Chaves na mão, melena desgrenhada,
Batendo o pé no chão, a mãe ordena
Que o furtado colchão fofo e de pena,
A filha o ponha ali, ou a criada.
A filha, moça esbelta e aperaltada,
Lhe diz co'a doce voz que o ar serena:
"Sumiu-se-lhe um colchão?! É forte pena;
Olhe não fique a casa arruinada.
"Tu respondes-me assim? Tu zombas disto?
Já cuidas que por ter pai embarcado,
Já a mãe não tem mãos?" E, dizendo isto,
Arremete-lhe à cara e ao penteado;
Eis senão quando (caso nunca visto!)
Sai-lhe o colchão de dentro do toucado.
Nicolau Tolentino de Almeida
Eis como a segunda metade do nosso século XVIII foi fértil em atenções, carinhos, ternuras e outras delícias que fizeram os encantos dos coevos... Nem as modas importadas de Paris passavam no crivo dos poetas satíricos que esquadrinhavam o quotidiano em busca de alvos a jeito... E, pelos vistos, não tinham grandes dificuldades em fazê-lo...
Quanto a nós, hoje - salvo, desde já, honrosas e pontuais excepções! - estamos longe dessa voragem que tudo varria e nada (ou quase...) poupava... Os actuais «engraçados» têm-se porventura na conta de serem «espectaculares»... Só que... A maioria tem muito pouca graça ou mesmo nenhuma. Mas os «marketings» lá vão dando uma mãozinha e... em terra de cegos, quem tem olho é rei. Por exemplo, os anúncios do «MEO» deixam-me varado de estupor: onde é que estará a graça?!
A todos, um bom resto de fim-de-semana e uma excelente semana!
RIC