"Ein jeder, weil er spricht, glaubt, auch über die Sprache sprechen zu können."
Qualquer um, porque fala, julga que também sabe falar sobre a língua.
Qualquer um, porque fala, julga que também sabe falar sobre a língua.
Johann Wolfgang von Goethe
«Ao entrar no avião sou mais uma vez surpreendido pela música de bordo. Ouve‑se a Valsa n.º 2 da Suite de Jazz de Dmítri Dmítrievitch Chostakóvitch, que me traz sempre à mente, só Deus saberá porquê, um carrossel de feira já velhinho, a girar a uma cadência que não pára de soar, roufenha e desafinada. Um número circense a bordo até que teria o seu encanto…
Pego num exemplar do único diário português disponível. Há quase uma quinzena que não vejo um jornal português, e isso predispõe‑me à leitura, mais até do que as notícias de casa. Nem mesmo o facto de ser um tablóide que não costumo ler diminui a minha curiosidade, ansiosa por leitura fresca. Mas depois de vistas as gordas na diagonal, como faço por hábito num primeiro ataque à mole de notícias, o interesse esfuma‑se, e um desencanto antigo, quase esquecido, volta revigorado de um recanto ignorado do espírito.
A razão está menos no conteúdo das más notícias que nos desconchavos de um vocabulário catacrético muito em voga e de um discurso pernóstico repetido por todos em toda a parte, mais‑que‑vazio, com traduções marteladas pelo meio e um domínio absoluto do portunglês. Um dia destes, ainda algum criativo, vanguardista e inovador, dirá que os resultados de um adversário são piolhosos, apenas porque a idiomática anglo‑saxónica considera que mau e piolhoso se equivalem. Pois é. Cada um vê o mundo como pode…
Então é assim. Tudo está em cima da mesa, nomeadamente pacotes disto e daquilo, e tudo é para implementar, se devidamente agilizado. E tudo tem sempre grande impacte sobre tudo.
O sussurro mais anódino é evento ou problemática que marca a agenda e tem de ser fenómeno transversal a qualquer coisa. Por tudo e por nada há que criar uma cultura disto ou daquilo, segundo este ou aquele vector, porque tudo é incontornável nas suas vertentes que são ora estruturantes ora fracturantes, mas que, uma vez elencadas, são sempre espectaculares.
Tudo é objecto de paixão e congrega sinergias que, a propósito e a despropósito, geram muita adrenalina, o que é uma janela de oportunidades e pode ser uma mais‑valia muito gratificante para todo aquele que é garante de excelência e cujo perfil denota uma postura cinco estrelas…
"Que ferro!" diria decerto Eça.
O meu enfado cresce além do suportável, atiro nauseado o jornal para o assento do lado e reservo o pouco interesse que ainda me resta para quando chegar a Lisboa.
Será que vou encontrar alguma coisa melhor?»
(Ficção inédita)
RIC
(Ficção inédita)
RIC
4 comentários:
Sabe, há pouco tempo foram lançados dois jornais aqui no Rio que visam a um público mais simples. O problema é que, além de, do jornal, tirarem-se poucas coisas que realmente podem ser consideradas "utéis", o descaso com a norma culta da língua (deveríamos esperar seu uso em um jornal, não?) é gritante...
Beijão!!!
=)
PS: Você não está em Portugal??? =D
Olá Lê! Como nós dizemos por aqui, pasquins é o que mais há no mercado: tablóides sensacionalistas sempre a farejarem o último escândalo que, quando não encontram, inventam...
Quanto a ambas as normas cultas - a daqui e a daí -, estou em crer que só estaremos tranquilos na presença de um escol muito selecto de escritores. E neste aspecto podem chamar-me elitista à vontade, porque o sou! Só me interessam de facto os melhores! Já não tenho idade para perder tempo a ler o que não presta - antigo ou moderno...
Quanto a estar em Portugal, é óbvio que estou, «né»?... Mas também estou na Europa e faço parte de uma comunidade linguística com mais de 200 milhões de falantes. Seriam razões de sobra para evitar tanto desvario...
Beijão! :-)
Ouve‑se a Valsa n.º 2 da Suite de Jazz de Dmítri Dmítrievitch Chostakóvitch. Okay, what about the Jazz suite????
Nice new profile pic.
Well, dear Will, if you definitely want to know about that, I guess you - the expert, the brainiac - will have to find out a really top quality translation software, because this is a literary text. I bet Altavista or any other would turn it into a cocktail - quite shaken!
I only refer to waltz no. 2...
As to the icon, I was getting a bit tired of looking like David, so I decided to change to Antinuous... The power of suggestion is much stronger indeed...
Thanks a lot!
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