segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

I. «Num meio-dia de fim de primavera»…


[…]

Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega‑me tu ao colo
E leva‑me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta‑me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.

Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?

Duas últimas estrofes do poema VIII de
«O Guardador de Rebanhos»
Alberto Caeiro

Muito obrigado ao Mr. Teddy Bear por me ter relembrado do Mestre!...

RIC

14 comentários:

Anónimo disse...

Ric
É por "estas e por outras" que Pessoa é Pessoa!
É um comentário tolo, não é?
Boa semana.

kevin disse...

The written Portuguese language looks so beautiful.

I hope you are having a good start to the week.

Kev in NZ

Anónimo disse...

É tão linda a limpidez!... :)

Tongzhi disse...

Palavras para quê?
É Fernando, é Pessoa!

RIC disse...

Olá João! É tautológico, mas não é tolo, não!... Curiosamente, este VIII poema é capaz de ser um dos mais doutrinários de Mestre Caeiro... Mas mesmo assim...
(Por vezes, acho que certos poemas ou alguns versos foram escritos para mim/acerca de mim... Sou ou não sou idiota?...)
Uma boa semana para ti também! :-)

RIC disse...

Hello dear Kevin! Thank you for your kind remark! I guess I like to watch it too, if I don't think about the meanings...
I wish you a great week as well, dear friend! :-)

RIC disse...

Olá Catatau! A limpidez que vem do ver, a grande ciência do Mestre Caeiro!... Para ser simples como a Natureza...
:-)

RIC disse...

Olá Tongzhi! Ainda bem que paraste o slogan a tempo! Uf, quando comecei a ler, ainda me passou pela cabeça, num milionésimo de segundo, que a seguir ia ler «é um artista português!»... Se tivesses escrito isso, estavas agora feito comigo! (Rsrsrs!)
Mas como emendaste a mão... Mas não deixa de ser um slogan. Não quererás impingi-lo à estuporada da Clara F.A.? Talvez Pessoa ainda tenha uma chance... Do que duvido...
:-)

MrTBear disse...

Não, não relembrei o Mestre. Gosto mais do camponês.
É que eu gosto de me ver como camponês, não campónio, embora o seja também um pouco...
E Alberto Caeiro é o maior de todos os camponeses. O Mestre!
Ai, isto de não ter televisão, faz-nos cada uma... LOL, até passamos a tirar o pó do livros..
Termino com a minha citação favorita, nada poética, mas verdadeira:
Dá-me!!!!!!!!!!1 LOL
BOA SEMANA

RIC disse...

Olá Teddy Bear! O Mestre era um camponês perdido na cidade... Durante anos, Caeiro foi o meu heterónimo preferido. Fez-me ver tudo aquilo que eu como urbícola não «vira» ainda...
Não creio que haja razões para arrependimentos quanto à televisão. Seria o primeiro mono de que me desfaria se acaso tivesse necessidade...
Quanto à tua citação favorita, creio tê-la compreendido (?), apesar de altamente codificada... (rsrsrs!) Quando puderes dar-me a chave, eu agradeço!... :-)
Uma boa semana para ti também!

Tongzhi disse...

Por acaso nem me lembrei desse anúncio, que detesto!

Lembrei-me de outra coisa:

...
Aquilo é de artista
E aquilo é Malhoa.

Quanto à Clara F Alves, nem KUmento... Tenho logo de seguida de "tomar os pingos" para a urticária!!!

RIC disse...

Mais uma «afinidade electiva» nossa, Tongzhi! A mim, torturam-me terríveis ataques de brotoeja, que só passa quando me esqueço que ela - a Clara - existe! E dizer que ela já foi, de algum modo, minha «colega»...
Quanto a ser Malhoa, não posso concordar mais: Caeiro é também um pintor das palavras...
:-)

Anónimo disse...

claro que é doutrinário e é de mestre, caro ric!
Doutrina primordial e complexa, mas de simplicidade desarmante de pastor de sonhos!
Maestrança que vem dos tempos do Velho Zi, primo afastado do seu, ric, sínico (cuidado, sínico com ésse... :P) amigo imperador!
E que desagua no krishtico duplo: de infante inocente e curioso, ruidoso e irritante e o alter ego que vai crescendo sabedor!

Filhinho: Hórus krishtico ao colo de Isis!
Morada eterna celestial!
O caeiro é simples como é simples a natureza no seu mistério...
Topa, pá?

RIC disse...

Topo, Aracnauta pá!
As tuas linhas de leitura, que em parte me escapam, são para mim mais uma prova (como se precisasse de mais alguma...) da genialidade de Pessoa/Caeiro.
Pois é: filosofia, sabedoria e poesia chinesas... Há cartas bem interessantes na correspondência entre pessoa e Pessanha.
Todos os poemas de «O Guardador de Rebanhos» podem ser lidos a níveis sucessivamente mais complexos. E o meu maior prazer está na passagem de um a outro, até me parecer que não há mais nenhum... Engano! Há sempre mais qualquer «coisa»...
Muito obrigado, meu caro!
(Hás-de dizer-me algo sobre uma aranha que é um nauta...)