Em certos momentos, creio e sinto que me faz falta olhar-me mais detidamente ao espelho. Não chegarei a ver a alma, como alguns crêem, mas poderei sempre tentar melhorar aquilo que a janela dela me permitir observar.
Muitas vezes, não compreendo as minhas reacções, as minhas atitudes, os meus comportamentos. Isto, para alguém que se considera um racionalista "romântico" – com a carrada de contradições e paradoxos inerentes a esta designação, criada por quem se tem vivido a si próprio no fio da navalha – é desconcertante e, as mais das vezes, causa de grandes frustrações.
Ao interrogar-me sobre porquês, aos poucos vou-me dando conta de padrões recorrentes presentes em mim desde que pela primeira vez me terei auto-analisado. Um deles identifiquei-o cedo como uma tendência quixotesca de lutar contra moinhos de vento ou de remar contra a maré. Numa época em que o visual exterior dá cartas de todas as formas, feitios e maneiras, surpreendo-me a tentar negar esta evidência irrefutável e a procurar, irracionalmente, que de mim seja "visto", também e sobretudo, esse mundo interior, de facto, a única riqueza que creio possuir. Ociosa e vã tarefa…
Conquanto a blogosfera seja um espaço privilegiado para dar largas a esta tendência, a verdade é que continuo a viver no mundo, com o mundo, pelo mundo e para o mundo. Logo, não me posso alhear de que o que os outros vêem de mim em primeiro lugar é o que os olhos lhes oferecem e não o que há de mais ou menos rico dentro de mim.
E quando a consciência me alerta para os perigos deste abismo, uma dor nasce-me no peito, cresce desmesuradamente e obriga-me a reconhecer que, afinal, poderá ser bem menor a tal riqueza interior.
Aparências e essências – o eterno problema, o constante dilema. Não creio que o Sr. Segismundo Alegria – saborosa ironia das ironias! – me pudesse valer nestas minhas andanças entre o aquém e o além do espelho…
Stultitia ad sapientiam erepit, sapientia in stultitiam non revolvitur.
Séneca, Epistulæ Morales
A ignorância pode erguer-se à sabedoria, mas a sabedoria não retorna à ignorância.
Stultum nimis est, cum tu pravissima tentes, alterius censor ut vitiosa notes.
Aviano, Fabulæ
É nímia tolice, quando se vive vida depravadíssima, fazer-se censor dos vícios alheios.
Stultus, nisi quod ipse facit, nil rectum putat.
Epígrafe de Fábula de Fedro
O néscio, salvo o que ele próprio faz, nada reputa certo.
RIC
terça-feira, 31 de julho de 2007
Reflectindo…
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26 comentários:
Olá Ric!
Todos nós temos os nossos dilemas, eu que o diga. Valha-nos o lado bom (interior).
O tal livro que mencionei ("um Um, Ninguém e Cem Mil) fala um pouco disso, como nós vemos e os outro nos vêm, que são duas formas totalmente distintas...
Abraço!
Olá Lampejo!
A questão que me tem ocupado não é tanto a diferença fundamental entre o como me vejo e o como os outros me vêem, mas sim o que eu faço - ou não faço - para que os outros tenham uma percepção de mim mais próxima da minha «essência» e menos da minha «aparência»...
Complicações minhas...
Um abraço! :-)
O teu «perfume» sente-se...
Obrigada por seres quem és!
Abraço looonngooo!
Olá Carla!
Obrigado eu.
Até breve!
Beijinho! :-)
Caro Ric, espero sinceramente que o post que se seguiu a este, onde não me é permitido comentar, não seja um letreiro definitivo nesta porta que nos abriste, mas, se por acaso assim for, da minha parte resta-me, por agora, dizer-te que também eu, com todas as minhas contradições e paradoxos, sou um racional romântico. Quantos mais não haverá por ai?
Num mundo de aparências e conveniências, poucos serão os que se dão ao trabalho e à curiosidade de espreitar para lá do óbvio, mas, chama-me optimista, eu ainda acredito que sempre há quem faça toda a diferença.
Grande abraço.
Um espelho sempre nos faz ´refletir`, em vários sentidos, sobre nós mesmos.
Ric, ainda não voltei definitivamente (o meu monitor já era!), mas já tô quase lá.rs
Abração!
