Estes anos da minha ausência da blogosfera tiveram várias/muitas consequências, umas naturalmente mais evidentes que outras.
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
À guisa de mero balanço…
Retomar este blogue implicava, para mim, percorrer em primeiro lugar o arquivo, pelo menos para recuperar uma ideia do que eu já aqui tratara. E garanto que muito já quase se perdera nos esconsos recantos da memória…
Nos dias de hoje que correm velozes, marcados pela absorvente vertigem dos opressivos ritmos quotidianos, fico atónito e perplexo com questões que, em anos ainda próximos, não se me poriam de todo. Aliás, jamais teria pensado nelas sequer.
A decadência portuguesa parece-me ser uma delas. Talvez a mais grave. Ia acrescentar «generalizada», mas isso mesmo seria em si já uma abusiva e grosseira generalização. O que é certo, a meu ver, é que Portugal é hoje um país decadente a muitos níveis, em muitos sectores e a respeito do muito que teremos todos deixado por fazer: «Falta cumprir-se Portugal», disse um Poeta Maior. Ainda e sempre. E não o esqueçamos.
Nós, portugueses, continuamos mergulhados na centenária miséria mental que o outro Poeta Maior lapidarmente definiu: «O favor com que mais se acende o engenho não o dá a pátria, não, porque está metida no gosto da cobiça e na rudeza de uma austera, apagada e vil tristeza.» Soam como ditas hoje, estas sábias palavras. Duras.
Portugal choradoQuando se tenta, de moto próprio, como eu, debater em fóruns abertos estas e outras questões similares, «aqui d’el rei que ele quer é exibir-se como intelectual e destruir a genuína cultura popular». Nada a fazer quanto a isto. Neste momento, querer ser cidadão interveniente é (quase) impossível. Eu já não tenho paciência, confesso, para debater seja o que for nas presentes condições. E, lamentavelmente, são poucos, muito poucos, os que têm uma imagem global fidedigna do que é realmente o nosso povo hoje. Ou então preferem a graçola aparvalhada do «engana-me que eu gosto», por onde voltamos à estaca zero.
As nossas elites - as verdadeiras que deveriam estar activas - teimam em permanecer quedas, imóveis, silentes - e eu acrescentaria - apostadas em manter-se tão afastadas quanto possível de tudo o que as solicite para o bem comum. São egoístas, mesquinhas e olimpicamente desprezam o seu país. Não conheço outro país dito desenvolvido onde tal se verifique. Mas é também muito discutível se acaso Portugal é (ou alguma vez foi) um país desenvolvido.
Eu, pela minha parte, começo a desmobilizar. Vejo que nada ganho, bem pelo contrário, ao querer ajudar seja quem for a tornar-se mais ciente da realidade que o/a rodeia. Tentarei seguir, ainda assim, o meu caminho ou, pelo menos, aquele que continua a parecer-me ser o meu caminho.
Se acaso a blogosfera deixar de ser o lugar ideal para prosseguir, então outros espaços decerto se abrirão para que o silêncio dos desistentes não seja a regra, mas sim e apenas a excepção.
RIC
Editado por RIC às 05:30
Separadores: Crítica Cultural
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3 comentários:
Pelo que pude entender, você se refere (pelo menos em parte) à crise na Europa, não é isso?
Bom, aqui no Brasil, temos visto que a crise já começou a produzir resultados sérios na Península Ibérica. Pelo menos as informações que nos chegam é que a Espanha já se encontra com um problema de desemprego maior do que nunca teve. E consequentemente, Portugal também segue pelo mesmo caminho e deve passar pelas consequências disso... Pelo menos, é o que é divulgado aqui pela nossa imprensa.
Mas, vendo os trechos poéticos que você mencionou nesse post e as menções que você fez ao passado de Portugal, pude perceber uma curiosa coincidência: há poucos minutos, passei por outro blog no qual mencionei nos comentários um poema do falecido poeta brasileiro Rubem Braga, chamado ´São Cosme e São Damião`, escrito em 1957, no qual ele descreve algumas situações realmente difíceis nas quais a sociedade brasileira se encontrava na época. E observando a sociedade brasileira atual, podemos ver que ela ainda se encontra em grande parte nessas mesmas situações.
Se você quiser dar uma olhada, vou deixar aqui o endereço de um post que fiz no meu blog sobre esse poema:
http://ultracecgb.blogspot.com/2010/09/de-1957-2010-poucas-mudancas-na.html
Grande abraço!
Olá meu caro Leo!
Em primeiro lugar, as minhas desculpas pela minha longa ausência! Tenho andado muito atarefado por causa da minha recuperação em termos de saúde, é verdade, mas também me tenho empatado no Facebook talvez mais do que seria razoável…
É bem verdade tudo o que referes relativamente à crise europeia, infelizmente… A Europa meridional, porque mais débil, está toda ela a braços com situações extremamente graves e gravosas para os seus cidadãos! É o caso da Grécia, sim, mas não só. A Espanha está como tu sabes, a Itália também não está bem e Portugal… É isto… À pobreza económica junta-se a miséria mental… Nunca tive qualquer problema por ser português, mas um dia destes é bem provável que possa começar a sentir vergonha. Não tarda a Revolução dos Cravos faz 40 anos, e as marcas deixadas pela ditadura na mente deste povo fazem-se sentir ainda hoje de forma vincada! Parece até que a democracia nada fez ou não teve qualquer influência no necessário e urgente processo de mudança das mentalidades. Pois é, meu caro Leo, a situação na Península Ibérica não é nada famosa, bem pelo contrário…
Li a crónica de Rubem Braga (obrigado!), e aquelas palavras conseguiram comover-me… Muito belas! Já agora, os «Poetas Maiores» que cito no meu texto são Fernando Pessoa e Luís de Camões.
Muito obrigado pela tua visita!
Um grande abraço transatlântico para ti e para a Cidade Maravilhosa!
:-)
Gostei do que vi. Voltarei quando estiver aliviada da correção dos testes. Se não nos virmos por aqui, temos o outro espaço.
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