sábado, 21 de outubro de 2006

«Eu podia chamar-te Pátria minha...»


… Pois podia, mas não chamo. Porque esta belíssima paisagem é propriedade da Porta da Felicidade, a magnificente Istambul. Um bloguista amigo, o Knottyboy, encontra‑se por lá, neste exacto momento. O sortudo… Quem quiser fazer-lhe companhia na maravilhosa viagem só tem de aceder ao blog que ele criou para o efeito: Turkey Trot. É só clicar no nome. E, já agora, deixem-lhe uma palavrinha de incentivo. Eu sei que ele vai adorar…
Em homenagem a tão bom e divertido amigo, aqui publico algumas linhas de algo que está já há algum tempo à espera de ver a luz do dia. Quem sabe se pelo fim do ano…

[…] "Entretanto, ia pensando nas relações que os habitantes das cidades estabelecem com os rios que as banham. Lisboa parece ser um caso especial, talvez só comparável à Istambul do Bósforo e do mar de Mármara. E não será só a localização geográfica que as aproxima, uma protegida por um vasto estuário e a outra encaixada no recorte litoral do Corno de Ouro.
Se Lisboa se pode gabar de ter sido fundada por Ulisses e de ter recebido o privilégio de «Municipium civium Romanorum Olisipo, Felicitas Julia cognominatum» por Júlio César, também Istambul, ou antes Bizâncio, conta com nobres lendas fundadoras. Uma delas reza que Io, amante de Zeus, se transformou em vaca para assim tentar escapar à ira da vingativa esposa Hera, que a fez perseguir por um tavão. Desvairada, Io atravessou o mar a nado, criando o «Βοσπορος» – o Bósforo ou o «vau da vaca» –, antes de prosseguir a fuga para o Egipto, onde foi venerada como Ísis. Nas margens do Corno de Ouro terá dado à luz uma filha, Queroessa, a «sorte bem‑vinda», que foi criada pela ninfa Semestra. Mais tarde, Queroessa deu à luz um filho de Posídon, ao qual deu o nome de Bizas, que foi criado pela náiade Bízia e terá fundado Bizâncio.
Do século IV em diante, os habitantes apenas se lhe referem como a Pólis. Um milénio volvido, quando os Otomanos a conquistam e a nomeiam Porta da Felicidade, capital da Sublime Porta, o que lhes soa como sendo o seu nome é a expressão grega «εις την πόλιν» [isten'polin], «prá cidade», que se tornou aquele que ainda hoje a identifica: Istanbul. Reza a lenda que se percorre a antiga e célebre Mese, a principal artéria bizantina, quando os passos se encaminham para Aya Sofya, a imponente Santa Sofia, ao longo das avenidas Yeni Çeriler Caddesi e Divan Yolu. E hoje, curiosamente, também os turcos özlem duymak, ou seja, sentirão uma espécie de saudade dos áureos tempos otomanos…
E durante alguns séculos, al‑Usbuna foi uma florescente urbe do extremo ocidental do Império Muçulmano. «E tu, nobre Lisboa, que no mundo / Facilmente das outras és princesa / Tu, a quem obedece o Mar profundo» (Luís Vaz de Camões, Os Lusíadas, III.57.1,2 e 5), a teus pés nem o Tejo é já um rio, nem ainda é sobre o Atlântico que te espraias." […]

RIC, De um livro por acabar… / From a book yet to be finished…

This is a humble homage I pay to our blogger friend Knottyboy, who's right this minute in Istanbul, the lucky guy… Just click in «Turkey Trot» above to access his journey blog.
I wish I could have translated this text, but it would take me far too long a time to do it. Those of you, who trust their translator engines, go ahead! Be my guests!

6 comentários:

André disse...

Mas a foto faz mesmo lembrar Lisboa. Eu acabei de acordar, hoje tive um teste de manhã, não dormi nada a noite passada, mas quando olhei, juro, pensei que se tratasse de Lisboa.
O teu livro trata de quê? Devias "editar" aqui os teus drafts, que a gente lia.

RIC disse...

Faz, não faz, André?... Foi de propósito! Há perspectivas de Istambul que só são diferentes pelas óbvias marcas orientais.
Quanto ao livro, já tinha pensado nessa hipótese... Este provavelmente ficará fora deste espaço, porque tem um significado especial para mim: quero vê-lo em volume, por aí. A história é complexa e variada: passa por uma relação falhada, um périplo por Paris, o tempo da passagem de Lutécia a Paris no século IV, no tempo do imperador Juliano, o Apóstata (que nasceu em Constantinopla...), enfim, os ingredientes da vida e do tempo.
Mas tenho um outro que talvez possa encontrar lugar aqui... Estou seriamente a ponderar esta hipótese... Veremos!
Obrigado pela tua curiosidade e disposição para leitor!
Espero que o teste te tenha corrido bem e desejo-te uma boa nota!
Um abraço e um bom Domingo!

Anónimo disse...

Mesmo estando à espera de ver a luz do dia, já é uma escrita com luz!
Quando nos presenteias com tal livro? :-)

[ Em relação ao meu 'bombástico' endereço electrónico (lol), não precisas ficar roído de tanta inveja. Eu faculto-te.(ok...ok...Sei que fui previsível) ]

Bom Domingo :-)

RIC disse...

Bom dia, Carla!...
Pois é, já é Domingo e só agora consegui aceder ao blog... Também na blogosfera ocorrem fenómenos do Entroncamento...
Obrigado pela «escrita com luz»!
Vou fazer por acabá-lo até ao fim do ano. 2007 será talvez a possibilidade...
Um muito bom Domingo para ti também! :-)

Rui disse...

que inveja do knottyboy...

RIC disse...

Quem confessa o pecado não merece castigo...
Também eu gostaria de andar agora a passear pelas margens do Bósforo... Talvez para o ano...
Um abraço!