terça-feira, 28 de agosto de 2007

João Domingos Bomtempo


Nasce em Lisboa a 28 de Dezembro de 1775, filho de um oboísta italiano, Francesco Saverio Bomtempo, e de uma portuguesa. Realiza os primeiros estudos musicais com o pai, oboísta da orquestra real de D. José, continuando-os mais tarde no Seminário Patriarcal de Lisboa. Aos 14 anos torna-se cantor na capela real da Bemposta e, aos 20, por falecimento do pai, substitui-o no cargo de oboísta da Real Câmara.

Em 1801, com 26 anos, parte para Paris para aprofundar os seus estudos musicais, nomeadamente do piano, tendo-se aí tornado amigo de Clementi, Cramer, Field e Dussek, entre outros.

Inicia-se um período de grande notoriedade para Bomtempo, quer como pianista, quer como compositor e, mais tarde, como professor. Surgem as primeiras publicações de composições suas (Grande Sonata para piano, op. 1, e os primeiros dois concertos para piano, op. 2 e 3 respectivamente), e afirma-se a sua popularidade em Paris, onde brilha nos salões como solista.

Contudo, as invasões napoleónicas da península Ibérica comprometem a sua estada em França, pelo que abandona Paris em 1810.

O período de 1810 a 1814, em que permanece ininterruptamente em Londres, é fértil em produções, entre as quais, por exemplo, as 3 Grandes Sonatas, op. 9, o Hino Lusitano, op. 10, a I Grande Sinfonia, op. 11, a Marcha de Lord Wellington, bem como outras sonatas e concertos.

Com o afastamento do perigo napoleónico e a reorganização da Europa saída do Congresso de Viena de 1815, a mobilidade de Bomtempo é muito maior, passando a circular sem constrangimentos entre Londres, Paris e Lisboa. Compõe a cantata A Paz da Europa e, paralelamente, desenvolve a sua actividade pedagógica publicando em Londres uma obra didáctica "Elementos de Música e Método de Tocar Pianoforte", a qual é, segundo afirma na dedicatória, "oferecida à Nação Portuguesa".

De regresso a Portugal, dedica-se à composição da que é considerada a sua obra-prima, o Requiem em Memória de Camões, integrada no mesmo espírito de revivalismo que tinha originado a publicação da famosa edição de «Os Lusíadas» pelo Morgado de Mateus em França.

Em 1820, e na sequência do movimento liberal em Portugal, Bomtempo regressa a Lisboa, desde logo mostrando-se simpatizante da causa e compondo diversas obras evocativas desses novos tempos.

É o caso, por exemplo, da Missa "composta em obséquio da Regeneração Portuguesa" que será executada, juntamente com o Te Deum, na festa do juramento das Bases da Constituição, na Igreja de São Domingos, a 29 Março de 1821. No mesmo ano dirige o Requiem em primeira audição lisboeta, na mesma igreja, em memória dos supliciados de 1817 e do General Gomes Freire de Andrade. Compõe ainda uma Serenata que inclui várias variações sobre o Hino da Carta.

Bomtempo torna-se o compositor solicitado para a celebração de diversos actos oficiais e/ou litúrgicos da Corte. Ao mesmo tempo, tenta implantar em Portugal o gosto pela música instrumental, que estava a desenvolver-se na Europa, através da criação de uma Sociedade Filarmónica de concertos, segundo o modelo da sua congénere londrina, em cujos concertos pretendia dar a conhecer não apenas a sua música, mas igualmente a dos clássicos vienenses.

Durante o conturbado período que culminou com a vitória dos liberais em 1833, Bomtempo viu as suas actividades francamente restringidas, tendo-se alegadamente refugiado no consulado da Rússia e escapado de ser preso durante as amotinações populares em que participou – as célebres "archotadas".

Com a tomada do poder por D. Pedro IV, Bomtempo é nomeado professor de D. Maria II e agraciado com a Comenda da Ordem de Cristo.


Em Junho de 1834 retoma o projecto de criação de um estabelecimento de ensino da música, que ficara adiado em 1822, apresentando o respectivo plano, o qual teve por despacho "guarde-se para se tomar em consideração em tempo oportuno". Finalmente, a 5 de Maio de 1835, é criado por decreto o "Conservatório de Música" que ficou anexo à Casa Pia e do qual Bomtempo foi nomeado director.

A 18 de Agosto de 1842 morre com 66 anos, vítima de uma "apoplexia".

Alguns esforços têm sido feitos para divulgar a música de João Domingos Bomtempo, nomeadamente algumas gravações, mas a grande parte mantém-se desconhecida e inédita. Conhecem-se duas sinfonias, embora se admita a existência de mais cinco (!), que transmitem de um modo mais flagrante a sua personalidade musical e as suas influências invulgares para compositor ibérico da época, nomeadamente as germânicas clássicas.

RIC (a partir de texto biográfico de Maria José Borges)


English summary

João Domingos Bomtempo was a Portuguese classical pianist, composer and pedagogue. He was son of an Italian musician of the Portuguese court orchestra, and studied at the Music Seminary of the Patriarchal See in Lisbon.
Unlike most of his contemporaries, he was not interested in opera and, in 1801, instead of going to Italy, he travelled to Paris, starting a virtuoso pianist career. He moved to London in 1810 and got acquainted with the liberal circles. In 1822 he returned to Lisbon and tried to found a Philharmonic Society to promote public concerts of contemporary music.
After the Portuguese civil war between liberals and absolutists, Bomtempo became a music teacher of Queen Maria II and first director of the National Conservatory, created in 1835.
As a composer, Bomtempo produced a vast amount of concertos, sonatas, variations and fantasias for the piano. His two known symphonies are the first to be composed by a Portuguese musician.
His masterpiece is his Requiem to the Memory of Luís de Camões.

Wikipedia

2 comentários:

Shadow disse...

Aqui, na tua babilónia, junto sempre o útil ao agradável.
Tanta coisa que desconhia de Bomtempo, «xiii»...
Obrigada!

Beijinho :-)

RIC disse...

Olá querida Carla!
Em primeiro lugar, muito obrigado por teres «quebrado o enguiço»... Às vezes, acho que continuo a não perceber rigorosamente nada de nada... Continuo um desconhecido - e um desconhecedor - entre desconhecidos... Adiante!
Também eu desconhecia muita coisa sobre Bomtempo até ter investigado alguma coisa para aqui. Continuamos, pelos vistos, a ignorar os que fizeram alguma coisa pelo nosso nome... Fico sempre um bocado descorçoado, mas isso é porque sou parvo e ingénuo... O que muitas vezes é também sinónimo de burrice.
Os concertos para piano fazem-me lembrar Haydn e, às vezes, Mozart. E o Requiem à Memória de Camões era o que eu conhecia melhor da obra dele: é de uma grande imponência e ouve-se muito bem!
Ficámos ambos a saber mais qualquer coisinha; que bom, não é?
Não tens de quê! É um prazer!
Um beijinho! :-)