sábado, 27 de janeiro de 2007

«Sol de Inverno»…


Sabe Deus que eu quis
Contigo ser feliz,
Viver ao sol do teu olhar,
Mais terno.
Morto o teu desejo,
Vivo o meu desejo,
Primavera em flor
Ao sol de Inverno.

Sonhos que sonhei
Onde estão?
Horas que vivi
Quem as tem?
De que serve ter coração
E não ter o amor de ninguém?

Beijos que te dei
Onde estão?
A quem foste dar
O que é meu?
Vale mais não ter coração
Do que ter e não ter, como eu.

Eu em troca de nada
Dei tudo na vida,
Bandeira vencida
Rasgada no chão,
Sou a data esquecida,
A coisa perdida
Que vai a leilão.

Sonhos que sonhei
Onde estão?
Horas que vivi
Quem as tem?
De que serve ter coração
E não ter o amor de ninguém?

Vivo de saudades, amor,
A vida perdeu fulgor,
Como o sol de Inverno
Não tenho calor.


Simone de Oliveira vence o Festival RTP da Canção de 1965 com este belíssimo tema – "Sol de Inverno" –, de Nóbrega e Sousa e Jerónimo Bragança.
Representa Portugal no Festival Eurovisão da Canção, em Nápoles, a 20 de Março de 1965, vencido por France Gall representando o Luxemburgo com a canção "Poupée de cire, poupée de son".

Como este sol de Inverno, não tenho calor…

Simone de Oliveira wins the RTP Song Contest of 1965 with this most beautiful melody – "Winter Sunshine" –, of Nóbrega e Sousa and Jerónimo Bragança.
She represents Portugal in the Eurovision Song Contest, in Naples, on March 20.th 1965, won by France Gall representing Luxemburg with the song "Poupée de cire, poupée de son".

Like this winter sunshine, I feel no warmth…

RIC

19 comentários:

Tongzhi disse...

Isto no tempo em que as pessoas se reunião em volta da televisão, para assistir ao Festival da Canção. O mesmo acontecia depois com a Eurovisão!
Voltemos ao poema e à interprete. É um poema muito bonito e bastante adequado ao dia de hoje. Aqui está um mágnifico "sol de Inverno". A interprete tinha uma voz e um poder de interpretação muito bom!

RIC disse...

Olá Tongzhi! Por aqui está também um frígido sol de Inverno... Lindo, mas frio. Também me sinto assim...
Ainda bem que não a detestas. E esta canão é uma das minhas preferidas do conjunto legado pelo chamado «nacional-cançonetismo». Pois é, sou muito agarrado a recordações...
Obrigado!
Um abraço! :-)

tiago disse...

eu prefiro 'a desfolhada': gosto mesmo! :) mas porquê a revisitação? saudosismo ou pertinência da letra? abraço grande, ric!

RIC disse...

Olá Tiago! «A Desfolhada» é uma canção de outro tipo. Gosto muito dela também, mas «Sol de Inverno» permite-me «vários num só»: recordar a Simone dos anos 60, trautear uma canção da minha infância (acordei com ela na cabeça, geralmente acontece-me com a música...), descrever o dia que esteve hoje em Lisboa e falar de mim sem «confessionários»...
Não há nisto qualquer saudosismo! Estou particularmente nostálgico hoje. É tudo.
Obrigado!
Outro abraço forte para ti e um bom fim-de-semana! :-)

lampejo disse...

Tão formoso este "sol de inverno".
Tristes palavras, triste sentir, que se transformam num lindo poema...

RIC disse...

Olá Lampejo! Ainda bem que gostas!
É triste, mas é formoso: deve ter sido por isso que veio hoje ao meu encontro...
Abraço! :-)

RIC disse...

Olá Bernardo! Obrigado!
A maior parte do pessoal internético e bloguístico não existia na primeira metade de 60. Um bocadinho de História Contemporânea não faz mal a ninguém... Rsrs!
Para mim, há muitos anos que se ajusta na perfeição a dias como hoje. Talvez por isso nunca o tenha esquecido...
Um abraço! :-)

Anónimo disse...

nossa cara...
bela musica...
muito boa ela...

