Embora não pareça – eu sei –, a Língua Portuguesa continua a ser a rainha deste blog. Pois é… É o «mal» de quem fala várias línguas e quer servir-se de todas ao mesmo tempo para comunicar com um universo alargado de interlocutores. Mas a verdade está à vista: sempre que «sai» um texto em Inglês, Francês ou Alemão, são outros tantos em Português que ficam num qualquer limbo, donde hão‑de sair mais tarde ou mais cedo. Prometo.
E se eu gosto da minha língua! … Ensino‑a – e aprendo‑a – há muitos anos. E à medida que fui aprendendo outras, melhor a fui conhecendo. Sempre mais, sempre melhor. Em qualquer canto do mundo, por mais remoto, há sempre alguém que fala Português, seja com que pronúncia for. E isso é muito reconfortante.
E depois… Depois temos poetas excelentes, grandiosos. Há umas semanas trouxe aqui um belíssimo poema de Vinícius de Moraes. Foi uma pequena homenagem que quis fazer‑lhe. Hoje, enquanto ouvia o excelente álbum «Sou eu», de Simone Bittencourt de Oliveira (quero acreditar que todos a conhecem. Seria tão imperdoável como não saber quem é Amália Rodrigues ou Cármen Miranda!) ocorreu‑me, entre muitas outras coisas, escolher um tema que fosse especial para mim. Bem, tarefa difícil. Quase impossível. Todas as canções me dizem qualquer coisa «especial», por uma ou outra razão. De repente, comecei a ouvir uma que me diz muito. Mesmo muito. Quando Simone começa a cantar, parece que se inicia a projecção de um filme na minha memória: um desfile de personagens – não muitas, apenas algumas – que ao longo de uns quantos anos foram muito importantes para mim – antigos amores...
Antigos amores… Uns, perdidos para sempre, irrecuperáveis, arrumados num canto da memória e só ressuscitados por um excelente poema. Recordações com as quais me é mais ou menos fácil lidar, «apesar dos pesares»… Outros, porém, mais fortes, mais resistentes, que teimam em regressar, quantas vezes nos instantes menos oportunos, nem que seja através de uma suave memória que nem chega a doer. Mas sei que serão presenças constantes na minha vida, ao longo dos anos que me couberem viver.
É verdade. Não devemos – nem podemos – viver de recordações, mas sem elas viver faria muito pouco ou mesmo nenhum sentido, como se a nossa história pessoal fosse um eterno presente inconsequente, desgarrado de tudo e de todos.
Não, prefiro assim! De vez em quando, ao sentir um odor ou ao ouvir uma canção, que leve um valente abanão! Pois é, pode doer fundo, deixar‑me à beira de lágrimas incontroláveis, mas prefiro assim…
Com vocês quero partilhar a ideia das recordações e este fabuloso...
Onde anda você
(Ermano Silva / Vinícius de Moraes)
E por falar em saudade
Onde anda você
Onde andam os seus olhos que a gente não vê
Onde anda esse corpo
Que me deixou morto
De tanto prazer
E por falar em beleza
Onde anda a canção
Que se ouvia na noite
Dos bares de então
Onde a gente ficava
Onde a gente se amava
Em total solidão
Hoje eu saio na noite vazia
Numa boemia sem razão de ser
Na rotina dos bares
Que apesar dos pesares
Me trazem você
E por falar em paixão
Em razão de viver
Você bem que podia me aparecer
Nesses mesmos lugares
Na noite nos bares
Onde anda você?
Que bom seria! … Né?
… E sem que eu pudesse adivinhar, eis que foi grande a minha surpresa ao verificar que este magnífico poema era também do grande Vinícius de Moraes… Há coisas na vida…
(Aos poucos vou-me revelando, como quem vai tirando casquinha após casquinha a uma cebola…)
Com especial dedicatória a –
– Augusto, Carioca, Marcus e Ricardo
sábado, 26 de agosto de 2006
Aos antigos amores...
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14 comentários:
RIC, v. eh sempre tao inspirado!
Muito, muito obrigado, caro Augusto! Não imaginas como essas tuas palavras me emocionam...
É - e vem - do coração!
Um forte abraço!
;-)
Bom, demorei, mas vim.rs
Desculpe a demora. Era pra eu ter passado aqui há umas duas horas, mas eu tive um probleminha básico com a postagem mais recente lá no blog e tava resolvendo agora.
Bom, Ric, em 1º lugar, obrigado pela homenagem!
E você tem razão: o Português é uma língua que se espalhou pelo Mundo inteiro, mesmo não tendo sido tanto quanto o Inglês e o Espanhol. Mas não isso não tem importância.
