Bernard Fauconnier
«Un spectre hante la conscience moderne, la bêtise.
Le mot, attesté au Moyen Âge, disparaît en tant que tel à l’âge classique pour resurgir au XVIIIe siècle, sous la plume de Diderot.
Bêtise, sottise, crétinerie, connerie.
La bêtise remonte à la plus haute antiquité, sans doute, comme eût dit Alexandre Vialatte, mais quiconque tente aujourd’hui encore d’enfermer la bête immonde en un concept opératoire, sinon définitif, se casse les dents. En témoigne, récemment, Stupidity, un essai de la philosophe américaine post-derridienne Avital Ronell, qui de déconstructions en références tournoyantes, semble mordiller les mollets de son sujet sans jamais lui régler son compte.
Mais peut-il en être autrement? Oui, la bêtise est un monstre moderne, rusé, qui résiste à toute forme de théorisation, même si les meilleurs qui s’y sont essayés, à l’instar de Robert Musil, doivent rendre les armes: "C’est que j’ignore ce qu’elle est, note-t-il non sans ironie. Je n’ai pas découvert de théorie de la bêtise à l’aide de laquelle je pourrais entreprendre de sauver le monde."
Un monstre multiforme, réversible, insaisissable, d’une infinie plasticité, tout étant relatif et réciproquement. Un monstre aussi résistant qu’un virus, et dont le vaccin reste à ce jour inconnu. Pas un écrivain, pas un penseur digne de ce nom qui, depuis l’aube des Temps modernes, n’ait éprouvé la nécessité de se confronter à cette Chose, aussi terrifiante, obsédante et grand-guignolesque que la pieuvre du capitaine Nemo.»
La Bêtise, escultura em madeira de Jean Escaffre (1985)
Um espectro assombra a consciência moderna: a estupidez.
A palavra, atestada na Idade Média, desaparece como tal na época clássica para reaparecer no século XVIII, sob a pena de Diderot.
Estupidez, estultícia, idiotia, burrice.
A estupidez remonta à mais alta antiguidade, sem dúvida, como disse Alexandre Vialatte, mas quem quer que tente ainda hoje encerrar o animal imundo num conceito operacional, mas não definitivo, quebra os dentes. É testemunha disso, recentemente, Stupidity, um ensaio da filósofa americana pós-Derrida Avital Ronell, que de desconstruções em referências rodopiantes parece mordiscar os tornozelos ao assunto sem jamais acertar contas com ele.
Mas pode ser de outro modo? Sim, a estupidez é um monstro moderno, astuto, que se opõe a qualquer forma de teorização, mesmo que os melhores que o tentaram, a exemplo de Robert Musil, tenham de depor as armas: "É que ignoro o que ela é, nota não sem ironia. Não descobri teoria da estupidez com a ajuda da qual pudesse tentar salvar o mundo."
Um monstro multiforme, reversível, intangível, de uma infinita plasticidade, sendo todo ele relativo e vice-versa. Um monstro tão resistente como um vírus, cuja vacina continua a ser até hoje desconhecida. Não houve um escritor, um pensador digno deste nome que, desde a aurora dos tempos modernos, não tenha sentido a necessidade de se confrontar com esta Coisa tão assustadora, obsessiva e teatral como o polvo do capitão Nemo.
• Matthijs van Boxsel, The Encyclopedia of Stupidity, The University of Chicago Press, 2005
Matthijs van Boxsel (born in 1957) is a Dutch literary historian who believes that no one is intelligent enough to understand their own stupidity. In "De Encyclopedie van de Domheid" (The Encyclopaedia of Stupidity) – 1986-2006 – he shows how stupidity manifests itself in all areas, in everyone, at all times, proposing that stupidity is the foundation of our civilization.
