terça-feira, 9 de outubro de 2007

Da polémica filosófica…







Les grandes querelles entre philosophes
Des bienfaits de la controverse

Par Jean-Louis Hue

L'art de la polémique remonte à la plus haute Antiquité. «Polemos (le conflit) est le père de toutes choses et le roi de toutes choses», affirmait Héraclite. Toute l'histoire de la philosophie grecque peut se résumer à une succession de disputes. Oscillant entre débats théoriques et attaques personnelles, entre réfutation et invective, cette pratique de la controverse, longuement rodée dans les dialogues platoniciens, n'a cessé d'échauffer les philosophes.
Au milieu du XIXe siècle, Schopenhauer en reformulait les règles et les ruses dans un court traité, joliment intitulé «L'Art d'avoir toujours raison». Énumérant trente-huit stratagèmes, le philosophe enseignait comment avoir raison à tout prix en sapant les arguments de l'adversaire et en se montrant de plus mauvaise foi que lui. Après avoir suggéré maintes astuces, feintes et pro­vocations, Schopenhauer conseillait comme ultime recours l'attaque ad personam, en se montrant «désobligeant, hargneux, offensant, grossier».
Ce dossier du Magazine littéraire se fait l'écho des invectives, insultes, railleries et injures diverses que se sont lancées les philosophes durant deux millénaires.
On nous reprochera peut-être de rapporter des chamailleries parfois dignes d'une cour de récréation. «Les polé­mistes me dégoûtent», disait Bernanos, se repentant des éreintements dont il accabla tant de ses contemporains. La polémique, quand elle relève de la manie, est vaine, voire dégradante. Mais elle sait être salutaire quand elle surgit avec à-propos pour aviver le débat. Elle s'apparente alors à une joute où il s'agit moins de terrasser l'adversaire que d'enrichir une réflexion commune.
Ce dossier se veut une illustration du bon usage de la dialectique. Il retrace par le menu les duels les plus fameux, et les plus féconds, de l'histoire de la philosophie. «La controverse est souvent bénéfique à l'un comme à l'autre, du fait qu'ils frottent leurs têtes entre elles, et sert à chacun d'eux à rectifier ses propres pensées, et aussi à concevoir des vues nouvelles», conclut dans son traité Schopenhauer qui, décidément, avait l'art d'avoir toujours raison.



Arthur Schopenhauer

As grandes querelas entre filósofos
Benefícios da controvérsia

A arte da polémica remonta à mais Alta Antiguidade. «Πόλεμος – pólemos – (choque, conflito, tumulto, combate, batalha, guerra) é o pai de todas as coisas e o rei de todas as coisas», afirmava Heraclito. Toda a história da filosofia grega pode resumir-se a uma sucessão de disputas. Oscilando entre debates teóricos e ataques pessoais, entre refutação e invectiva, esta prática da controvérsia, longamente rodada nos diálogos platónicos, não cessou de aquecer os filósofos.
Em meados do século XIX, Schopenhauer (Danzig/Gdansk, 1788 - Frankfurt am Main, 1860) reformulava as regras e os artifícios num curto tratado, belamente intitulado «A Arte de Ter Sempre Razão» (Die Kunst, Recht zu behalten). Enumerando trinta e oito estratagemas, o filósofo ensinava como ter razão a todo o custo, minando os argumentos do adversário e mostrando-se de ainda mais má-fé do que ele. Após sugerir muitas astúcias, fingimentos e provocações, Schopenhauer aconselhava como recurso final o ataque ad personam, mostrando-se «desagradável, intratável, ofensivo, grosseiro».
Este dossier do «Magazine Littéraire» faz eco das invectivas, insultos, zombarias e ofensas diversas que os filósofos se fizeram durante dois milénios.
Censurar-nos-ão talvez por apresentar discórdias dignas por vezes de um pátio de recreio. «Os polemistas desagradam-me», dizia Bernanos, arrependendo-se dos assédios a tantos dos seus contemporâneos. A controvérsia, quando releva da mania, é vã, até mesmo degradante. Mas pode ser salutar quando surge com o propósito de avivar o debate. Assemelha-se então à uma justa em que se trata menos de arrasar o adversário do que de enriquecer uma reflexão comum.
Este dossier pretende ser uma ilustração do bom uso da dialéctica. Reconstitui ao pormenor os duelos mais famosos e mais férteis da história da filosofia. «A controvérsia é frequentemente benéfica tanto para um como para outro, pelo facto de esfregarem as cabeças entre si, e serve para que cada um rectifique os seus próprios pensamentos, e também conceba novas visões», conclui no seu tratado Schopenhauer que, decididamente, tinha a arte de ter sempre razão.

Tradução de RIC

Pelos vistos, quando se trata de uma gorda e sumarenta polémica, nem mesmo os sábios e sensatos (!) filósofos se inibem de arriar a giga e armar um espaventoso Cais do Sodré!
Mas ainda vai havendo quem confunda saber com civilidade e boas maneiras…
E os políticos de hoje estão, de certezinha, bem mais interessados em ter sempre razão do que em conhecer a filosofia ou a ciência política. Chamam a essa sua atitude «serem pragmáticos»… São, não são?
O referido Schopenhauer, por exemplo, perorava amiudadamente sobre o pessimismo e o suicídio… após um lauto repasto – à conta do anfitrião, bem entendido!

Schopenhauer, Arthur - Die Welt als Wille und Vorstellung, 1859, 3.ª edição

(O Mundo como Vontade e Representação).
Esta é a sua obra de referência.

6 comentários:

Catatau disse...

Ora aqui está um homem que se mantem actual (tirando algumas "coisinhas", claro). ;)

RIC disse...

Olá João!
Rsrsrsrs!!!
Mantém-se, não mantém?... Acho que vou tomar umas pastilhas contra o enjoo e atirar-me a «O Mundo...». Não sei se conseguirei ir longe... Mais facilmente leria a «Crítica da Razão Pura» no original, acho eu... Rsrsrs!
Não será em vão este destaque no editorial do «Magazine Littéraire»... E apenas algumas «coisinhas» em quase 200 anos é obra!
Um abraço! :-)

Special K disse...

De certeza que os nossos políticos têm estes estratagemas todos bem estudadinhos. então o nosso primeiro deve ter o diploma completo, se calhar é o único verdadeiro que tem, Rsrsr!!
Um abraço.

RIC disse...

Olá meu caro Paulo!
Rsrsrsrs!!!
Muito obrigado pelas fartas gargalhadas! (Lá vou eu ficar sem blogue por permitir opiniões atentatórias...) Rsrsrs!
Aí é que está! Lá as astúcias, os fingimentos e as provocações estudam eles muito bem estudados! Até terão doutoramentos e PhD no assunto! Mas conseguirem ser verosímeis e sensatos no que dizem... 'Tá bem, 'tá!
Deve ser por causa da globalização, que exige um «pragmatismo expedito»...
(E eu nasci ontem à tarde!...) Rs!
Um abraço para ti! :-)

japanesewhispers disse...

I just realised that Lisbon's coat of arms and Inverclyde's coat of arms are quite similar. I assume this is off topic (not being able to read Portuguese or speak it for that matter) but I just noticed it and didn't know where else to put this

RIC disse...

Hello Japanese Whispers!
Welcome! You can always comment whatever pleases you, wherever you feel like it! Provided you do on this page that I check regularly, as I say on the sidebar. Besides that, there are no other rules...
As to Lisbon's coat of arms, it depicts part of a Medieval legend about the life of Saint Vincent, the protector of the city.
I shall have to look into Inverclyde's coat of arms and find out why they're similar...
Harigato!
Best wishes! :-)