quinta-feira, 31 de maio de 2007

I. Da Língua Portuguesa (8)


"Ein jeder, weil er spricht, glaubt, auch über die Sprache sprechen zu können."

Qualquer um, porque fala, julga que também sabe falar sobre a língua.

Johann Wolfgang von Goethe

Dia da Língua Portuguesa na UNESCO

«As notícias dão conta da 2.ª Comemoração do Dia da Língua Portuguesa na UNESCO. Esta iniciativa resulta dos laços de cooperação que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e a UNESCO mantêm desde 2000 nas áreas da Educação, Comunicação, Cultura, Ciência e Tecnologia. Esperamos que esta comemoração se repita por muitos e muitos anos.

Além das respostas em destaque, outras completam esta actualização, retomando tópicos conhecidos:
- o significado da variação de género em nomes não animados (
saco vs. saca);
- o uso de variantes populares como
arrebentar, amandar;
- a atestação de palavras (por exemplo,
convivial, societal);
- a morfologia de verbos irregulares como
dizer;
- as funções sintácticas do pronome
que.

No Pelourinho (espaço do «Ciberdúvidas» onde casos particulares e/ou especiais são analisados e esclarecidos), Maria Regina Rocha relembra que a regência do adjectivo
confiante é feita com a preposição em

in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Nem de propósito! Depois da minha ácida diatribe de ontem contra o descalabro em que se tem vindo a atolar a educação portuguesa, nomeadamente a escolar, nada me poderia reconfortar mais do que tomar conhecimento desta iniciativa da CPLP e da UNESCO.
Bem hajam todos aqueles que pugnam por um uso mais correcto e com mais propriedade da nossa língua!
Custa tão pouco questionarmo-nos sobre o que dizemos, escrevemos e ouvimos, termos dúvidas e procurarmos esclarecer-nos a fim de evitar aqueles erros crassos que abundam – e proliferam sem cessar! – nos media.

Aproveitando o ensejo e num registo agora mais pessoal, faço muito gosto em esclarecer alguns amigos bloguistas portugueses que já por várias vezes me «lançaram algumas indirectas» pelo facto de haver aqui «estrangeirice» além da conta.

Em primeiro lugar, tal facto prende-se com a formação que recebi desde jovem. Sou assim, gosto de ser assim e é provável que assim venha a morrer.

Depois, desde cedo verifiquei que a aprendizagem de (mais) uma língua conduz invariavelmente a um domínio mais seguro e a um conhecimento mais sedimentado da língua materna. Ou seja, é por esta razão que a epígrafe desta rubrica é em Alemão. Mas poderia muito bem ser em Latim, pois Francis Bacon disse «Quot linguas calles, tot homines vales», i. e., «saber línguas é ser várias vezes homem».

Não há pois qualquer razão válida para que se pense que valorizo menos, ou que mesmo desprezo, a minha língua materna. Ela é inquestionavelmente a minha melhor Pátria!

RIC

10 comentários:

Oz disse...

Estou perfeitamente de acordo contigo, o domínio de outras línguas, para além da materna, em nada subtrai, apenas acrescenta (e muito!).
Abraço.

RIC disse...

Olá Oz!
Muito obrigado! Ainda que haja quem não pense assim, estou firmemente convicto de que, se hoje sei o que sei de Português (vale pelo que vale, naturalmente!) é também graças aos percursos que fui fazendo por outras línguas.
Temos de tratar melhor esta nossa Pátria!
Abraço! :-)

Anónimo disse...

Viva a língua portuguesa!
Abraço

RIC disse...

Olá Bernardo!
Viva!!!

«Floreça, fale, cante, ouça-se e viva
A Portuguesa língua! E já onde for,
Senhora vá de si, soberba e altiva.

Se tèqui esteve baixa e sem louvor,
Culpa é dos que a mal exercitaram:
Esquecimento nosso e desamor.»

António Ferreira, século XVI

Um abraço amigo! :-)

Anónimo disse...

