sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Luís de Camões & Amália Rodrigues


Com que voz chorarei meu triste fado,
Que em tão dura prisão me sepultou,
Que mor não seja a dor que me deixou
O tempo, de meu bem desenganado?

Mas chorar não se estima neste estado,
Onde suspirar nunca aproveitou;
Triste quero viver, pois se mudou
Em tristeza a alegria do passado.

Assim a vida passo descontente,
Ao som nesta prisão do grilhão duro
Que lastima o pé que o sofre e sente!

De tanto mal a causa é amor puro,
Devido a quem de mim tenho ausente
Por quem a vida, e bens dela, aventuro.


Abusando de um modismo linguístico, eis uma "dupla vencedora" da cultura portuguesa.
Provavelmente, uma das muito poucas que podemos enumerar.
Sobre ambos já muito/tudo foi dito/escrito. E mais alguma coisa…
Sou um leitor compulsivo de Camões e um ouvinte devoto de Amália.
Este édito é um dever intelectual e moral.
Como homenagem, vale o que vale.
Mas eu fico bem melhor com a minha consciência.

RIC

18 comentários:

Anónimo disse...

Um canta a epopeia de um povo, a outra canta um povo sem direito a epopeia. :)

Anónimo disse...

Ia escrever outra coisa mas gostei do que CATATAU disse, porreiro!
Abraços

Tongzhi disse...

Estamos perante um Senhor e uma Senhora. Poderiam nem nunca se terem cruzado. Felizmente que a Senhora decidiu cantar o Senhor. E o resultado foi MARAVILHOSO!

lampejo disse...

Homenagear aquilo ou aqueles que mais gostamos, demonstra um certo acto de "amor", "paixão"...
Ambos serão sempre "eles", quer se goste ou não.
Digamos que foi "com Camões", que me nasceu o gosto pelas "palavras doces e tristes".
Ao fado estará sempre associado o nome dessa belíssima interprete.

Anónimo disse...

Ric
por alguma razão, na altura dos "10 portugueses" eu referi que Amália deveria constar lá.
Não desmereceria ver nesse mesmo painel de eleitos, dois vultos naturalmente tão distantes no tempo e no merecimento.
Amália, também ela poetiza, não devemos esquecê-lo, soube dar aos imortais versos de Camões, o conhecimento do povo.
Abraço.

Minge disse...

Shameless self promotion alert!

Please take part in Window On Your World.

Anónimo disse...

Ao Luis Vaz e à Amália que eram uns gandas pândegos!



camões gentil que te partiste
amália gaivota que já foste
eu para aqui ledo e triste
marinheiro de água doce

não tenho a pena do camões
nem da amália a voz e a sina
mas canto a arma de varões
assinalados a cada esquina

RIC disse...

Olá João M.! Uma curiosa síntese e um paralelo eloquente! Porém, eu diria que ela canta um povo sem epopeia. O direito tem de ser conquistado...
Abraço! :-)

RIC disse...

Olá Bernardo! Bem, sendo assim... Porreiro, digo eu também...
Abraço! :-)

RIC disse...

Olá Tongzhi! Exactamente! E nesse dia surgiu uma outra Amália e Camões tornou-se ainda mais português!
Abraço! :-)

RIC disse...

Olá Lampejo! Falar de ambos, escrever sobre ambos é já uma pequena homenagem, é declarar que se gosta de ambos. Há, porém, um Camões «alegre» e um fado «festivo» que também merecem ser descobertos...
Abraço! :-)

RIC disse...

Olá João C.! Inteiramente de acordo! Qualquer «fadista» poderá hoje cantar este soneto de Camões, ainda que nunca tenha «estudado» a obra do nosso Homero. Isto é obra de Amália!
Um abraço! :-)

RIC disse...

Hello Minge! Some new strategy? Very well, then! I'll see what I can do! Great to see you're back in business!...
Best wishes! :-)

RIC disse...

Olá Aracnauta! Como não podia deixar de ser, num grupo de portugueses há sempre pelo menos um que domina com facilidade a redondilha maior em quadras de sabor ora popular, ora nem tanto...
Parabéns, meu caro, e muito obrigado pelo teu gesto generoso de aqui deixares para nosso prazer estas duas belas quadras! Já para não falar na belíssima homenagem que fazes a ambos, ao reunir Camões e Amália, «gandas pândegos»!
Gostei muitíssimo!
Um forte abraço! :-)

Leo Carioca disse...

Oi, Ric.
Eu diria que a obra de Camões é um tesouro não só pra Portugal, mas também pra todos os países de Língua Portuguesa!
Grande abraço.

RIC disse...

Olá Carioca! E dizes muito bem! Foi outro grande poeta «nosso» que disse que a minha Pátria é a Língua Portuguesa (Pessoa)...
No mundo de hoje, é bem mais pelas línguas e culturas que nos juntamos. Os Estados e as nações são cada vez mais símbolos de uma realidade cada vez menos actual!
Obrigado!
Abraço! :-)

Anónimo disse...

Como bem dizes, sobre ambos já tudo foi dito e escrito. Sobre o édito em si, penso já ter sido tudo comentado (até belas quadras há).Resta-me acrescentar que é de louvar éditos assim.
Bem hajas!

Beijinhos :-)

RIC disse...

Olá querida Carla! Curiosamente, senti-me ainda mais «apoiado» (ou acompanhado) quando a Paula Moura Pinheiro acabou o último «Câmara Clara» com Amália...
Se é que tal fosse necessário, não era, mas sabe sempre bem!
Obrigado!
Beijinhos! :-)