RIC disse...

Olá Kaike! Sê bem-vindo!
Ainda bem que a canção - ou melhor, a letra - te agrada.
Volta sempre!
Abração! :-)

MrTBear disse...

Sempre adorei as noites do Festival da Eurovisão. O primeiro que vi foi aquele em que participou o Carlos do Carmo (Flor de verde Pinho).
Lá em casa fazíamos apostas e atribuíamos pontuações, quem se aproximasse mais ganhava o disco da canção vencedora. Eu nunca ganhei........ Apostava sempre em Portugal LOL.
Aqui também esteve um belo Sol de Inverno, óptimo para as constipações.....

RIC disse...

Olá Teddy Bear! Vê lá se reconheces:

«Eu queria chamar-te Pátria minha,
Dar-te o mais lindo nome português,
Queria dar-te um nome de rainha,
Que este amor é de Pedro por Inês.»

(Algum erro fica a dever-se à citação de cor...)

O primeiro festival da RTP de que me lembro foi o ganho pelo António Calvário (1964... Deuses!). Eu era muito miúdo, mas a canção («Oração») impressionou-me bastante por todo aquele arrebatamento religioso.
Quanto à Eurovisão, lembro-me perfeitamente da menina Gigliolla Cinquetti, em Copenhaga, a cantar que não tinha idade para amar...
Depois, lembro-me praticamente de tudo até aos anos 90, com algumas interrupções nos 80.
Apesar de tudo, há belas canções na Eurovisão, ao longo já de tantos anos. Quando tiver um tempinho faço um Top 10 ou 20 de canções desde 1964, ano da primeira participação portuguesa.
O último grande convívio de amigos em casa do meu melhor amigo foi precisamente uma noite de Eurovisão... Há já uns bons anos...
Eu fazia de tradutor de serviço e dava dicas sobre o que as canções diziam... Era bem divertido...
Obrigado por me ajudares a recordar!
Um abraço! :-)

Anónimo disse...

É! A música é muito bonita realmente!

RIC disse...

Olá Carioca! Obrigado!
«Good night, and good bye!»
Abração!

Anónimo disse...

Descobri há pouco tempo que os gays têm um fascínio especial pelo Festival da Canção e o da Eurovisão! Merecia um estudo psico-sexológico qualquer... abalança-te a isso, caro ric, e deixa-nos cá as tuas conclusões!
Claro que para quem tem mais de quarentas, esses espectáculos eram marcantes porque quase eram os únicos "espectáculos" a que tinhamos direito!
Mas já topei que gayjos novos também têm esse fascínio! Intriga-me isso, até porque náo me diz nada de especial... mas já agora gostava de ter alguma explicação para o fenómeno!
A Simone! Que voz!
Ahhhh... e apaixonei-me pelo Carlos Mendes e a Festa da Vida :
Que venham todos...
Que tragam todos os festejos
E ninguém se esqueça de beijos
Que tragam prendas de alegria
E a festa dure até ser dia;
Ah, como adorava essa canção!!!
Vou à emula da cooperativa sacá-la pra matar saudades...jágora vou ver se ainda a curto ou quem sabe, "matá-la" de vez!!! ehehehehe!

RIC disse...

Olá Aracnauta! Boa noite! E, Já agora, bom passeio pela «emula da cooperativa» (grande Max!)!
Quanto a essa dos «gayjos» serem vidrados na Eurovisão, é um facto, mas não é exclusivo dos portugueses. Isso posso garantir-te. Até no Reino Unido, onde a música abunda e nunca tiveram qualquer necessidade do festival para alegrar a malta em termos musicais, o festival é acontecimento de vulto para o meio gay. Não tenho qualquer explicação, a não ser a da minha própria situação. E essa só muito mais tarde se ligou ao fenómeno «psico-sexológico», como lhe chamas.
Como a edição de Helsínquia 2007 se aproxima, estou certo de encontrar algumas explicações. Eu não me aventuro por esses terrenos. Gosto nuito pouco de especulações, e quando elas são da treta, então está tudo estragado.
Mas prometo ficar atento. Até porque o assunto também me intriga, confesso.
Belos tempos, os do Carlos Mendes da «Festa da Vida» (mais do que do «Verão»)! Era um «ganda borracho» e por isso catrapiscou a Ana Maria!
Acho que vais continuar a curtir a canção. Estou a ouvi-la na minha cabeça!
Obrigado!
Um abraço! :-)

