual seja católico. Talvez sinta cada vez mais dificuldades em fazê-lo (problema meu), mas respeito as convicções dos outros, desde que não seja confrontado com proselitismos. Bastaram-me e sobejaram-me os políticos…
Creio dever introduzir aqui uma tripla distinção que tenho feito e que me tem norteado nas minhas atitudes relativas ao religioso lato sensu, a saber:

i) Deus – o plano da fé, individual, psicológico;

ii) Igreja enquanto 'eclésia', a comunidade dos crentes – o plano social;

iii) Igreja enquanto instituição hierarquizada – o plano político.

Quanto ao primeiro, nada tenho a dizer. Trata-se do mundo interior de cada um, fruto da educação recebida, das vivências, do percurso de vida, das convicções sedimentadas, da visão do mundo e da vida, da morte inclusive.

Quanto ao segundo – do qual me afastei por ter deixado de ser praticante –, tenho sobretudo sentimentos e pensamentos ambivalentes. E creio que ainda bem que assim é. Se em algumas paróquias – não posso dizer se muitas se poucas – vai despontando nos respectivos párocos alguma vontade (muita ou pouca, não sei; dependerá da consciência de cada um deles) de integração, acompanhamento e aconselhamento aos homossexuais, malgré tout, nas outras não creio que os homossexuais que as frequentam se sintam acolhidos de alma e coração na plenitude do seu ser. Provavelmente sacrificarão uma coisa a outra.
A comunidade dos crentes – na qual há muito não me revejo – é mentalmente estereotipada. Ou nos enquadramos a 100% no modelo e seguimos o cânone à risca, ou a exclusão – implícita ou explícita – é a consequência de se querer ser 'diferentemente' católico. Não há qualquer espaço para idiossincrasias, para quaisquer 'heterodoxias'. Nunca poderia sentir-me bem onde não sou plenamente bem-vindo.

Quanto ao terceiro, manifesto a minha frontal oposição. É sobretudo aqui que considero que a troca de ideias é particularmente relevante, já que não tenho qualquer intervenção no plano social, do qual estou fisicamente afastado.

O pontificado de Bento XVI tem vindo a revelar-se consentâneo com o que era já expectável desde que foi eleito. As suas atitudes e posições não me têm surpreendido. Não entrarei aqui em considerações de cariz teológico, primeiro porque não sou versado no assunto e não quero induzir ninguém em incorrecções; segundo porque me interessa sobremaneira a dimensão política da Igreja e as suas relações com os poderes instituídos, políticos e outros. Eis três factos – entre outros a que poderei voltar mais tarde – que considero particularmente nefastas à Igreja.

1. Em celebrações eminentemente internacionais/multiculturais dever-se-á privilegiar o uso do Latim como língua franca.

2. Os membros das organizações que se sintam identificados com os princípios católicos devem retirar o seu apoio à Amnistia Internacional.

3. Jamais se verificou uma tão perfeita sintonia entre o papado e uma administração norte-americana, republicana ou democrata.

Pelo que me tem sido dado observar, prevalecem entre nós, portugueses, ainda resquícios de uma mentalidade 'secretista', que leva muitos a pronunciarem-se sobre questões do foro religioso ao abrigo do anonimato. Confesso que me custa a perceber, quando é certo que tabus é o que menos vai havendo na blogosfera e atendendo ainda à baixa média etária da maioria dos bloguistas. Mas vícios mentais são vícios mentais, passe a tautologia.


Esta é uma praça também adequada a um Gay Pride.
O local em si não difere de muitas outras praças por esse mundo fora, onde ocorre um pouco de tudo o que caracteriza o ser humano na sua radical imperfeição.
Se sob as colunatas de S. Pedro se aprazam encontros – amorosos, libidinosos ou pecaminosos, não me interessa o qualificativo – entre eclesiásticos e não eclesiásticos, como um estudante alemão de Teologia comprovou há anos e disso deu testemunho escandalizado no Der Spiegel, é assunto que talvez devesse preocupar mais as autoridades do Vaticano. A mim, interessa-me muito pouco ou nada, conquanto esteja consciente de que é, mais uma vez, a imagem do topo da hierarquia que fica posta em causa.

Em vida de João Paulo II, muito provavelmente, não teria escrito este texto. Porquê? Tão-só porque coração e razão só muito raramente se dão o braço...

RIC

domingo, 17 de junho de 2007

Diatribe against the Warsaw government


In Poland a campaign against homophobia was launched a while ago, consisting of two aggressive posters, displayed almost in a clandestine way, whose single message was

CO SIĘ GAPISZ LESBO?! – What are you looking at, you dyke?!

CO SIĘ GAPISZ PEDALE?! – What are you looking at, you faggot?!