In short sections with such titles as "The Blunderers' Club", "Fools in Hell", "Genealogy of Idiots", and "The Aesthetics of the Empty Gesture", stupidity is analysed on the basis of fairy tales, cartoons, triumphal arches, garden architecture, Baroque ceilings, jokes, flimsy excuses and science fiction. But Van Boxsel wants to do more than just assemble a "shadow cabinet" of wisdom; he tries to fathom the logic of this opposite world.
Where do understanding and intelligence begin and end? He examines mythic fools such as Cyclops and King Midas, cities such as Gotham, archetypes including the dumb blonde, and traditionally stupid animals such as the goose, the donkey and the headless chicken.
Van Boxsel posits that stupidity is a condition for intelligence, that blunders stimulate progress, that failure is the basis for success.
In this erudite and witty book he maintains that our culture is the product of a series of failed attempts to comprehend stupidity.
Veja aqui o "trailer" de um documentário norte-americano intitulado "Stupidity". Esperemos que possamos vê-lo em breve.
Em tempos de tão grandes avanços em termos de educação, instrução e formação – ao longo de toda a vida! – e para uma considerável maioria de cidadãos do mundo ocidental, é no mínimo com justificada apreensão que assistimos às mais descabeladas manifestações de estupidez, nos mais variados sectores da vida contemporânea: económico, social, político, cultural, etc.E o pior é ainda o que sucede quando levamos todos – por razões que só Deus discernirá… – roda de estúpidos…
Indubitavelmente, a estupidez tornou-se um monstro moderno. Será talvez a nossa quota-parte na herança da mítica hidra grega…
RIC
14 comentários:
A estupidez é pior do que o polvo das 20 mil léguas: é a turma de canibais (ela toda!) da Papuásia que saltaram para o convés do Nautilus. A estupidez despe um homem de lucidez, coze-o em forno lento, adiciona-lhe uns tiques aromáticos de cultura e serve-o numa redução de cosmopolitismo, acompanhado de preconceitos à moda da casa (leia-se politicamente correctos).
De moderna, só tem os upgrades!
Bom fim-de-semana. :)
Olá João M.!
As metáforas culinárias poderiam tornar o prato menos intragável, mas a verdade é que os maus condimentos estão lá todos... Nada a fazer...
Só me parece que a estúpidez pode ser considerada moderna num único aspecto: auto-reproduz-se com a maior das facilidades e autopromove-se com o maior descaramento! De resto, será tão antiga quanto o próprio homem...
Um abraço!
Bom fim-de-semana para ti também, meu caro! :-)
No meu ver, a estupidez, está associada entre outras coisas ao egoísmo e a má formação...
Abraço e bom fim-de-semana.
Aproveitando a deixa culinária do Catatau:
A estupidez é um prato que se serve frio, ou é como aqueles Panikes, sempre quentinhos e prontos a servir???
Olha, sabes o que me apetecia agora?? Uma cervejazinha estupidamente gelada...
Bom fim de semana.
"... blunders stimulate progress, that failure is the basis for success."
This sounds remarkably like the current Bush administration!
Fortunately, the American public is beginning to understand stupidity... which is why we will soon be calling for the Guillotine!
Tenha um otimo fim de semana!
(is that correct?)
Abraço
DON~
Olá Lampejo!
Essa é sem dúvida uma das manifestações generalizadas de estupidez, nos dias de hoje. É como se houvesse também uma «cultura da estupidez» na nossa sociedade. O holandês tem razão!
Um abraço!
Bom fim-de-semana para ti também!
:-)
Olá Teddy Bear!
Eu diria que a estupidez está sempre a ser servida a quente. Se assim não fosse, havia algum tempo para pensar um bocadinho e não fazer/dizer asneira.
Também gosto de cerveja bem gelada! Mas às 10 da noite não estarias ainda a fazer a digestão? Cuidado com os apetites súbitos!
Bom fim-de-semana também para ti!
Um abraço! :-)
Hello dear Don!
Quite right, dear friend, I think so too! I guess it took the Americans in general quite a long time to realize they've been being ruled by an impossible moron. Now it's high time to face the fact that he must go a.s.a.p., otherwise darker days will come.