Não conheço o teu exterior e pelo que conheço do teu interior parecesse ser riquíssimo.
Como diz o Oz esperemos que o post seguinte não seja uma despedida.
Um abraço.
Fechaste o blogue?
Ab
Olá Oz!
Obrigado pelas tuas palavras!
Não há relação directa entre o conteúdo deste édito e o encerramento provisório do blogue. A haver, será apenas indirecta.
Sem fechar quaisquer portas, direi apenas que nunca fui optimista. O lado racional nunca me deixou ir além do realismo... E o que os meus olhos vêem e o meu espírito observa não é muito entusiasmante... Pelos vistos, o que é sério enfada, o que também é tipicamente português! Somos muito mais dados à pilhéria fácil, hoje praticamente desprovida de sentido, de tão absurda...
Há sem dúvida quem faça toda a diferença! Eu é que devo estar a ocupar um quarto com vista para o deserto... Culpa de ninguém, excepto minha.
Preciso de recarregar as baterias e de reformular as minhas prioridades. Quero que esta minha actividade mantenha o sentido, o interesse e o prazer que tem tido desde a primeira hora, mas tal como está não pode continuar. O conflito é comigo próprio.
Até à próxima!
Um grande abraço! :-)
Olá Leo!
Espero e desejo que tenhas esse problema resolvido e ultrapassado o mais depressa possível!
Até à próxima!
Um abração! :-)
Olá Paulo!
Obrigado pelas tuas amáveis palavras!
Lidar com desequilíbrios - sejam eles de que natureza forem - é sempre muito complicado. Esperemos para ver o que resulta desta pequena crise. Eu próprio já começara a suspeitar de que tudo estivesse a correr tão bem...
Sei que preciso da tua/vossa companhia, mas terei de usufruí-la de outro modo... Como? É isso que tenho de apurar...
Até à próxima!
Um abraço! :-)
Olá Bernardo!
Assim é, meu caro! Provisoriamente e «para balanço», como se costuma dizer.
Até à próxima!
Um abraço! :-)
Caro Ric
faltam-me um pouco as palavras, para te expressar a minha surpresa e tristeza pelo que o teu post seguinte nos comunica; amenizado fiquei um pouco ao ler em comentários teus, aqui, que será, eventualmente, um interregno, necessário para te questionares de outra forma sobre ti próprio, algo que todos precisamos fazer de quando em vez.
Com o encerramento do teu blog, a blogosfera fica mais pobre, mas não é isso que mais me incomoda; é sim, a falta que nos fazes a nós, que, como eu, se habituaram a ler-te e a aprenderem com os teus éditos tanta coisa que a tua mente e o teu saber possuem.
Não posso deixar de recordar o facto de que foste tu, o primeiro apoio que tive quando me lancei neste mundo fascinante. Foste tu também a primeira pessoa, de entre os meus amigos da blogosfera, que conheci pessoalmente. Habituei-me às tuas piadas certeiras, ao teu cáustico sentido crítico, quando tal era necessário, com a tua multiplicação linguística, com a tua palavra amiga, quando ela era necessária.
Por isso, meu Amigo, me custa muito a tua ausência. Não a critico, pois as razões pessoais de cada um são soberanas, mas ninguém me pode negar o direito de um sentido de tristeza.
Volta tão rápido te seja possível, nós cá estamos á tua espera, podes estar certo.
Um forte abraço.
Olá João C.!
Agradeço muito as tuas considerações e observações, meu caro. Não é minha intenção dramatizar o que nada tem de dramático: há momentos na vida para tudo, inclusive para parar. Quando em Fevereiro isso aconteceu, foi contra a minha vontade, e daí ter sido tão penoso; agora é diferente. Este é talvez o melhor momento para reorganizar uma série de coisas na minha vida.
Estou cansado – física e mentalmente –, triste e confuso, não o nego. As razões são múltiplas e heterogéneas, pelo que não as disseco aqui. É trabalho moroso que devo fazer sozinho, de vez em quando. Toda a minha vida adulta tem sido assim.
Acho muito bem que não te incomode que, por mim, a blogosfera possa ficar mais pobre! Quanto a fazer falta, compreendo e agradeço a tua atenção, mas sabes bem como hoje em dia tudo isso é tão volátil… Não vale a pena ir por aí.
