Estátua
Cansei-me de tentar o teu segredo:
No teu olhar sem cor, – frio escalpelo,
O meu olhar quebrei, a debatê-lo,
Como a onda na crista dum rochedo.
Segredo dessa alma e meu degredo
E minha obsessão! Para bebê-lo
Fui teu lábio oscular, num pesadelo,
Por noites de pavor, cheio de medo.
E o meu ósculo ardente, alucinado,
Esfriou sobre o mármore correcto
Desse entreaberto lábio gelado…
Desse lábio de mármore, discreto,
Severo como um túmulo fechado,
Sereno como um pélago quieto.
Clepsidra
Camilo Pessanha
Song of the Bronze Statue
Gone that emperor of Maoling,
Rider through the autumn wind,
Whose horse neighs at night
And has passed without trace by dawn.
The fragrance of autumn lingers still
On those cassia trees by painted galleries,
But on every palace hall the green moss grows.
As Wei's envoy sets out to drive a thousand li
The keen wind at the East Gate stings the statue's eyes…
From the ruined palace he brings nothing forth
But the moonshaped disk of Han,
True to his lord, he sheds leaden tears,
And withered orchids by the Xianyang Road
See the traveller on his way.
Ah, if Heaven had a feeling heart, it, too, must grow old!
He bears the disk off alone
By the light of the desolate moon,
The town far behind him, muted its lapping waves.
Li He
Chinese classical poet
9th century A.D.
RIC
sábado, 13 de outubro de 2007
De pulchritudine…
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12 comentários:
Porque nos embala a poesia? Será pelo tanto que nos toca, ou pelo outro tanto que nos nega aos olhos mas sussurra ao espírito?
Estátuas... olhares... luares... e a foto que, uma vez mais, prende a visão e o raciocínio, estimula a imaginação, o querer...
A beleza assim captada, quer escrita, quer fotografada, nunca será efémera.
jocas repenicadas e um excelente Domingo, Ric
;)
Olá minha querida Graça!
Como calculas, não tenho resposta. Sempre a «encarei» como um discurso livre das regras que são necessariamente observadas pelos discursos «reais»... É a imaginação que busca sentidos, e não apenas o intelecto que descodifica significados.
São muito poucas as formas de a beleza não ser efémera...
Para ti também, um óptimo domingo!
Um beijinho! :-)
Como você disse num outro post, a poesia nos blogs tá fazendo milagres no resgate ao público, né? É sempre bom!
Um belo poema de um grande escritor também um pouco esquecido. A imagem prefiro não comentar, Rsrsr!
Um abraço
Gosto, do poema e da fotografia. Abraços.
Olá caro Leo!
Talvez seja até um bom indício de que as pessoas em geral estão fartas de «conversas da treta» (papo furado, como vocês dizem)...
Acresce que a Literatura é bem mais vasta do que apenas a ocidental. Creio que foi a primeira vez que aqui trouxe um poeta chinês. Sabe sempre bem!
Um excelente domingo para ti! :-)
Olá caro Paulo!
Rsrsrs! Ai preferes não comentar a imagem?... Mas de vê-la gostaste, não foi?... Rsrsrs!
Creio que o nosso grande simbolista só podia figurar ao lado de um grande poeta clássico chinês! Convirá também não esquecer que «Clepsidra» viu a luz do dia graças, em grande parte, a esforços de Fernando Pessoa...
O esquecimento tem, para mim, razões óbvias... Mas prefiro não ir por aí. Ainda estragaria a minha disposição neste domingo...
Um abraço para ti também, meu caro!
:-)
Olá caro Dário!
Sê bem-vindo à minha Babilónia!
Ainda bem que gostaste! Fico muito contente!
Um óptimo domingo!
Um abraço para ti também! :-)
"É a imaginação que busca sentidos (...)"
Excelente olhar sobre o que é a poesia - e uma deliciosa subversão metafísica.
:))
PS: agora foi a minha vez de recomentar porque não resisti a esta frase.
;)
jocas rep
... Já percebeste que aqui estás à vontade. Ainda bem!
Por vezes, uma ideia formulada em termos de senso comum acaba por ter mais eco do que se tivesse sido codificada de acordo com o saber específico a que pertence... Acho eu...
Beijinho! :-)
Agora permite-me ser eu a agradecer: Obrigada pelo poema!
Boa semana!
Beijinhos :-)
Olá querida Susana!
Seja! Ainda bem que te agradou!
O prazer é sempre meu! Rsrs!
Uma boa semana para ti também!
Beijinhos! :-)
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