Claro que a tua pátria será sempre a língua portuguesa, por mais que te exprimas - e bem - com outros idiomas.
Por muito que "burro velho não aprenda línguas", quanto mais as dominarmos, mas capacidade temos de comunicar - que é para isso que também fomos feitos!
Mas a língua não é morta, ou seja, tem de evoluir (sabe-se lá para onde, mas isso é outra conversa...). Espero que os puristas não se ofendam, mas evolução/criação dos vocábulos e a adopção de novas palavras enriquece a nossa língua, tornado-a mais expedita, definida e esclarecedora (não, não estou a referir-me ao idioma dos sms's da nossa catraiada). Acima de tudo, o que é necessário é que os erros contem nos exercícios e nas provas escolares, sejam elas de aferição ou não - é que em línguas não basta "saber a ideia", é preciso que mais tarde o seu fraco uso não nos envergonhe de escrever um recado à padeira.
Vou ficar por aqui, porque acho que já estou a ser fastidioso e a minha verborreia pode ser interpretada como pedagogia de pacotilha, mas olha, quando se fala de língua, não há ninguém que fique mudo - quanto mais não seja, fala de cor, rsrsrssss.

RIC disse...

Olá João M.!
Só tenho pena que não tenhas prosseguido! Se a minha experiência de mais de 20 anos não me engana, as únicas «pedagogias de pacotilha» que conheci são as que saíam pela porta do cavalo da 24 de Julho e da 5 de Outubro, «if you know what I mean»...
Purista não sou, e ao contrário de vários/as colegas considero que a vitalidade do Português do Brasil é francamente surpreendente! Nós, a esse nível, somos mais atadinhos.
Uma língua quer-se também dinâmica, capaz de acompanhar os tempos e de servir para aquilo que existe: para interpretar o mundo.
Quanto às «ideias sem palavras» é mais uma falácia propalada pela ignorância: linguagem e pensamento são duas faces da mesma moeda; não há uma ideia sem palavra que a fixe, nem palavra que não «contenha» uma ideia. E isto já é bem velho... Creio bem que os gregos o perceberam na perfeição! É por isso que agora - que sou «burro velho» (rsrsrs!!!) - estou a aprender nos tempos livres Grego Clássico! E já estou fascinado e apaixonado! Já sabia o alfabeto e algumas coisinhas que um professor de Português deve necessariamente saber, mas agora são os azuis-ferrete dos céus da Ática que se me revelam em todo o seu esplendor!...
Pois... Já disse aqui que sou o maluquinho das línguas... Que hei-de eu fazer?...
Uma última sobre essa notícia chocante de os erros de ortografia não contarem para a classificação das provas - de Português! - de aferição! Bem, se não contarem neste e em casos semelhantes, contarão quando e para quê?! O que é que esta geração que está à frente dos destinos do país pensará que está a fazer?! Não é isto mais um sinal do repelente nacional-porreirismo que só tem feito me...? Não digo mais!
Obrigado, meu caro!
Um abraço amigo! :-)

Tongzhi disse...

Cada um escreve na língua que quer. Já falar... não te estou a ver a falar em latim. A propósito, latim é uma língua morta ou viva? Se é morta eu depois digo o que lhe faço ;)
Um dia destes ainda escrevo lá no meu canto tudo em linguagem matemática. Sempre quero ver se depois também vais querer prender lololo
Eu na outra encarnação devo ter sido ferreiro... uma no cravo outra na ferradura!

RIC disse...

Olá Imperador!
Eis que ele chega cheio do seu absolutérrimo poder! Sede bem-vindo, senhor!
E desbundado vem chegando, dizendo o que lhe muito bem apraz! Pois, tu noutras encarnações já terás sido muita coisa... Vais-te revelando qual caleidoscópio...

É claro que eu não falo Latim, mas nada obsta a que se aprenda a falar em Latim, tal qual como se fala em qualquer outra. Até é possível falar na variante mais clássica, praticamente só usada na escrita literária. Assim, morta não é. Há na Finlândia quem o fale correntemente. Espantoso, não é?
E quanto ao desafio matemático, fico à espera, mas sentadinho que é para não me cansar demais... Rsrsrs! E para que conste, ao contrário do que possa transparecer das tuas palavras, nada tenho que ver com bófias nenhumas, 'tá? A não ser... Bem, mas isso é outro departamento...
Um abraço! :-)

Paulo José Vieira disse...

Olá... Teu site tem aspectos relacionados ao meu.. Se você se interessar, podemos trocar links: eu indico o seu e você indica o meu: http://humoral.blogspot.com ... Se puder ser assim, mande-me um email, informando de novo o endereço do teu blog: paulojosevieira@gmail.com

RIC disse...

Olá Paulo!
Obrigado pela atenção!
Quanto ao «link», farás como entenderes.
É política minha na blogosfera não negociar quaisquer «links»: cada um é livre de «linkar» quem muito bem entender.
Felicidades!
Abraço! :-)