O blogue permanecerá encerrado o tempo que for necessário: uma semana, duas, um mês, não posso dizê-lo. Mas eu andarei por aí e direi o que tiver a dizer onde e quando muito bem me apetecer… Também me vai saber bem experimentar o «outro lado da barricada» para ver como é… Não me tenho por vira-casacas, mas sou um bocado como São Tomé. E, já gora, obrigado pelo elogio ao meu «cáustico sentido crítico»! Nunca abrirei mão dele, muito menos no patético Portugal que estamos hoje a viver mais a sua medíocre mediania nauseante, mas também conheço o reverso da medalha – entre nós, o que é sério enfada…
«A gente» vai-se vendo por aí!
Um abraço amigo! :-)
Olá Ricardo, venho avisar que foste linkado no Bairro do Amor.
Bom descanso e volta depressa.
Um abraço.
Ontem quando deixei o comentário, não poderia imaginar que hoje ao chegar aqui as portas desta babilónia estivessem encerradas Fiquei muito triste, cre!
Egoisticamente só me apetece dizer-te: Não nos prives da tua companhia, please!
Obviamente não tenho esse direito e respeito (muito) a tua decisão. Como optimista (que por vezes sou) digo-te: As opções que se tomam na vida trazem beneficios sempre acrescidos.
Porém o meu lado pessimista questiona-se: Será que não tem volta?...
Mas com o coração digo-te: Sê feliz! Estarei «aqui»!
Até (já)!
:-)
Olá Ric,
acredito que sejam só umas férias e que são bem merecidas.
Sabes, o meu tio-avô que é fruticultor sempre me disse que a melhor fruta não é necessariamente a que tem melhor aspecto.
Nos próximos 10 dias vou estar 8h no sítio dos estreitinhos, faz-me uma visita.
Beijinho
Olá Papagueno!
É sem dúvida uma honra, meu caro!
Muitíssimo obrigado! Mais uma boa razão para doravante te visitar mais regularmente.
Um abraço! :-)
Olá, minha querida Carla!
... Até a Babilónia precisa de alguma ordem...
Lamento todo o transtorno e tristeza causados, mas teve mesmo de ser... E muito obrigado por essa frase do teu lado optimista!
Além de que não ficaremos de todo sem nos «ver»: agora existe o B&W! E o tempo passa a voar! Vais ver!
Até breve!
Beijinho! :-)
Olá, minha querida RPorter!
Sim, são também umas férias necessárias, para não deixar esgotar as baterias completamente.
Concordo com o teu tio-avô, mas sabes bem que nos dias de hoje...
Podes estar certa de que te visitarei com prazer ao longo dessa tua maratona. E que maratona!... Muita força!
Beijinho! :-)
I hope you're closed because of vacation.
Bonjour cher Joël!
Celle-là n'est pas du tout la seule raison. Disons que, un peu comme toi, je suis très fatigué et presqu'à bout de souffle...
J'ai donc besoin d'un peu de temps pour moi-même, pour me recomposer. Pendant toute une année, l'Anglais est devenu, de quelque façon, trop pesant pour moi. Il ne me faut qu'un peu de repos, c'est tout.
De toute façon, la plupart des amis blogueurs est partie en vacances...
Je ne serai absent que pour quelques semaines, tout au plus.
J'espère que ça va mieux avec toi et je te souhaite le meilleur!
(Le blog est fermé, mais pas moi! Je te visiterai comme d'habitude.)
Salut, mon cher ami! :-)
Bom descanso!
Tenho para mim que as pessoas inteligentes e sensatas são aquelas que conhecem os seus limites e sabem parar quando sentem que tal é necessário. Assim, mantêm-se em boas condições para si e para os outros!
Um abraço e um beijinho
:)
Olá S.M.!
Ora aí estão umas palavras claras e directas que me encheram a alma neste início de tarde de sexta-feira! Muito obrigado, minha cara!
Não me refiro ao elogio à inteligência - assunto com muitas esquinas e veredas -, mas sim à importância e à necessidade de nos mantermos em condições - por nós, para nós, pelos outros e para os outros. Mas quem tem gente a seu cargo sabe o que isso é, não é assim?...
Voltarei em breve! Com incentivos destes...
Um abraço e um beijinho também para ti! :-)
:)
*hugs*
... Abraços? Também, muitos!...
:-)
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