«Je remonte la rua das Janelas Verdes. J'entre au musée des Arts anciens. C'est sombre et frais. Je reste longtemps devant un polyptyque du quinzième siècle attribué à Nuno Gonçalves où est représentée la vénération de saint Vincent de Fora par des personnages de l'Église, des militaires et des bourgeois.
Dehors, tout a changé. La pluie s'est arrêtée. Je m'assois sur un vieux banc en bois du jardin du 9-Avril. Le soleil frappe mon visage du côté droit. Le port est là, en contrebas, passé les rails du tramway et ceux du train qui longe la côte vers Estoril; ensuite c'est le Tage, vert clair, piqué de moutons; les grues qui cachent presque entièrement le Christ Roi érigé sur l'autre rive; des cheminées, des coques de navires.
Il fait beau comme jamais. Je suis vivant; le monde n'est pas seulement une chose là, extérieure à moi-même: j'y participe. Il m'est offert. Je vais probablement mourir du sida, mais ce n'est plus ma vie: je suis dans la vie.»
Cyril Collard, Les nuits fauves
A adaptação cinematográfica, realizada e protagonizada pelo autor, foi galardoada com o César para o melhor filme de 1993.
Cyril Collard nasceu em Paris, a 19 de Dezembro de 1957. Quando se realizou a cerimónia para a entrega dos Césares, Cyril já não esteve presente. Faleceu em Paris, a 5 de Março de 1993.
Romance e filme são retratos crus de um estilo de vida que condenaria tantos a uma morte prematura. Cyril sabia que estava a caminho do fim e como que ganhou asas para realizar o filme que foi o seu canto do cisne.
O final apresenta cenas de grande beleza rodadas em Lisboa, entre as quais recordo uma travessia da ponte 25 de Abril num descapotável: um lancinante grito de apelo – e um vibrante testemunho de apego – à vida.
«Subo a Rua das Janelas Verdes. Entro no Museu de Arte Antiga. Está sombrio e fresco. Fico bastante tempo em frente de um políptico do século XV atribuído a Nuno Gonçalves que representa a veneração de São Vicente de Fora por personalidades da Igreja, militares e burgueses.
Lá fora tudo mudou. A chuva parou. Sento-me num velho banco de madeira do Jardim 9 de Abril. O sol bate-me no rosto do lado direito. O porto fica ali em baixo, para lá dos carris do eléctrico e do comboio que segue ao longo da costa em direcção ao Estoril. A seguir fica o Tejo, verde-claro, encarneirado; os guindastes que quase por completo escondem o Cristo-Rei erigido na outra margem; chaminés, cascos de navios.
Está mais agradável que nunca. Estou vivo. O mundo não é apenas uma coisa existente, exterior a mim próprio: participo nele e ele é-me dado. Provavelmente vou morrer de sida, mas já não é a minha vida. Eu sou parte da vida.»
As Noites Fulvas
Tradução de RIC
sexta-feira, 31 de agosto de 2007
Cyril Collard in memoriam
Editado por RIC às 01:11
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12 comentários:
Eu realmente ainda não vi esse filme. Mas parece ser muito interessante pelo que você disse.
Caro Leo!
Perdê-lo seria muito má ideia, se acaso te é possível vê-lo, obviamente!...
Não é interessante. É chocante.
É sempre triste quando alguém morre assim tão jovem. Não conheço os outros filmes dele mas vi este que me marcou. Tinha vinte e poucos anos, uma vida pela frente, e aquilo assustava um pouco. Ainda por cima na altura a informação sobre a doença ainda não era muita e eu identifiquei-me um pouco com a personagem pela sua bissexualidade.
Um abraço
I kiss you.
Olá Paulo!
O romance e logo a seguir o filme estão ligados a acontecimentos importantes da minha vida que tiveram lugar precisamente nos anos de 92, 93 e 94... Foi tudo muito perturbador e mudou a minha vida para sempre...
Terás assim uma ideia do que o desaparecimento de Collard representa para mim...
Um abraço! :-)
Hello Minge!
Do you? I kiss you back then...
I was no longer sure you'd ever come back... You've deserted me for so long... But I'm happy now, I guess...
Não vi o filme. Porém, pelo que é-me dado a ler, vai mexer com o meu Eu. Portanto...a ver brevemente.
Um excelente fim-de-semana!
(Sem preguiças, sim? ) ;-)
Beijinho :-)
Olá Carla!
... Sim, «mãezinha»! Prometo!... Rsrsrs!
É um bom filme, sem dúvida! Collard teria ido longe, se a vida lho tivesse permitido... Não faço ideia se o encontrarás no circuito de aluguer ou mesmo no comercial... Talvez o Paulo saiba!
Um óptimo fim-de-semana para ti também, minha cara!
Um beijinho! :-)
Voltei curiosa...
Parece-me que escapou(-te) algo... «Filho distraído»!...lol
:-)
??? :-) Lamento, mas «esta» escapou-me... E pelos vistos outra anterior também... Rsrs! Eu não te disse já, ó Matemática, que o meu discernimento é inversamente proporcional à temperatura ambiente? Rsrsrs! Bem que te avisei!...
:-)
Por acaso foi pelo circuito de aluguer que eu vi o filme, na altura ainda era em VHS, nem se sonhava com o DVD. No circuito comercial português não deve ser fácil de encontrar. O meu conselho era a Amazon, mas depois de uma busca vi que não está disponível :(
Um abraço.
Olá Paulo!
Muito obrigado pela tua atenção e pelo teu cuidado! Apesar de todos os progressos, parece-me que o audiovisual europeu tem ainda um longo caminho a percorrer... Se pensarmos que qualquer treta hollywoodesca se encontra a pontapé...
Um abraço! :-)
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