Se fosses viva, festejarias hoje os teus 76 anos.
Perdi‑te há vinte e oito. Há dias em que as recordações parecem ser já muito ténues, apenas vagas lembranças de infância, sobretudo. Outros há, porém, em que parece que a memória trabalhou toda a noite para, de manhã, me presentear com episódios sem importância que eu julgava há muito perdidos para sempre nos estranhos e esconsos recantos da mente, no reino da memória.
Custa‑me a crer que aquele número – vinte e oito – está correcto. E faço de novo as contas, envergonhado por já não saber de cor, com a minha destreza de sempre, os anos, os meses, os dias exactos. Mas é verdade, não me enganei. Passaram de facto já vinte e oito anos sobre aquele fatídico dia de Junho dos há muito idos anos setenta, um dia abafado e ventoso (lembro‑me ainda do muito pó que havia no ar), sob um céu de chumbo em que, adolescente ainda, te acompanhei pela última vez, ainda incrédulo de te saber ali, naquele lugar, o derradeiro.
Não era possível que tivesses de partir tão cedo…
A vida nunca é justa. Nem para os que partem, nem para os que ficam. Por quem eras, não poderei nunca esquecer‑te. Mais facilmente me esqueceria de mim próprio. Quanto mais tempo passa, maior é o lugar que ocupas no meu coração. Ao longo de todos estes anos – uma vida inteira – foi imensa a falta que me fizeste. É verdade, os vivos são sempre egoístas: lamentam a sua perda e lamentam‑se dela. Fiquei sem ti, e isso então foi o pior que me poderia ter acontecido. E foi difícil, muito difícil, aprender a viver sem ti. Nos tempos que se seguiram, cada manhã abria-se sobre o vazio inconsolável, chovesse ou fizesse sol, tivesse eu melhores ou piores planos para seguir em frente. Mas acredito que terás andado por perto, por muito perto, porque eu consegui seguir o caminho do qual faláramos algumas vezes. Eu, a não querer desiludir‑te, e tu, provavelmente, a ajudar‑me.
Se escrevo isto com lágrimas nos olhos é porque estás viva em mim. Se elas me correm pelas faces é bom sinal. Estarás por perto, como sempre tens estado.
Honro a tua memória, neste dia que há setenta e seis anos te viu nascer.
Hoje serias uma velhinha adorável… Feliz aniversário, mãezinha!
R.I.P.
terça-feira, 5 de setembro de 2006
À Minha Mãe - In Memoriam
Editado por RIC às 00:30
Separadores: In Memoriam
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Ric, eu acho que o mais importante são as boas lembranças que você guardou dela. Eu tenho certeza de que existiram muitos momentos especiais que você nunca vai esquecer.
Acho sim que você deve se lembrar dela com emoção, mas não com tristeza. Pense no que ela deixou de bom pra você, que eu tenho certeza que foi muita coisa, já que você se refere a ela de uma forma tão carinhosa!
Eu sei que onde ela estiver, ela continua amando você tanto quanto antes.
Ela não está mais fisicamente com você, mas ainda está na sua alma e você também está na dela, pode ter certeza.
Um grande abraço pra você.
Obrigado, Carioca. Gostei do teu comentário. É reconfortante ler as tuas palavras... :-)
Enviar um comentário