Anónimo disse...

Meu caro Ric
o teu texto era sobre a Simone e uma das suas mais belas canções:"Sol de Inverno", que representou Portugal no festival da Eurovisão.
É curioso que poucos ou nenhum comentário se alongam sobre essa Senhora da canção, do teatro, da televisão, enfim da vida portuguesa dos últimos 30/40 anos.
Personalidade muito vincada, mulher corajosa, venceu convenções, doenças e sempre esteve do "nosso lado".
Parabéns pela sua evocação.
Claro que a escolha do tema também me fez recordar a oportunidade do mesmo,com os condicionantes climatéricos.
E sobre a Eurovisão, santo Deus, quanto a dizer...
Excelente a idéia dum "top qualquer coisa" desde 1964, e espero que o meu intérprete favorito nessas lides, por lá apareça: o irlandês John Logan.
Os gays deliravam com estes festivais e os concursos caseiros eram muito habituais.
No que respeitaà participação nacional, a interpretação de Simone na "Desfolhada" foi brilhante, mas houve um senhor, que me deixou de rastos, pela voz...e não só; era lindo, o seu nome era Duarte Mendes, alguém se lembra?
Um bom domingo.

RIC disse...

Olá João! Eu vou já começar pelo fim, isto é, pelo melhor! Graças a esta minha memória de elefante - que às vezes me assusta, tais as coisas que consegue ir buscar... - estou a ver Duarte Mendes e a ouvi-lo a cantar «Madrugada», em Estocolmo, em 1975... Já no final da canção ouvia-se:

«Das cicatrizes do meu chão antigo
E da memória do meu sangue em fogo
Da escuridão a abrir em cor
De braço dado e a arma flor
Fazem-se as margens do meu povo.»

A canção era belíssima, a letra/poema «altamente» e o intérprete era uma bomba!...
Bem, mas regressemos ao sossego!
Agradeço-te o elogio da Simone! Ela merece-o sem dúvida, e muito mais! Obrigado!
Em miúdo tinha uma devoção tremenda por ela (cheguei a ter uma fotografia assinada por ela!) e ai de quem me chateasse quando a ouvia na rádio! Era fita certa!
Quanto ao «top qualquer coisa», seria impensável deixar o Johnny Logan de fora... Bem como uma série de canções em Francês, como a vencedora de 1972 pela voz da Vicky Leandros - «Après Toi»!
E tantas mais!...
Vamos ver o que consigo fazer!...
Um abraço, meu caro!
Excelente Domingo!
:-)

Anónimo disse...

Como mulher, admiro muito Simone de Oliveira.
A sua voz tem o travo real puro. Canta como ninguém (da sua geração) a paixão, a raiva e a revolta. Tem uma discografia invejável e mesmo quando um problema nas suas cordas vocais a impediu de cantar, não «baixou os braços». Penso que Simone é apreciada por todas as gerações...talvez por ter sido sempre igual a si mesma. (como diria alguém).

Quanto ao poema, serviu-me tal qual uma carapuça...

Obrigada p/ este momento!

Beijinho.

RIC disse...

Olá Carla! Começando pelo fim, pensamos sempre que somos os únicos a viver certas situações...
Ânimo, minha cara! :-)

Obrigado pelas tuas palavras de merecido louvor a Simone! É exactamente esse o seu grande traço de carácter: igual a si mesma!
Beijinho!