segunda-feira, 28 de agosto de 2006

Sob o signo da esperteza saloia: outro fado?

Estou eu e estaremos muitos decerto cansadíssimos da mediocridade pacóvia, provinciana, pirosa e bacoca que, de dia para dia, vai exponencialmente proliferando neste cantinho peninsular. Em quantos aspectos, áreas, sectores, domínios, «vertentes» não estamos já a anos‑luz dos «nuestros hermanos»? É demais!

Se isto é uma provocação?! É claro que é! Não tenham dúvidas! Porque polemizar também é fazer cultura. Repito: polemizar.

Ainda que de uma forma intensa, ácida, chamando as coisas pelos nomes, pegando o touro pelos cornos, adjectivando e adverbializando, polemizar não ultrapassa nunca os óbvios limites cordatos que civilização e cultura definem; não cai nunca no insulto gratuito, na boca rasca ou no palavreado acintoso.

Polemizar implica forçosamente argumentar. E argumentar implica a organização lógica do discurso. E porque é por escrito, não há lugar para subentendidos, alusões ou insinuações que a comunicação presencial «aguenta» por força das expressões faciais, dos olhares, da mímica, da gestualidade em geral. E ainda porque é por escrito, não se compadece com conversa de café sobre futebol ou gajas boas. (Não estou a ver gays com um discurso desarticulado sobre gajos bons, mas pode ser desconhecimento meu, admito. Em todos os grupos sociais portugueses há grandes diferenças no tocante a educação e cultura, sejam eles maioritários ou minoritários.)

Em resumo: há que saber manter o nível, mesmo no calor mais intenso da refrega mais impiedosa. E para saber fazê‑lo é necessário não perder nunca de vista um valor primordial que, nos dias de hoje e de igual modo por todo o mundo, anda cada vez mais arredado das relações humanas, com seriíssimos prejuízos para as vidas de todos nós – o respeito. Recuso‑me a aceitar quaisquer campanhas destinadas à promoção da tolerância com a mensagem subliminar de «olhar para o lado para não insultar ou mesmo para não chegar a vias de facto». Abomino a tolerância. Exijo para mim o respeito; aquele mesmo que devo e dou aos outros. Nada mais. Promove‑se hoje a «toleranciazinha» como nos idos de sessenta se apregoava a «caridadezinha». Atitude abjecta e abominável!

E com o que é que somos confrontados a todos os níveis, sempre que se trata de uma polémica, de uma celeuma? Meras picardias de baixo nível, com todo o tipo de insultos e bengaladas à mistura, porrada verbal (quando não chega ao contacto físico), banditismo/terrorismo argumentativo, discursos ornados dos useiros e vezeiros palavrões da nossa praça, sujeitos a lógicas fortuitas e aleatórias («da batata»), sem qualquer intenção de convencer o adversário ou sequer de derrotá‑lo inteligentemente. Não, o que «triunfa» é a esperteza saloia de má memória, que prevalece sobre tudo e todos, alastrando já a níveis e a áreas onde ainda há pouco era impensável – quanto mais admissível – que tais práticas se verificassem.

Por este andar, seremos cada vez mais terceiro mundo (em termos de princípios e valores), e o nosso «primeiro mundo» será cada vez mais de fachada, fruto das mirabolantes manipulações estatísticas. Ou seja, mera retórica para bruxelense ver.

E por cá continua tudo na mesma, com os chicos espertos a arrotarem de fartura. É uma casa portuguesa com certeza…

6 comentários:

Jack disse...

You know I come and check you out every day, even if I don't understand what you're writing!?

Can anybody else say that?!

But I still like you very much!?

RIC disse...

Around here, Joel, you enjoy absolute freedom! Pity you cannot understand this one today: it's really provocative, against the nutheads that have the power here...
Btw, did you get my email or it went lost somewhere? It's important to me and to you too, I think. Even if you don't respond straight away - that's quite alright -, please tell me whether you got it, okay?
I like you too, Joel, very much!
(How come you never told anything about being such a hunk, huh? Is that a secret or what?! Vraiment beau à en mourir, dirais-je...)
Feel free, my friend! :-)

André disse...

Eu prefiro, no entanto, a tolerância, o olhar sorrateiramente desviado, as palavras de apoio fingidas ainda que não sentidas, aos insultos, aos risinhos trocistas, às peixeiradas, à violência física...
Quanto a mim uma sociedade tolerante dará lugar a uma sociedade completamente livre de preconceitos. Mas primeiro há que se alcançar a tolerância...
A respeito de pacóvios, acho giro que eles usem o "vós" em vez de o "vocês", são os ecos de um Portugal que já não há...

RIC disse...

É claro que «tudo» é preferível aos maus tratos e á violência.
Tal como argumentas, a tolerância será um dos primeiros passos para a abolição dos preconceitos... O respeito implica um passo mais adiante no sentido da harmonização das relações sociais. É um estado de espírito, não uma atitude. Não é de todo utópico, mas está ainda distante, reconheço. Mas se não lutarmos pelo melhor... ficamos sempre na cepa torta.
Obrigado!

Jack disse...

Hi RIC!?

Yes I got your e-mail!?

I'm actually rereading it now!?

And I ain't that beau à en mourir.
I'm not ugly, but...

PS, I know about absolute freedom. Enjoy!?

RIC disse...

So the email arrived safely. That's good!
You handsome guys always enjoy being modest and teasing everyone else, don't you?... :-)