Are you implying by «guillotine» that an America revolution is on its way? How great that would be! And we owe it to democracy after all! Count me in please! I never thought one day I would think of democracy as some kind of obscenity... But I do!... That's stupidity's fault, I'm sure!
And yes, dear Don, that wish in Portuguese is correct! Very well indeed! It has a sweet taste from Brazil, which I like very much!
Um excelente fim-de-semana para ti também!
Um abraço! :-)
É curioso. fizeste-me relembrar, na minha adolescência, havia uns "inquéritos" que circulavam entre amigos, com perguntas meio parvas, tipo " o que gosta mais de..." ou "qual é a coisa mais...", estás a ver o estilo!
Pois uma das questões qua aparecia em todos era "de que gosta menos?", e a minha resposta era invariàvelmente a mesma, e numa única palavra: a estupidez!!!
É o pior defeito que se pode ter, pois é o pai de todos os outros. Nunca poderia ser amigo de uma pessoa estúpida.
É complicado aceitar isto da minha parte, pois considero-me bastante tolerante, mas é a realidade, nua e crua: não consigo tolerar a estupidez.
Perdoa a longura do comentário e o seu extremismo.
Bom fim de semana.
Abraço.
Olá João C.!
Enquanto característica que mexe directamente comigo, não sou nada «tolerante». A única coisa de que sou capaz sem grandes dificuldades é manter o respeito pelas pessoas estúpidas. É uma questão de princípio. Quanto à tolerância já sabes o que penso. Não vou por aí.
Esses inquéritos estiveram na moda anos e anos a fio! Não havia adolescente que se presasse que não tivesse um caderninho com essas consultas aos amigos. Onde isso já não vai!...
Um excelente fim-de-semana! (E já é sábado!!! Uáu!!! Está a rebentar por aí! Rsrsrs!)
Abraço! :-)
Oi, Ric.
Concordo com o que você disse. Mas eu substituiria palavra ´estupidez` pela palavra ´futilidade`. Até porque a futilidade é o pior tipo de estupidez, né?rs
Ah, você recebeu o meu e-mail do Dia do Amigo?
Se não recebeu, feliz Dia do Amigo pra você.
Abração!
Olá Leo!
Muito obrigado, caro amigo, pelo teu e-mail! Gostei muitíssimo! Uma lindíssima história exemplar que, creio, pouca gente conhecerá! Eu não conhecia!
A futilidade é um «caso particular» da estupidez/parvoíce, mas não será o pior, quanto a mim. Não creio que a futilidade possa causar grandes desastres, ao passo que a estpidez/imbecilidade pode ser calamitosa...
Um óptimo fim-de-semana para ti!
Abração! :-)
In my youth I toyed with the idea of writing "An Encyclopedia of Human Stupidity" - and now it turns out someone else had the same idea.
My own limited "philosophy of stupidity" is that the price of being able to think at all is being able to think badly.
The price of being able to recognise patterns in nature is to impose patterns that aren't there - as when a series of coincidences is taken to indicate a conspiracy.
The price of being able to create metaphors is to be misled by them - which I think Freud was when he described all drives in sexual terms.
And the price of being able to ask profound philosophical questions about the universe and life is...to be able to invent religion.
In short: The price of the potential for intelligence is the potential for stupidity.
Or maybe I'm being stupid.
Hello dear Kapitano!
Once again brilliant, for a change! As always, by the way.
Thank you so very much for sharing your thoughts with me/us! That's most kind of you indeed!
Until quite recently I knew nothing about this Mr./Prof. van Boxsel. But I know the Dutch well enough to know this line of research is most welcome at the University of Amsterdam. When he started his encyclopaedia you were still a boy, I presume. But you could have entered his team of researchers...
I'm with you as far as Freud and religion are concerned. Quite right! And your conclusion is the Dutchman's thesis, I guess.
No, you're not being stupid at all! Not to me you aren't!
Best wishes, dear Kapitano! :-)
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