Allegedly, its goal was to catch the attention of the Polish people so that they got informed about the campaign.
Well, I don't know. I really don't…

The insolent scaling of pan-Slavic homophobia in Eastern Europe is becoming absolutely intolerable, being particularly incited by Polish and Russian governmental authorities. 'Secret' police forces – fabulous device in a democratic society! – have recently been sent after LGBT activists.

As far as the European Union is concerned – and Poland is a member, even if kept hostage by the grotesque twins –, this fierce homophobic attitude of the Polish government should be regarded as an inadmissible affront to democratic basic principles.

And the Council of Europe should rise above its coward fears and straightforwardly condemn the Warsaw government for its utmost disrespect of the European Convention on Human Rights.


Here is my outraged answer to each and every homophobic member of the Polish government (just in case they should cast their eye over this page...)

CO SIĘ GAPISZ KURVA?!

CO SIĘ GAPISZ BĘKART?!

Enjoy your new status of medieval bigots in the eyes of the European public opinion, you abhorrent, shameless morons!

And don't you worry a thing: that status of yours will definitely last on and on, as your bad reputation will too, no doubt about it!

RIC

sábado, 16 de junho de 2007

Eu, bloguista, me confesso…


Encontrei esta série confessional com a designação de «33 Respostas»...
Se calhar são, só que eu é que não dei com as perguntas em parte nenhuma…
Assim, passo a chamar-lhe Eu Confesso.
Primeiro, li a confissão alheia para me compenetrar do espírito da coisa; depois, apaguei-a para regressar à virgindade possível face às secas formas verbais da 1.ª pessoa; finalmente, lancei-me a completar as frases.
Aqui está então:

Eu quero – confessar-me.
Eu tenho – algo a dizer.
Eu acho – que ficarão a conhecer-me melhor.
Eu odeio – a nada nem a ninguém. Sentimento destruidor!
Eu sinto – que comecei bem!
Eu escuto – o que me aconselham e me confidenciam.
Eu cheiro – muito bem quando me perfumo, mas cheira-me que não era bem este cheiro que deveria aqui fazer-se sentir…
Eu imploro – por um mundo melhor.
Eu procuro – uma alma gémea.
Eu arrependo-me – de ter destruído relações.
Eu amo – os meus amigos.
Eu sinto dor – por quem sofre.
Eu sinto falta – de quem já partiu.
Eu importo-me – com o futuro da humanidade.
Eu sempre – disse que o capitalismo selvagem tem os dias contados…
Eu não fico – bem em fotografias…
Eu acredito – que há bondade no homem.
Eu danço – com muito prazer, hoje bem menos que outrora…
Eu canto – todos os dias, mesmo quando a tristeza é avassaladora; para esses momentos, também há banda sonora.
Eu choro – hoje com mais facilidade do que no passado.
Eu falho – com frequência… Sou apenas humano.
Eu luto – por aquilo em que acredito.
Eu escrevo – como quem respira.
Eu ganho – muito pouco com isso…
Eu perco – a tramontana com o desrespeito generalizado reinante.
Eu nunca – me importo que possam dizer mal de mim.
Eu confundo-me – com os actuais ritmos de vida alucinantes.
Eu estou – entregue a mim próprio.
Eu sou – apenas um homem.
Eu fico feliz – com a felicidade dos outros.
Eu tenho esperança – em melhores dias.
Eu preciso – de me saber realizado.
Eu deveria – acreditar mais em mim.

Com os agradecimentos da praxe àquele que foi pilhado…

… And there's nothing like «two in one»… To say the least!
Since I've been so busy with Scandinavia these last few days, here is…


My Scandinavian Name is:

Roscoe Hans


Yeah! Sure! If this is a Scandinavian name, mine's definitely Chinese...
Please be so kind as to have a greeaat weekend, okay? Thanks!

Oh, just by the way: isn't Brothers & Sisters a hell of a blast?! Oh man, I just love it! I guess I hadn't watched such a fantabulous «Made in USA» TV series in a loonng, loonng time!

RIC

sexta-feira, 15 de junho de 2007

«Un Jour, Un Enfant»...



Frida Boccara
France
Concours Eurovision de la Chanson,
Madrid, 1969

Un jour se lèvera
Sur trois branches de lilas
Qu'un enfant regardera
Comme un livre d'images.

Le monde autour de lui
Sera vide et c'est ainsi
Qu'il inventera la vie
À sa première page.

En dessinant la forme d'une orange
Il donnera au ciel son premier soleil
En dessinant l'oiseau
Il inventera la fleur
En cherchant le bruit de l'eau
Il entendra le cri du cœur.

En dessinant les branches d'une étoile
Il trouvera l'enfant, le chemin des grands
Des grands qui ont gardé
Un regard émerveillé
Pour les fruits de chaque jour
Et pour les roses de l'amour.

