Lisboa foi definitivamente entregue de bandeja aos patos‑bravos por esta edilidade. Não há zona da cidade livre desta praga. Como a peste, tomaram de assalto mesmo aqueles bairros que sempre se caracterizaram pela pacatez de hábitos dos moradores. Chegam de madrugada, avançam com a maquinaria, demolem o que – em princípio – têm licença para demolir, sem que a vizinhança seja avisada de que passa a viver em zona de guerra. Para quê?
Salta‑se da cama, e a única solução imediata é fechar tudo, de preferência arranjando forma de calafetar – hermeticamente – portas e janelas, o que é impossível, já se vê. Ninguém está normalmente preparado para coexistir com arsenais bélicos em manobras secretas. Um pozinho infernal, demoníaco, entranha‑se por todo o lado e, quando menos se espera, o mobiliário, o chão, qualquer objecto exposto, mudou de cor. Ainda incrédulo, passa-se o dedo, horas depois de a batalha ter começado, e o rasto deixado horroriza o menos precavido. Lá fora, a guerra prossegue a bom ritmo.
E uma raiva calada vai crescendo, crescendo. Até que um dia chego a casa ao fim do dia, oito horas da noite, e tudo continua na mesma: a maquinaria em plena laboração. Às escuras! Escavadoras e martelos pneumáticos em acção como se fossem três da tarde. Telefono para a Polícia Municipal a participar a ocorrência. Resposta: "São capazes de ter licença de ruído. Já vamos ver."
… À medida que fui escrevendo estas linhas, uma fúria descomunal foi‑se apossando de mim. Lá fora mantém‑se o ruído infernal. Há semanas. Dou comigo a desejar que aconteçam insanidades, desumanidades, atrocidades, uma catástrofe: que o chão se abra e engula aquela merda toda; que Novembro está a chegar e que a 1 de Novembro de há muitos anos… Eu sei, estou a perder a tramontana, mas já não tenho como manter‑me mentalmente são…
Quanto à Câmara Municipal, temos exactamente aquilo que merecemos, em tudo condicente com o mandamento supremo dos nossos dias. Só o dinheiro importa! É ridículo, estúpido e despropositado pensar no bem‑estar dos munícipes, essas bestas que acabam sempre por votar nos mesmos verdugos, laranjas ou encarnados, tanto faz. Afinal, é o pó que não deixa ver as verdadeiras cores…
... E porque uns quantos acham que o dinheiro (a)paga tudo, o nosso bem-estar é adiado para as calendas gregas. E pobre daquele que ainda julga que protestar lhe serve de alguma coisa...
6 comentários:
Ric, apesar de residir em Sintra, passo a maior parte do tempo em Lisboa. Sei bem do que falas. Ando a levar com isso há meses...Costumo dizer, ironicamente, que vou ter saudades, pois já é um «tu cá, tu lá», muito duradouro.
Em relação ao comentário anterior, queria dizer no dito que, ultimamente tenho tido imensa dificuldade em afixar comentários nos blogs. No «meu», nem consigo editar...enfim!
Beijinhos :-)
P.s- Aqui perto desta pacata e silenciosa Vila, há umas casinhas à venda... (Aii! Não zanga..)
Bem, Carla, continuarei à espera do teu blog... A ver se me livro da fúria acumulada. Esta história já tem meses, e da obra nada se vê... Apenas uma barulheira diária e um buraco que não tarda será um abismo. Isto ao lado da minha casa, por que as ruas de Lisboa são o que sabemos...
Umas casinhas à venda na zona de Sintra... Julgas que esta noite me saiu o Euromilhões? Quem dera!
Não, não me zango. Contigo não! E mais furioso do que já estou é difícil, acredita!
Beijinhos para ti também! :-)
Que o fim-de-semana nos traga o que nos falta!
(Eu não tenciono por um pé na rua! Eremita a 200%! E que ninguém me chateie!)
Estou no limite, é verdade...
Aaaaaaaaa a little help here!?
What's happening?!
It's me, Joel, getting into a state, being as furious as hell, because there are construction - and demolition - works going on everywhere in Lisbon... One of them just beside my apartment building! From 8:00 am till 6:00 pm! This is so enfuriating!...
That's why I'm in such a bad mood.
(I wish you could understand it...)
A great weekend for you! :-)
Espero que as obras já tenham terminado, deve ser terrível. Eu não sei o que isso é, vivo num 13º terceiro andar, o mais que cá chega é o barulho da vizinha de baixo, que em tempos foi uma cantora de ópera e agora velha e sozinha (coitada) põe-se a cantar ópera de madrugada, de maneira que lá vou eu às 3 da manhã bater à porta da senhora a pedir que cale. De qualquer modo isto não tem a mais pequena comparação, contei mais por piada, até porque eu tenho um sono muito peaado.
Sim, André, obrigado! Pelo menos o fim-de-semana é sagrado... Mas as semanas têm sido insuportáveis. E pelo que me é dado observar, está para durar...
Mas o problema é mais vasto. Envolve toda a cidade e deixa qualquer um louco. Preferia uma vizinha cantora... :-) Sempre aprenderia mais qualquer coisa, nem que fosse a desoras...
Um abraço!
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