É claro que o Português se espalhou pelo planeta interio com pronúncias diferentes, concordâncias gramaticais diferentes e, em alguns casos, grafias diferentes também. Mas, em todos esses casos, é a mesma língua, né?
Bom, você faz um trabalho muito importante e muito interessante com o seu blog. Espero que continue assim por muito tempo.
Um grande abraço pra você!
Ric, meu fofo, fiquei emocionado com a sua homenagem!
VC, além de delicado como é sempre, foi uma fofura!
E sim, eu conheço Simone, como não conhecê-la? :D
Grande beijo, meu fofo, e espero que possamos ter um contato mais, se vc quiser, é claro!
Tenho MSN, se quiser, me avise!
Ou me passe o seu por razi_zod@yahoo.com.br
:D
Carioca - Desculpa, não era minha intenção apressar-te. Queria apenas deixar a informação, já que é fim-de-semana.
Ainda bem que gostaste! Eu adorei escrevê-lo! Desde criança que tenho uma forte ligação ao Brasil (Rio e S. Paulo), porque tenho aí família. Nunca atravessei o Atlântico Sul, infelizmente, mas sinto O brasil muito perto... Tenho aqui amigos brasileiros e tenho um amor muito especial à vossa música, que é das melhores do mundo!
Adoro todos os grandes cantores e cantoras de MPB! Desde os anos 70!
Neste mesmo blog hei-de falar de tudo isso também...
E, seja como for, é em Português que nos entendemos, e isso é muito bom! Um abração! Muito obrigado pelas tuas gentis palavras!
RICARDO - Muito obrigado pelos teus «carinhos»! Fico muito feliz por saber que há muitos mais admiradores de Simone, de Vinícius, de MPB, por esse mundo fora! Assim ele até parece mais pequeno, e milhares de km estão apenas à distância de uma tecla!...
Prepara-te para receber um email! Ou ainda hoje (Sábado) ou amanhã.
Tudo do melhor para ti, Ricardo!
Fica bem, aí na Cidade Maravilhosa!
(Enquanto escrevo isto passam-me pelos olhos belas imagens do Rio que conheço desde criança...)
Beijos e abraços!
Há almas que têm
as dores secretas
as portas abertas
sempre p'ra dor
há almas que têm
juízo e vontades
alguma bondade
e algum amor
Há almas que têm
espaços vazios
amores vadios
restos de emoção
(..trá..lá..lá..)
Alma by Sueli Costa e Abel Silva
Quando li, " o excelente albúm,«Sou eu» ", veio-me logo à lembrança , «Alma»...
Ric, permite-me dizer, por vários razões, gostei particularmente deste post. Obrigada!
Sorriso.
E eu fico por isso muito feliz!
Obrigado pela letra de «Alma»!
Obrigado pela elegância!
Impulsivamente, sorrio-te.
Bom Domingo!
Antes impulsivamente...
Bom Domingo também para ti.
Impulsivo, mas de vontade. (Note-se)
:-)
Meu GRANDE amigo do além-mar! hehheh
:-)
Adorei, e muito, a sua homenagem!
Conforme eu ia lendo conseguiu me arrancar um sorrindo. Foi muito legal mesmo!
Vinícius foi um homem muito especial. Foi um homem que sabia viver, e colocar as coisas boas da vida em versos e canções. Sempre acreditei que por melhor que fosse a tradução de seus versos para outras línguas, nunca conseguiríamos passar a mesma emoção.
O português tem charme, tem swing, tem Rio de Janeiro, tem São Paulo, tem Lisboa... O portugês é uma língua que encanta onde quer que seja falada. Como explicar "saudades" para outra pessoa que não fale português?
Por essas e outras que tenho um amigo nos EUA que não fala nada de português, mas seu maior sonho é aprender a falar a nossa língua. Engraçado isso né?
Um grande abraço paulistano.
;-)
Saudações lisboetas, querido Marcus! Ainda bem que gostaste!
Excelente o teu comentário! Vinícius foi, sem dúvida, um grande homem. Enquanto lia as tuas palavras ia-me lembrando de um espectáculo que a nossa TV transmitiu há muitos anos (era eu muito jovem), em que ele cantava com outros, sentado a uma mesinha e bebendo o seu whisky do princípio até ao fim. E cantando fabulosamente, com uma rara emoção! Até me arrepio só de me lembrar...
E Simone é aquela voz! (Estou a ouvi-la agora mesmo!) Adoro-a!
Obrigado, meu caro!
Um abraço apertado de Lisboa!
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