Voici ce que la vraie Grande Poésie peut faire: une très belle chanson, datée et par son style et par l'interprétation superbe de Frida, devint intemporelle.

Le texte est-il aussi un dessin bien rigoureux de ce que l'humanité d'aujourd'hui est en train d'octroyer aux générations futures – des réminiscences, des souvenirs…

Et puis, derrière ces beaux vers, on entend bien forte la voix de Jacques Prévert – "Pour faire le portrait d'un oiseau" y est aussi… Lisez-le
ici! Vous y en trouverez une traduction en langue portugaise (et en anglais aussi).

Ceci n'est qu'un humble hommage à ma toute première langue étrangère – le Français!
Tout ce qu'on aime dès l'enfance a son petit coin dans nos cœurs à jamais…

Je pense à toi, Joël, avec toute mon amitié, même si tu n'aimes pas tellement ce genre-ci de chansons…
RIC

quinta-feira, 14 de junho de 2007

A pretext to visit Karen Blixen Museum


«Nairobi, 7 de Junho de 2007
Olá a todos,
Directamente de Nairobi, as primeiras impressões são poucas. Uma cidade tipicamente africana, mercados de artesanato de perder a cabeça e, para meu grande espanto, zonas verdes quase luxuriantes.
São 9:30 da noite e espera-me uma noite de sono que acalme a canseira da viagem. Amanhã, de madrugada, começa o verdadeiro safari.
Se puder, volto a dar notícias.
Beijinhos a todos, até ao meu regresso.
Karla»

Baroness Karen Christence Dinesen Blixen-Finecke, a.k.a. Isak Dinesen, performed in "Out of Africa" by the stunning Meryl Streep:


"You see, I had a farm in Africa at the foot of the Ngong Hills. But it really began before that; it really began in Denmark. And there I knew two brothers. One was my lover, and one was my friend. I had a farm in Africa… I had a farm in Africa at the foot of the Ngong Hills. I had a farm in Africa…"


«This is the stone farmhouse, now in a Nairobi suburb, where Danish author Karen Blixen lived from 1914 to 1931 and where she welcomed her lover, Denys Finch-Hatton – remember Robert Redford?…

Since the 1985 Oscar sweep, crowds have doubled at the Blixen manor, now restored as a national museum. A band of eucalyptus woodland, the Ngong Road Forest, still separates the cool, upland suburb from downtown Nairobi, at 1,700 m.

The mahogany-panelled rooms are plunged into a dim, natural light, filtered by paned glass and lace curtains. The house and grounds were presented to Kenya as an Uhuru (Independence) gift by the Danish government. A manicured walkway circles from Karen Road to the veranda where Blixen spun stories at sundown for guests, most especially Finch-Hatton.

There is a replica of the RCA Victor gramophone on which Streep/Blixen and Redford/Finch-Hatton played Mozart concertos – even on safari –, especially the Adagio of the Concert for clarinet and orchestra in A major, K. 622, a piece of gold amidst all the others that compose the film's soundtrack. There is the lantern that she hung outside to let him know she was home.

Floor-to-ceiling library shelves hold copies of Denys' books, each marked with a small brass plaque – DFH. Blixen's square corner bedroom, its white wooden bed swagged with mosquito netting, is at the end of a narrow hall. Blixen's actual bed belongs to her godson, long retired and living in Nairobi. The museum is hoping for a bequest. Most of her other possessions are in her museum in Copenhagen.

Blixen's repeated attempts to establish a coffee plantation were foredoomed because neither the soil nor the altitude was right for such a venture. Financial ruin finally sent her packing home to Denmark, where she wrote with such passion of her years in what was then British East Africa.


Now the acreage is a park of palms, Norfolk pines and columnar cypress, backed by the smoky blue Ngong Hills. The most startling plant is a ghostly-gray giant cactus, shaped like a candelabrum, an 82-year old candelabria euphorbia.

Across the grass and ducked into the bush, following a damp, shady path there's a clearing where a rusty contraption stands that could have been designed by Dr. Seuss, a coffee bean husker and sorter with oddball parts imported from Liverpool and Aberdeen.

As for the film, it was shot on the far side of the property in a sort-of-replica house built by Universal Studios. The real house was deemed too dark to use – especially the dining room where Blixen entertained by candlelight, treasuring her crystal and Limoges. After all, those were the foolish 20s, she was living in the middle of nowhere out there in the heart of Africa, but she was still a baroness anyway…»


According to her safari's program, Karla will be today on Rusinga Island – a paradise for the 270 species of local and migratory birds – on Lake Victoria…
Oh Lord, can you feel that dreadful jealousy eating you from inside out?!…
Enjoy it all lavishly, dear Karla! I'm looking forward to watching all the photos!

RIC (mainly edited)